"O PT está em um novo recomeço ou está no fim", diz Tarso
Em entrevista ao programa Diálogos, apresentado pelo jornalista Mário Sérgio Conti, na Globo News, defendeu que o PT precisa fazer as pazes com a sociedade civil. Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Da Redação
Depois de utilizar sua conta no twitter para dar sinais de insatisfação com a condução política e econômica do Governo Dilma, Tarso Genro expôs, claramente, suas críticas durante entrevista ao programa Diálogos, apresentado pelo jornalista Mário Sérgio Conti na Globo News. Mesmo ressaltando sua fidelidade ao PT e afirmando que "o país estaria em uma situação bem pior se Dilma não fosse a presidenta", o ex-governador do Rio Grande do Sul não poupou críticas aos correligionários que estão na administração e na direção partidária.
"O PT está em uma situação extremamente difícil. Ele tem pouca influência sobre o governo e esgotou seu debate interno, o debate interno não flui mais", afirmou ao destacar que o partido fez um pacto de estabilidade pra "sobreviver na crise". Sobre o futuro, Tarso disse que só sabe que o PT não está no meio: "ou está num novo recomeço, ou está no fim".
Perguntado sobre o que precisa ser feito para que a sigla consiga superar a crise, o ex-ministro de Lula defendeu a organização de um movimento "de fora pra dentro". "O PT tem que fazer as pazes com a sociedade civil, petista, democrática, de esquerda e não partidária também. Tem que ouvir intelectuais, empresários democráticos, ouvir militantes sociais e os novos movimentos sociais que surgem e trazer pra dentro dele uma dialética inovadora".
Os exemplos citados foram a Frente Ampla do Uruguai e o recente processo de renovação do Partido Socialista de Portugal que definiu a escolha de seu presidente em uma votação que contou também com a participação de simpatizantes e não apenas filiados. "Coisas como essa nós temos que fazer para que o PT possa ter um novo vigor político e saia dessa estabilidade burocrática que se encontra hoje". Em artigos recentes, o petista tem defendido a criação de uma frente de esquerda no Brasil, vinculada a um programa de governo.
Organizador da coalizão política que levou o PMDB para o Governo no começo do segundo mandato do presidente Lula, Tarso Genro relembrou a importância daquele movimento, mas considera que é hora do modelo ser revisto: "O sujeito derrotou o objeto. A coalizão criada para dar estabilidade para governar virou símbolo de instabilidade, imaturidade e de apropriação fragmentária do Estado em funções de interesses regionais e, as vezes, até subalternos".
Tarso também foi duro ao comentar a condução da economia no Brasil e no mundo. Contrário às políticas de austeridade apresentadas pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy, o ex-governador disse que "a presidenta optou por um ajuste muito semelhante aos ajustes que estavam sendo propostos pelos adversários". Segundo ele, a exceção é a Grécia, atual referência para a esquerda mundial. "A esquerda tem que colocar sua imaginação em funcionamento. Se é pra combater crises econômicas e financeiras com as mesmas receitas ortodoxas, então a esquerda perde a razão de ser".
Sobre a operação Lava-jato, ressaltou que a descoberta do esquema de corrupção envolvendo empreiteiras vai servir para melhorar a Petrobras e lembrou que esquema começou antes do Governo Lula. "A corrupção, a violência, a destruição de populações, a apropriação de terras, os assassinatos fazem parte da evolução da sociedade capitalista". Além de criticar corruptos e corruptores, Tarso criticou alguns responsáveis pelas investigações e pelo processo "que manipulam as informações contra o partido que está no Governo".
Ao final, perguntado sobre a capacidade de Dilma de enfrentar a crise, em comparação com Lula, Tarso Genro resumiu dizendo que o ex-presidente "é um ser político integral, que ia da política para a gestão", dando orientações constantes e públicas aos seus ministros. Já a atual presidente vai da gestão para a política. "Esse estilo teve eficácia no primeiro governo, mas agora tem a crise e a capacidade de gestão da presidenta está bloqueada por questões políticas". "A presidenta tem que fazer mais política".
Tags: Eleições 2014 - Tá na Rede - Dilma Rousseff, PT, Tarso Genro
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