Sartori e a metralhadora goratória
Por Antônio Escosteguy Castro
Em face da pressão para apresentar alguma proposta concreta destinada a tirar o estado de sua crise, nos últimos dias apareceram na imprensa, particularmente na Zero Hora, dezenas de "medidas" a serem tomadas pelo Governo Sartori.
Em primeiro lugar, surpreende que toda a iniciativa do Governo se dá através do Grupo RBS e da imprensa. Nada é conversado ou negociado nos foros políticos ou da sociedade civil do estado. Aparece, simplesmente, uma matéria de jornal que conta aos cidadãos o que se prepara nos laboratórios do Governo. Nunca um governo foi tão dependente de um grupo jornalístico na história do Rio Grande.
Em segundo lugar, o exame das inúmeras "propostas" faz ver claramente que se trata de uma sondagem prévia, para ver a reação da opinião pública. É óbvia a colagem de tudo o que pode significar poupança de recursos, sem uma análise de sua viabilidade política ou de suas consequências sociais e sem uma mínima estratégia a dar-lhes consistência. Aumentar impostos, demitir funcionários, privatizar órgãos, vender ativos financeiros. Nada falta. A não ser um plano coerente de recuperação econômica do estado.
Agregue-se a esta estas "propostas" a Caravana da Transparência e elogios regulares ás poucas medidas já tomadas. O resultado, porém, continua quase nulo. A Caravana não tem tido qualquer repercussão real, mesmo nas comunidades por onde passa. Como se diria no meu tempo de Movimento Estudantil é " fazer espuma para parecer que está fazendo alguma coisa".
E, convenhamos, tecer loas à redução de gastos nas diárias, como a imprensa oficialista fez na semana que passou, não resiste ao menor exame. A economia em diárias se deve a medidas como a antecipação do fim da Operação Golfinho, deixando os veranistas sem policiamento no fim da temporada e a colocação de salva-vidas no feriadão da Páscoa guarita sim, guarita não, pondo em risco milhares de gaúchos que foram às praias.
Quando o estado economiza prejudicando suas funções essenciais- e nenhuma é mais essencial que a proteção policial da comunidade- é porque sua política faliu.
A falta de iniciativa do Governo é ilustrada, à perfeição, pelo recente episódio em que Sartori "passou um pito" em seus secretários porque não lhe traziam propostas. Ora, o centro do governo é que deve ter a iniciativa de propor programas às secretarias. A iniciativa destas há de ser secundária , vinculada aos projetos estruturantes do governo, criados, repita-se , a partir de seu centro político. Passar 100 dias sem propor nada e exigir iniciativa dos secretários seria cômico, se não fosse trágico.
O Governo Sartori tem sido, até agora, um exercício de pirotecnia política. Cem dias e não há um projeto consistente para enfrentar a crise. Não basta , para responder à pressão da opinião pública, abrir a metralhadora giratória e despejar ideias e mais ideias. No mínimo é preciso ter um alvo…
Antônio Escosteguy Castro é advogado.
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