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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

2.10.14

Amélia e a nova mídia

2/out/2014, 8h56min

Amélia e a nova mídia

Estimados sulvinteumenses, cá estamos, diante de mais um espetáculo da democracia, o momento em que cada um tira o pó do seu título de eleitor e vai lá e crau, cumpre com o seu dever cívico.

E, ao menos no nosso estimado Rio Grande do Sul, a eleição pode ser a primeira no Brasil a ser afetada, ou decidida pela nova mídia, aqui brilhantemente representada pelo meu, o seu, o nosso estimado Sul21. Ao que se pode perceber, desde a minha mansão em um bairro nobre de São Paulo, nenhum outro fato mais marcante ocorreu que explique o tombo da nossa estimada candidata pneumática, que não a publicação de sua história como CC do ex-marido no Congresso, onde praticava a nobre arte de estar em nenhum lugar ao mesmo tempo, recebendo um polpudo salário para isso.

Candidatos que posam de vestais sofrem quando cai o manto, não é mesmo? E nada disso teria acontecido se não houvesse uma nova imprensa, com outros alinhamentos, com outros espaços e credibilidade para dizer e impactar. Esse é o maravilhoso mundo da imprensa pós-industrial, caros leitores.

Eu sempre defendi aqui nesse nobre espaço a tese de que era hora de a esquerda parar de chorar pitanga e reclamar do tal e inventado PIG, e ir lá criar os seus veículos. Cá estamos, cá vivemos. Muito melhor do que antes, não parece a todos?

Do lado de cá, existe um veículo, do lado daí, existem leitores, e a massa crítica atingida parece ser suficiente para alterar a programação que o lado de lá sempre fez e sempre conduziu porque podia. Não pode mais, e essa é a marca dos nossos tempos.

A candidata dos bispos, aka Marina Silva, também tentou se valer do sistema antigo, das manchetes construtoras de realidades de isopor, e também fraquejou diante das novas formas de construção de estados de coisas. Ela vai lá e fala, a VEJA vai lá e propaga, as redes sociais vêm e acabam com a festa. Um ator americano faz um vídeo de apoio a ela, descobre pelo tuíter que a moça não gosta que os gays tenham direitos constitucionais, retira o apoio, a atmosfera tuiteira entra em efervescência, o mundo que interessa fica sabendo e reage. Bye, bye, Marina.

Hollywood descobriu isso há algum tempo. Eles gastam milhões divulgando o blockbuster mais recente. O público cai na esparrela e vai assistir. De dentro da sala, nos primeiros minutos, começam a teclar dizendo que o filme é uma solene droga, e pimba, o poder do marketing se esfarela. Assim andamos.

Na eleição americana de 2012, um vídeo feito em um smartphone, mostrando o candidato republicano espalhando maldades sobre o povinho americano acabou com uma campanha bilionária da direita. O vídeo não foi divulgado nas emissoras de tevê, mas no blog Mother Jones, e a casa caiu para Mitt Romney. Em 2007, na primeira eleição de Obama, o Huffington Post foi capaz de enfrentar toda a Fox News e sua fábrica de maluquices de direita. Ali a indústria descobriu que era praticamente impotente na luta com a pós-indústria.

Duvido que a Amélia tenha anotado ou compreendido a lição.

O que você, caro leitor, você, outro caro leitor, e o senhor aqui ao lado precisam entender, é que boa parte dos veículos que hoje estão por aí vão desaparecer em pouco tempo. Hoje mesmo o estimado New York Times reduziu sua equipe, assim como todos os demais jornais do mundo, exceção, taaalvez, do The Guardian, que deve ser o veículo tradicional que melhor se move nos novos tempos. A imprensa que a gente conhece está sumindo e vai sumir. O que vem depois, não sabemos, e nada garante que seja melhor. Povo passa a vida berrando contra a imprensa burguesa e de repente a igreja Universal compra a Folha. Melhor?

O que pode e deve ser feito é o que está sendo feito aqui mesmo. A criação de novos veículos, surgidos sob uma nova lógica, produzindo, processando, traduzindo a comunicação para um universo de pessoas cheias de informação e órfãs de significados. É importante compreender que não é na ausência dos antigos, mas na construção dos novos que está a chave do sucesso. Perfilzinho no Facebook não resolve a vida. Criar um anti-FB resolve, ou ajuda. Precisamos de muito mais ainda, por ser inventado.

O que vem ainda não chegou, está vindo. Mas, felizmente, parte já chegou, e bem na hora de estragar a festa de Amélia e associados. Com isso, já estamos justificados, e, o melhor é saber que a festa mal começou.

E ademã, e vamos em frente.

Marcelo Carneiro da Cunha é escritor.


http://www.sul21.com.br/jornal/amelia-e-a-nova-midia/


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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz