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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

26.9.14

A última façanha do Rio Grande

A última façanha do Rio Grande

setembro 26, 2014

lasier-ana-amelia

Ayrton Centeno (*)

Quando a fumaça dos últimos braseiros se contorce no ar farroupilha e o aroma da picanha ainda alegra nossos narizes, o Rio Grande velho de guerra ajeita as pilchas disposto a perpetrar a mais memorável de suas façanhas. Que não servirá, porém, de modelo a toda terra. A proeza que o Continente de São Pedro urde nestes dias que se aproximam da hora do voto significará, se efetivada, o derradeiro baque na sua reputação cantada em prosa e verso de "mais politizado Estado da federação". Abrirá mão de sua história para demandar o posto inverso, o do rincão mais despolitizado do Brasil, objeto do espanto e da chacota nacional.

Cento e setenta e nove anos passados do primeiro tropel dos farrapos, o Estado que gestou ou cultivou legendas de tutano, como o Partido Republicano Riograndense, o Partido Libertador e o Partido Trabalhista Brasileiro, acolherou-se num namorisco exótico, matutando catapultar ao poder dois personagens sem vida partidária. São criações artificiais produzidas e projetadas pelo canhão midiático da RBS, única sigla que comove seus corações. São ficções. São candidatos de plástico.

É de se perguntar o que faz no PDT a queixada mussoliniana de Lasier Martins, um neoliberal empedernido que elevou o endeusamento do governo Britto às raias do grotesco. Logo o PDT que, em tempos que não voltam mais, orgulhava-se de seu comprometimento com os despossuídos e que, agora, revoluteia sua chimarrita nos salões da oligarquia rural. E que se presta ao papel de penduricalho de um postulante postiço, extramuros, buscando tornar menos vexatória a aventura em que se embrenhou no páreo pelo Piratini. É o rabo abanando o cavalo. Rebolcando-se num estrambótico conúbio com o DEM, vitrine do coronelismo mais arcaico, a postulação pedetista ao governo gaúcho bordeja 1% das intenções de voto. E despacha a sigla que Brizola forjou ao retornar do exílio para o abismo da irrelevância.

Pergunta-se menos sobre o que faz no Partido Progressista a fugaz atriz de "Não Aperta, Aparício", filme e veículo do gaudério José Mendes. A afinidade, aqui, é autodemonstrável. Uma identificação de tal ordem e intensidade que convergiu ao altar, quando escolheu partilhar sua vida e seus lençóis com o senador Octávio Cardoso, biônico da vetusta Arena, o partido de sustentação do regime militar de cuja costela nasceu o PP.

Não se conhece, nem de um nem de outro candidato, qualquer frase, palavra, letra, muxoxo, vírgula ou gotícula de saliva contra a ditadura que espionou, censurou, expurgou, exilou, perseguiu, prendeu, torturou, assassinou ou fez desaparecer centenas de milhares de brasileiros e brasileiras ao longo de 21 anos. Não se conhece, nem de um nem de outro, qualquer dissonância da opinião de seus patrões. Compreende-se. É a quem devem, de fato, sua construção enquanto espectros da sociedade do espetáculo. E, portanto, sua existência enquanto candidatos.

Como se sabe, o esporte favorito dos conglomerados de mídia – sobretudo desde que derrotados eleitoralmente — é escarmentar os políticos, a política, os partidos, o Estado e o país. O horário político de achincalhamento da ação político-partidária – com a ajuda imprescindível de muitos detentores de mandato, diga-se – dura o ano inteiro, com ou sem eleições. É um processo esmagador e deletério, que acusa, indicia, julga e condena sumariamente. Generaliza e criminaliza, corroendo os fundamentos da democracia. A política é tão percebida como atividade delituosa quanto o Estado e suas instituições são vistos como modelos de desperdício, inércia e incompetência. Persuadida, a sociedade freme de indignação e pede um basta à esbórnia. Soam então os clarins proclamando o Advento. Está preparado o cenário para a irrupção do Homem (ou da Mulher) Providencial. Vem das entranhas das corporações. É uma prole sem passado nem passivo. É a consubstanciação do Novo absoluto. É o Não-Político. Vem varrer a corrupção. Chega para botar a casa em ordem. É um roteiro e uma rotina, um parto batido, previsível e reiterado.

Nos últimos 20 anos, a RBS elegeu dois governadores. Em 2014, a senadora Ana Amélia busca abiscoitar o terceiro mandato. Emplacou dois senadores, Sérgio Zambiasi em 2002 e Ana Amélia em 2010. Nas prévias do PMDB em 1994, os dois pretendentes, Britto e Mendes Ribeiro, tinham raízes na empresa. Britto chegou ao Piratini. Em 2006, foi a vez de Yeda Crusius. Seus candidatos são, por norma, vazios que nem pastel de rodoviária mas, desde 1994, a RBS disse presente em todas as disputas ao governo gaúcho.

Levada a cabo, a façanha em gestação não terá carga de cavalaria, relampejar de lanças, cheiro de pasto esmagado, brados de guerra, fragor de batalha. Não será épica. Será banal, silenciosa e melancólica.

Sob a ditadura, um deputado da Arena amputou uma estrofe do Hino Sul-Riograndense que falava em tirania. Cordeiramente, a Assembléia Legislativa aprovou a supressão. "Entre nós, reviva Atenas/ para assombro dos tiranos/ Sejamos gregos na glória/ e na virtude, romanos", dizem os versos assassinados. Em 2014, dependendo do que expressarem as urnas, não reviveremos Atenas. Não seremos gregos na glória, nem romanos na virtude. Não assombraremos tiranos mas apenas a consciência republicana que um dia julgamos ter.

ChargeEdgar Vasques/Sul21


http://rsurgente.wordpress.com/2014/09/26/a-ultima-facanha-do-rio-grande/


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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz