31/08/2014 - Copyleft
Na falta de melhor opção, parte da "direita móvel" brasileira vem cultivando uma miragem chamada Marina Silva. À sua sombra viceja o acalentado desprezo pela política, manifesto neste vago desejo, transformado em promessa imprecisa, de "governar fora das alianças". O que isto quer dizer ninguém sabe, talvez nem mesmo a própria Marina. Falo em "direita móvel" para caracterizar a direita de vocação predominentemente rentista, que pode tanto animar-se com Aécio, como já se animou no passado, com Alckmin e Serra, em contraponto à "direita imóvel", como são por exemplo, os saudosos da ditadura militar, os membros da bancada ruralista, para quem qualquer coisa que não seja Ronaldo Caiado é intragável.
Mas vai ser impossível governar sem alianças. E o que se vislumbra, no momento, é que a candidatura de Marina – que se lança internacionalmente como a possível primeira mandatária "verde" no mundo – vai na direção de atrelar novamente o país ao que de mais recessivo e depressivo há no mundo em matéria de economia e política econômica.
O panorama internacional das grandes economias mundias é assustador. É verdade que nem mesmo os BRICS escapam desta sina, com a estagnação da economia russa e a diminuição dos créditos e dos investimentos na China, e a crise energética na Índia. O Japão vai mal, e já há muito tempo.
Mas o lado mais desastroso desta situação está na Europa Continental, com a recessão "austera" atingindo agora de frente e de vez, suas maiores economias: França, Itália e mesmo a gigante Alemanha. Nos Estados Unidos a situação melhorou um pouco, mas as incertezas permanecem quanto ao futuro. E o que assoma neste futuro não é nada agradável, com as conturbações que se propagam desde o confronto na Ucrânia, tanto do ponto vista militar quanto do político e do econômico.
É dentro desta moldura – em que a "coligação ocidental" está mais para Titanic do que para Arca de Noé – que a candidatura de Marina e sua programação acenam com uma desaceleração da integração latino-americana, da diversificação da agenda internacional brasileira, da construção progressiva e progressista da nossa autonomia energética podendo alavancar, inclusive, parte das economias sulamericanas. De quebra, apontam para a reatrelação de nossa presença mundial às combalidas carroças norte-americana e europeia.
Os riscos desastrosos de tal atitude são de grande monta, e inevitáveis. À desmontagem interna das políticas sociais – elogiadas no mundo inteiro – que seu programa prevê implicitamente se somará uma perda irremediável de credibilidade internacional, ainda que tudo isto possa ser embrulhado no papel crepom dos elogios que começarão a se derramar desde a mídia que catapulta os princípios da City londrina, da Wall Street norte-americana e do novo Consenso de Bruxelas/Frankfurt/Berlim que governa o desgoverno europeu. O Brasil voltaria ao seu papel de país de segunda ordem e de segunda mão, de onde nunca deveria ter saído.
Os custos sociais e políticos de tais retrocessos também serão incalculáveis. Porque aquela "direita móvel" não deseja apenas "corrigir os rumos" da economia e da política brasileiras.
Querem mesmo fazer retroceder o relógio da história, montando um plano que, a começar pela desvalorização do salário mínimo, vai trazer inevitavelmente uma contenção do poder aquisititivo da maioria da população – exatamente como se faz hoje na Europa, por exemplo. Quando isto atingir a rede de proteção social que vem se montando na Brasil, rede que vai desde as políticas de trasnferência de renda até os subsídios para alvancar setores econômicos, o desmonte poderá – deverá, na verdade – provocar um terremoto social de consequências imprevisíveis.
A orgia fincanceira dominará as políticas do tal Banco Central "independente", enquanto o funeral das políticas sociais votará a colocar o Brasil na condição de órfão de si mesmo. E na frente internacional o país se tornará o sócio menor (de idade) das políticas recessivas do desastre ocidental. A "direita móvel" não hesitará em louvar Marina enquanto ela capitanear esta passagem à catástrofe. Mas também não hesitará em neutralizá-la ou até removê-la, se considerar que seu "fundamentalismo ambientalista" irá atrapalhar seus planos de ganhar poder e renda graças à administração da catástrofe. Portanto, até a própria Marina poderá se tornar a vítima da "miragem Marina".
http://www.cartamaior.com.br/?%2FColuna%2FA-miragem-chamada-Marina%2F31717
A miragem chamada Marina |
A candidatura de Marina vai na direção de atrelar novamente o país ao que de mais recessivo e depressivo há no mundo em matéria de economia e política econômica |
Na falta de melhor opção, parte da "direita móvel" brasileira vem cultivando uma miragem chamada Marina Silva. À sua sombra viceja o acalentado desprezo pela política, manifesto neste vago desejo, transformado em promessa imprecisa, de "governar fora das alianças". O que isto quer dizer ninguém sabe, talvez nem mesmo a própria Marina. Falo em "direita móvel" para caracterizar a direita de vocação predominentemente rentista, que pode tanto animar-se com Aécio, como já se animou no passado, com Alckmin e Serra, em contraponto à "direita imóvel", como são por exemplo, os saudosos da ditadura militar, os membros da bancada ruralista, para quem qualquer coisa que não seja Ronaldo Caiado é intragável.
Mas vai ser impossível governar sem alianças. E o que se vislumbra, no momento, é que a candidatura de Marina – que se lança internacionalmente como a possível primeira mandatária "verde" no mundo – vai na direção de atrelar novamente o país ao que de mais recessivo e depressivo há no mundo em matéria de economia e política econômica.
O panorama internacional das grandes economias mundias é assustador. É verdade que nem mesmo os BRICS escapam desta sina, com a estagnação da economia russa e a diminuição dos créditos e dos investimentos na China, e a crise energética na Índia. O Japão vai mal, e já há muito tempo.
Mas o lado mais desastroso desta situação está na Europa Continental, com a recessão "austera" atingindo agora de frente e de vez, suas maiores economias: França, Itália e mesmo a gigante Alemanha. Nos Estados Unidos a situação melhorou um pouco, mas as incertezas permanecem quanto ao futuro. E o que assoma neste futuro não é nada agradável, com as conturbações que se propagam desde o confronto na Ucrânia, tanto do ponto vista militar quanto do político e do econômico.
É dentro desta moldura – em que a "coligação ocidental" está mais para Titanic do que para Arca de Noé – que a candidatura de Marina e sua programação acenam com uma desaceleração da integração latino-americana, da diversificação da agenda internacional brasileira, da construção progressiva e progressista da nossa autonomia energética podendo alavancar, inclusive, parte das economias sulamericanas. De quebra, apontam para a reatrelação de nossa presença mundial às combalidas carroças norte-americana e europeia.
Os riscos desastrosos de tal atitude são de grande monta, e inevitáveis. À desmontagem interna das políticas sociais – elogiadas no mundo inteiro – que seu programa prevê implicitamente se somará uma perda irremediável de credibilidade internacional, ainda que tudo isto possa ser embrulhado no papel crepom dos elogios que começarão a se derramar desde a mídia que catapulta os princípios da City londrina, da Wall Street norte-americana e do novo Consenso de Bruxelas/Frankfurt/Berlim que governa o desgoverno europeu. O Brasil voltaria ao seu papel de país de segunda ordem e de segunda mão, de onde nunca deveria ter saído.
Os custos sociais e políticos de tais retrocessos também serão incalculáveis. Porque aquela "direita móvel" não deseja apenas "corrigir os rumos" da economia e da política brasileiras.
Querem mesmo fazer retroceder o relógio da história, montando um plano que, a começar pela desvalorização do salário mínimo, vai trazer inevitavelmente uma contenção do poder aquisititivo da maioria da população – exatamente como se faz hoje na Europa, por exemplo. Quando isto atingir a rede de proteção social que vem se montando na Brasil, rede que vai desde as políticas de trasnferência de renda até os subsídios para alvancar setores econômicos, o desmonte poderá – deverá, na verdade – provocar um terremoto social de consequências imprevisíveis.
A orgia fincanceira dominará as políticas do tal Banco Central "independente", enquanto o funeral das políticas sociais votará a colocar o Brasil na condição de órfão de si mesmo. E na frente internacional o país se tornará o sócio menor (de idade) das políticas recessivas do desastre ocidental. A "direita móvel" não hesitará em louvar Marina enquanto ela capitanear esta passagem à catástrofe. Mas também não hesitará em neutralizá-la ou até removê-la, se considerar que seu "fundamentalismo ambientalista" irá atrapalhar seus planos de ganhar poder e renda graças à administração da catástrofe. Portanto, até a própria Marina poderá se tornar a vítima da "miragem Marina".
http://www.cartamaior.com.br/?%2FColuna%2FA-miragem-chamada-Marina%2F31717
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