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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

7.4.15

TERCEIRIZAÇÃO É RETROCESSO CIVILIZATÓRIO

TERCEIRIZAÇÃO É RETROCESSO CIVILIZATÓRIO

escravos13
7 de abril de 2015

Na melhor das hipóteses, projeto 4330 quer reduzir trabalhador brasileiro a escravo de ganho -- aquele que, antes da Abolição, vendia mercadorias na rua e voltava para casa com uns trocados no bolso


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Marcada para hoje, na Câmara de Deputados, a votação do projeto de lei 4330, que permite a terceirização sem limites dos contratos de trabalho, representa um encontro dos brasileiros com sua história. Ao contrário de outros momentos da evolução de um país, porém, desta vez o encontro representa uma tentativa do obrigar o Brasil e os brasileiros a andar para trás.

Na prática a eventual aprovação do 4330 é muito mais do que uma tentativa de abolir uma legislação que assegura um padrão mínimo de direitos a quem, biblicamente, paga o próprio sustento com o suor do rosto. Considerando a importância essencial do trabalho na vida das pessoas e na segurança das famílias, o projeto representa um retrocesso civilizatório. Nem a ditadura militar de 1964, articulada e promovida pelos adversários históricos da Consolidação das Leis do Trabalho, e que assegurava suas vontades com fuzis e canhões, ousou promover um ataque dessa natureza. Como novidade legal, o regime militar a aboliu a estabilidade no emprego, que impedia demissões de quem completava dez anos na empresa. Mas a ditadura criou o FGTS, que permitiu a cada assalariado fazer suas economias e, em caso de demissão, sacar um dinheiro para enfrentar uma maré previsível de dificuldades e até pagar a casa própria. Meio século depois, até a sobrevivência do FGTS está em risco, num jogo de esconde-esconde que envolve as responsabilidades das empresas que irão responder pela contratação dos trabalhadores.
Em 1988, quando o país formulou a Constituição em vigor, o debate envolvia a ampliação de direitos. Ocorreram melhorias parciais mas o processo de criação de outras melhorias foi bloqueado por uma aliança conservadora que se impôs na ultima fase de votação. Agora, quer-se abolir conquistas que contribuíram, decisivamente, para que o país se tornasse uma nação de renda média, com serviços públicos que deixam muito a desejar mas apresentam vantagens reconhecidas em comparação com economias semelhantes. As leis trabalhistas brasileiras tem um elemento insuportável para uma parcela da elite brasileira porque suas leis e benefícios permitem uma espécie de distribuição de renda permanente e institucionalizada, a margem da luta selvagem dos mercados.
Como bem demonstrou o professor Wanderley Guilherme dos Santos, o combate a CLT é a única questão relevante que unificou nossa classe dominante nos últimos 70 anos.
Em 2015, não há exagero em dizer que o principal argumento a favor da terceirização retoma a retórica que permitiu aos escravocratas do século XIX fazer do Brasil o penúltimo país do continente a abolir o cativeiro. Pode ser uma tese deselegante. A lembrança de que fomos um país que por mais de três séculos sobreviveu com a exploração de negros acorrentados nunca será agradável — mas é indispensável para se entender a cultura do trabalho que permanece no país, e que estará em jogo na votação da 4330.
Dizia-se, nas vésperas d0 13 de maio de 1888, que o fim da escravidão iria gerar custos imensos e traumas de diversa natureza a economia, trazendo gastos impagáveis para quem seria obrigado a honrar essa novidade imensa e subversiva que era o salário. O máximo que se admitia, até então, eram os escravos de ganho, uma espécie de terceirizado do século XIX brasileiro. No contexto escravocrata, era um pequeno avanço, vamos combinar. Com cestas e sacos no ombro, eles saíam pelas ruas das cidades para vender produtos do trabalho dos escravos de casa e da fazenda. Como estímulo, tinham direito a embolsar uma pequena parcela daquilo que entregavam na Casa Grande. Numa visão miserável sobre a evolução das sociedades, não se enxergava o progresso permitido apenas a sociedades de homens livres — seja na economia, na política, na cultura.
O que se diz, agora, é que os custos do emprego formal se tornaram incompatíveis com os investimentos e o crescimento. Sem muitos retoques, o que se quer é o retorno do escravo de ganho. Vamos receber por cocada vendida, por roupa costurada?
Na década de 1990, quando a elite brasileira importou as propostas da contrarevolução conservadora de Margaret Thatcher e Ronald Reagan, os célebres analistas de recursos humanos diziam que o trabalho de vendedor ambulante, desses que vende guarda-chuva numa barraquinha, podia ser mais conveniente e promissor do que de um operário registrado na industria de automóveis, com férias e 13o. Isso era dito em palestras, reproduzido em jornais e revistas. Era uma forma de sustentar a tese que empregos ruins, mal remunerados, podiam beneficiar um número maior de pessoas, enquanto empregos bons, com benefícios pouco mais do que elementares, estimulavam a preguiça e o comodismo.
A dificuldade, nessa teoria, é que ela é desmentida em todos seus aspectos por fatos ao alcance de todos. Fica difícil sustentar que as leis trabalhistas prejudicam a maioria dos brasileiros quando se verifica que, entre 2003 e 2014, o número de empregos formais passou de 29,5 milhões para 47,5 milhões, conforme dados do RAIS. No mesmo período o desemprego caiu de 12,3% para 5,3% em 2013, o patamar mais baixo já registrado, diz o IBGE.
O aspecto escandaloso do 4330 encontra-se aí. O país sabe, por experiência própria, que não representa nenhum benefício real para a maioria dos brasileiros. A década de 1990, das privatizações e da desregulamentação, também foi o apogeu dessa forma selvagem de terceirização que é a informalidade. A taxa de desemprego aberto saltou de 8,4% em 1995, primeiro ano do governo Fernando Henrique Cardoso, para mais de 12%, um crescimento superior 50%. Embora tenha anunciado o fim da Era Vargas no discurso de posse, FHC enfrentou uma resistência que não permitiu um ataque frontal a CLT, obrigando a um ataque pelas bordas. A economia transformou-se numa máquina de destruição de empregos formais: foram menos 129 339 em 1995, menos 582 000 em 1998, 1menos 98 000 em 1999, informa o Caged. A participação dos salários no PIB caiu três pontos do PIB.
O projeto 4330 não será debatido e quem sabe aprovado por nenhuma causa nobre, nenhuma razão benéfica. Não passa de uma utopia negativa e retardatária, que tem sido critica e abandonada, sistematicamente, pelos países onde a informalidade se tornou a regra. Na conjuntura brasileira, é acima de tudo uma oportunidade econômica, um negócio de ocasião.
Depois de arrematar, na campanha de 2014, a formação do mais conservador Congresso desde a democratização do país, patrocinando candidaturas de acordo com seu feitio e interesse, as grandes empresas instaladas no país estão cobrando a conta. Este ambiente de liquidação explica o esforço para colocar em votação uma proposta vergonhosa.
Do ponto de vista político, nada tão atual para demonstrar a urgência de uma reforma política. Do ponto de vista social, poucas vezes os interesses de pobres e ricos, de trabalhadores e empresários, ficaram tão evidentes. Sem o imenso caixa financeiro do setor privado, autorizado a alugar a democracia a seu prazer e gosto — e corromper sempre que possível — a 4330 nunca teria sido mais do que um dos muitos projetos folclóricos que circulam pelo Congresso e ninguém tem coragem de colocar em votação pela certeza do ridículo.


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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz