Eleições no RS: a política contra a manipulação midiática
O RS vive uma disputa explícita da política contra a negação da política. O resultado desse embate tem muito a dizer sobre o futuro da democracia no Brasil
Vinicius Wu
As eleições no Rio Grande do Sul podem ser percebidas como uma dramática síntese da politica brasileira dos últimos anos. Os dois principais oponentes do PT na disputa ao Governo e ao Senado são ex-jornalistas do principal grupo de comunicação do estado. Dois personagens forjados no ambiente da desconstituição da política e da deslegitimação dos partidos, habituados a tecerem críticas diárias à ação do Estado, muitas vezes, influenciadas por contratos de publicidade. É uma disputa singular e explícita da política contra a negação da política. O resultado desse embate tem muito a dizer sobre o futuro da democracia no Brasil.
O atual governo gaúcho sofreu, ao longo dos últimos três anos e meio, um verdadeiro bloqueio informativo, que buscou minimizar – ou mesmo omitir – resultados obtidos pelas políticas públicas desenvolvidas no estado. E, por diversas vezes, os veículos de comunicação que compõem o grupo de onde emergiram os candidatos Ana Amélia Lemos e Lasier Martins foram muito além da omissão, desencadeando uma verdadeira guerra ideológica no combate a iniciativas como a retomada do controle público das rodovias gaúchas, realizada pelo Governo Tarso Genro. Ao mesmo tempo, através de seus jornais, rádios e TVs, agudizaram um tipo de abordagem jornalística que incentiva a criminalização da política, a exemplo do que ocorre no plano nacional.
Mas, apesar de todo o bloqueio e das adversidades enfrentadas pela atual administração – em grande medida, herdadas do governo anterior, que contou com o apoio do mesmo grupo de comunicação – o Governo Tarso Genro logrou alcançar resultados importantes, que justificam seus atuais índices de aprovação.
Em seus três anos e nove meses de gestão, a renda média das famílias do Rio Grande do Sul avançou, segundo o Pnad (IBGE), e o estado registra o menor índice de desemprego dos últimos doze anos. Pela primeira vez no Brasil, um estado da Federação consegue aplicar 12% de sua receita líquida na área da Saúde. Na Educação, segundo o Ideb, que mede a performance do ensino público, o Rio Grande do Sul saltou da 10ª colocação no ranking da educação básica, em 2010, para o 2º lugar em 2014.
O Governo Tarso criou o maior programa de microcrédito do país, que já concedeu mais de R$ 430 milhões em financiamentos e implementou – em parceria com o governo federal – o maior programa de formação profissional da história do estado. A economia gaúcha apresenta números superiores ao restante do país, tendo registrado um crescimento de 6,3% em 2013. Desde 2011, já foram captados mais de R$ 50 bilhões em investimentos privados, contribuindo para o aquecimento do emprego e da renda no estado.
Tarso tem seu desempenho como governador aprovado por 50% da população gaúcha, segundo o Instituto Ibope; seu governo é considerado bom e/ou ótimo por 33% dos eleitores, 23% consideram o governo ruim e/ou péssimo, índices muito próximos aos registrados pela Presidenta Dilma Rousseff em todo o país.
A última semana de campanha no Rio Grande do Sul começa em meio a uma importante alteração no quadro eleitoral, registrado pelas sondagens mais recentes dos Institutos de pesquisa. Os dois principais candidatos ao governo encontram-se empatados, com 31% das intenções de voto, segundo o Instituto Datafolha. Os últimos dias, portanto, definirão qual será o ambiente politico para uma eventual disputa em segundo turno.
A campanha petista – a única a defender o projeto nacional representado pela Presidenta Dilma – tem crescido nas últimas semanas, após Tarso licenciar-se do cargo de Governador. O aumento da ênfase na apresentação dos resultados obtidos pela parceria entre os governos federal e estadual tem sido um importante vetor do crescimento de Tarso e será acentuado em um eventual segundo turno, já que sua principal adversária sinaliza apoio a Marina Silva, caso a candidata do PSB dispute com Dilma o segundo turno.
Tarso, Olívio e o PT no Rio Grande do Sul estão diante de uma disputa difícil, complexa e cujo significado vai além da mera disputa pelo Governo local e pela representação do estado no Senado Federal.
A vitória de Ana Amélia e Lasier seria uma vitória da aversão à política, da manipulação da informação e do descrédito das instituições democráticas e republicanas. Por outro lado, o êxito eleitoral de Tarso e Olívio pode contribuir, sobremaneira, para que a esquerda avance sobre um conjunto de temas decisivos para o aprofundamento do processo democrático no Brasil, tais como a reforma política, a democratização dos meios de comunicação e o restabelecimento do dialogo permanente com os movimentos sociais. E, ao que tudo indica, teremos uma acirrada disputa até o último minuto de votação.
(*) Historiador, Secretário Geral do Governo do Rio Grande do Sul
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