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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

8.4.15

"o sonho da mídia livre"

8/abr/2015, 7h10min

Fórum Social Mundial de Túnis 2015: o sonho da mídia livre (por Jacques Távora Alfonsin)

Entre os muitos inconvenientes da concentração privada dos meios de comunicação no Brasil, o maior deles, talvez, é o de as empresas com direito ao exercício de uma função dessa relevância, com poder decisivo de formar ou deformar opiniões e ideas de todo um povo, confundirem concessão pública e liberdade de expressão com licença para publicar o que bem entendem.

Uma simples comparação de disposições da nossa Constituição Federal, no capítulo por ela reservado à comunicação social (artigos 220 a 224), com a realidade vivida agora no país, é grande a distância entre a sua pretensão de fazer valer o direito do povo ser bem informado com as versões correntes na mídia sobre essa realidade. As/os nossas/os leitoras/es podem fazer um juízo crítico  sobre isso, lendo algumas daquelas disposições.

Sobre o poder privado de manipulação da notícia, por exemplo, o  art. 220, parágrafo 5º da Constituição determina:

"Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio.

Qual a chance de um comando como esse alcançar efeito prático, sabendo-se que grande parte de agentes políticos brasileiros, com poder para decidir, a respeito, é titular de direito de explorar rádio e TV, revista e  jornal? quando um determinado patrocinador de publicidade paga a um meio de comunicação social incorre em um determinado ilícito civil ou penal, esse meio não se sente em nada tolhido para divulgar o fato?  Mas afinal, a liberdade de expressão, prevista também no inciso IX do art. 5º da Constituição, faculta até não divulgar fato que o povo tem direito de conhecer?

Sobre o conteúdo das programações de rádio e TV determina o art. 221 da mesma nossa Constituição:

Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:

I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;

II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação;

III – regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;

IV – respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

Lendo só o inciso IV deste artigo, alguém consegue identificar algum dos seus efeitos em programas de TV como o do BBB da Rede Globo, ou o do Ratinho no SBT?

Mesmo que nenhum tipo de divulgação de notícia possa ser garantido antecipadamente como imune a abuso, o Fórum Social de Túnis deste ano procurou mostrar os prejuízos que a sociedade sofre quando a comunicação social é distorcida, manipulada ou mentirosa, justamente quando nenhuma possibilidade de controle independente e responsável é exercido sobre ela.

Segundo informa Ana Cristina Campos, da Agência Brasil, em nota disponível na internet, o  Forum assinou, no dia 28 de março passado, uma "Carta mundial da mídia livre, com princípios e ações estratégicas para promover uma comunicação democrática em todo mundo."

"Entre as prioridades estabelecidas no documento estão o desenvolvimento de marcos democráticos de regulação da comunicação, por meio de órgãos independentes, o apoio aos meios de comunicação comunitários e a independência da mídia pública em relação ao governo e ao mercado." (…) "A carta também defende a governança democrática da internet, incluindo a garantia de neutralidade da rede, o direito à vida privada e à liberdade de expressão, além da universalização do acesso aos meios de comunicação e à internet banda larga."

"Uma comunicação democrática em todo o mundo", "o desenvolvimento de marcos democráticos de regulação da comunicação por meio de órgãos independentes" (…) "em relação ao governo e ao mercado" "a governança democrática da internet", "o apoio aos meios de comunicação comunitários", são elementos indispensáveis, salvo melhor juízo,  de garantia da responsabilidade inerente à liberdade de expressão sem a qual essa  vai continuar confundindo tudo isso com censura, como grande parte da mídia do país tenta convencer o seu (!?) público.

Comprovação desse fato aparece em estudo extraordinariamente lúcido e abrangente da mídia ("Mídia e democracia" de Pedrinho Guareschi e Osvaldo Biz, Porto Alegre: Evangraf Ltda. 2005), mostrando como a falta de qualquer limite à liberdade de expressão transforma a mídia numa ditadura deseducadora. Lembrando Ignacio Ramonet sobre os telejornais, por exemplo, reconhecidamente um dos veículos mais acessados pelo povo, pode-se ler aí o seguinte:

"… o telejornal em seu fascínio pelo espetáculo do evento, desconceitualizou a informação, imergindo-a novamente, pouco a pouco, no lodaçal do patético. Insidiosamente, estabeleceu uma espécie de nova equação informacional que pode ser formulada desta maneira: "Se a emoção que vocês sentem ao ver o telejornal é verdadeira, a informação é verdadeira."

Os autores acrescentam:

"No capitalismo, no negócio da mídia, o nó central é a imagem. Tudo passa por ela. Trata-se da fabricação da imagem da mercadoria e não da mercadoria. Por isso, os conglomerados da mídia são obstáculos para o cidadão ter a informação. O que interessa é o entretenimento, a aquisição dos produtos fabricados pelos donos do  capital. A lógica é vender/comprar o olhar do leitor ou telespectador, não é informar."  

Comunicar, portanto, como a própria palavra indica, é tornar comum uma determinada verdade. Presa de interesses como os denunciados pelo Fórum Social Mundial de 2015, em Túnis, e por críticos como Guareschi e Biz, sendo vítima conhecida de um oligopólio de fato e inconstitucional, como é o da maioria da nossa mídia mais influente e poderosa, a verdade tem pouca ou nenhuma chance de ser revelada.

.oOo.

Jacques Távora Alfonsin é Procurador do Estado aposentado, Mestre em Direito pela Unisinos, advogado e assessor jurídico de movimentos populares.


http://www.sul21.com.br/jornal/forum-social-mundial-de-tunis-2015-o-sonho-da-midia-livre-por-jacques-tavora-alfonsin/

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz