Michael Löwy: Escravagistas de ontem e de hoje
15/08/2016
Michael Löwy na sede da Boitempo em São Paulo. Foto: Artur Renzo.
Por Michael Löwy.
Um dos espetáculos mais ridículos, grotescos, vergonhosos mesmo, dos últimos tempos, foi a gesticulação de inúmeros deputados e senadores – muitos deles acusados de corrupção, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, e outras falcatruas – se cobrindo dos pés à cabeça com a bandeira nacional, no momento de votar a destituição da Presidenta eleita pela maioria dos brasileiros, Dilma Rousseff.
Todos nós aprendemos na escola um belíssimo poema de Castro Alves, denunciando o trafico negreiro, e se queixando amargamente de que no mastro dos navios dos traficantes ondulava "o auriverde pendão de nossa pátria": os escravagistas usavam a bandeira nacional para ornamentar seu infame comercio de vidas humanas.
Um século e meio depois da tragédia escravagista temos agora a farsa da destituição "legal" da Presidenta, – isto é, do golpe de estado disfarçado – mais uma vez usando a bandeira como decoração de seus negócios escusos. Já não se trata de tráfico negreiro mas de uma nova forma de escravidão: a submissão do país aos ditados do capital financeiro, do latifúndio, das multinacionais, do imperialismo. Os representantes do agro-negócio que está destruindo nossas verdes florestas – a começar pela Amazônia, devastada pelo gado e pela soja – e dos bancos que roubam e especulam com o "ouro" do país, são bastante numerosos na bancada golpista. Só não conseguiram ainda apagar as estrelas do Cruzeiro do Sul…
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Michael Löwy é um dos autores do novo livro de intervenção da Boitempo, que está inundando as livrarias de todo o país: Por que gritamos golpe? Para entender o impeachment e a crise política no Brasil! Confira o sumário completo do livro aqui.
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Michael Löwy, sociólogo, é nascido no Brasil, formado em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo, e vive em Paris desde 1969. Diretor emérito de pesquisas do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS). Homenageado, em 1994, com a medalha de prata do CNRS em Ciências Sociais, é autor de Revolta e melancolia: o romantismo na contracorrente da modernidade, Walter Benjamin: aviso de incêndio (2005), Lucien Goldmann ou a dialética da totalidade (2009), A teoria da revolução no jovem Marx (2012), A jaula de aço: Max Weber e o marxismo weberiano (2014) e organizador de Revoluções (2009) e Capitalismo como religião (2013), de Walter Benjamin, além de coordenar, junto com Leandro Konder, a coleção Marxismo e literatura da Boitempo. Colabora com o Blog da Boitempo esporadicamente.
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