O Randolfe de hoje pode ser você amanhã
Por Gibran Mendes, para os Jornalistas Livres
Pois bem, é evidente que o senador Randolfe Rodrigues destacou-se na defesa democracia. Foi uma das vozes dissonantes do discurso Deus, família e conjunto da obra. Optou pela legalidade, não pelo golpe. Contudo, não podemos esquecer, que dois anos antes Randolfe marchava triunfante ao lado de figuras como Álvaro Dias, Paulinho da Força, Mendonça Filho, Aloysio Nunes e (argh!) Aécio Neves.
Randolfe, imagino, deve ter arrepios ao ver essa foto. Se pudesse, apagaria. Mas a internet de hoje é o Aldo Raine (personagem de Brad Pitt no filme Bastardos Inglórios) de ontem. Não permite esquecimento. Não há mais esse direito. Essa foto está registrada e assim permanecerá. Assim como aquelas do povo de verde amarelo, da camisa da CBF, que foi para as ruas contra a corrupção e para apoiar o golpe.
O governo do golpista Michel Temer já anunciou o fim do programa de combate ao analfabetismo. Tramitam no Congresso Nacional mais de 30 projetos que ferem de morte direitos sociais. Servidores públicos da nova geração perceberão o que significa a expressão "arrocho". Está em curso uma grande jogada de salvação, como anunciado por Romero Jucá, de políticos da Lava Jato. O caso da Veja/Toffoli/OAS/PGR é o mais visível de todos. A delação de Léo Pinheiro, que trataria de casos brabos envolvendo Aécio Neves e José Serra, está por um fio em uma jogada tão simples quanto eficiente.
Randolfe se arrependeu. Teve até tempo de discursar e lutar contra o golpe. O mesmo não fez, por exemplo, Cristovam Buarque, assim como parte da população brasileira. O Randolfe de hoje, arrependido, pode ser você amanhã. Quando perder seus direitos sociais, for trocado por um trabalhador terceirizado ou ainda, numa hipótese mais trágica porém real, ver escorrer entre seus dedos o maior programa de inclusão social do mundo: o SUS. Sabe aquela coisa de tratamento de alta qualidade contra o câncer? Fazer um transplante de coração sem custo adicional nenhum? Tudo pago apenas pelos seus impostos?
Você provavelmente não terá a sorte de Randolfe, de ao menos, dizer que foi contra o golpe. Mas poderá tentar apagar aquela foto com a máscara do japonês — preso — da federal, ou ainda, alegar que foi um inocente útil. Espero, apenas, que como Randolfe você se arrependa e trate isso de forma pedagógica. Pois a reafirmação do equívoco tratará de mudar o seu lado na história. Deixará de ser um inocente útil e passará para a baia dos covardes. De lá continuará assumindo discursos prontos, falará em herança maldita e repetirá idiotices "Se a Dilma estivesse aqui seria ainda pior". Não será mais uma vítima dos Mervais, das Lobos ou dos Mainardes. Será um deles.
Neste caso, de você não terei sentimento algum relacionado. Nem raiva, nem pena. Este último sentimento será destinado apenas aos seus netos, como diria a "jurista" dos 45 mil tucanos cuja procuração, segundo ela, é divina. Eles estarão condenados sem culpa, assim como Dilma. Mas em seus casos a viver em um País que abortou novamente seu projeto de nação.
Você pode ser o Randolfe de amanhã.
Ao menos espero que seja.
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