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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

30.8.16

'Resistirei para despertar as consciências'

30/08/2016 15:38 - Copyleft

'Resistirei para despertar as consciências'

Dilma recordou quando seus algozes não tiveram coragem de olhar de frente para ela. E afirmou: 'não esperem de mim o obsequioso silêncio dos covardes'.

Darío Pignotti, de Brasília, para o Página/12


"Resisto (…) e resistirei sempre". Cinco anos e meio depois de iniciado o seu primeiro mandato, Dilma Rousseff se apresentou diante do Senado para se pronunciar sobre o juízo político contra ela, num testemunho de transcendência histórica. Ela não era obrigada a fazê-lo, pois sua defesa poderia ser apresentada pelo advogado defensor José Eduardo Cardozo, mas fez questão de estar pessoalmente cara a cara com aqueles que a julgam, como ela mesma remarcou, "por delitos de responsabilidade (de Estado) que não cometi (…), pois não tenho contas no exterior e não me enriqueci com dinheiro público".

"Venho para olhar diretamente nos olhos de vossas excelências e dizer que não tenho nada a esconder" disparou, ao abrir o seu abrir discurso inicial, de 44 minutos, diante de um recinto repleto e silencioso.

Ao chegar ao Congresso Nacional, pela manhã, junto com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – com quem havia ajustado os últimos pontos de sua estratégia –, Dilma recebeu um ramo de rosas vermelhas por parte dos senadores do Partido dos Trabalhadores.

O cantor e escritor Chico Buarque também viajou à Brasília para apoiar a presidenta e a continuidade democrática. Ele assistiu a sessão das galerias, junto com Lula, Wagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), e Guilherme Boulos, líder dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

Dilma recordou haver enfrentado com as armas a ditadura nos Anos 70 quando, enfrentou os olhares envergonhados dos juízes militares de um tribunal de exceção, que tapavam o rosto para não serem registrados por um fotógrafo.
 
Ela agradeceu a presença de Chico Buarque e citou aquela foto em branco e preto, tomada há 22 anos numa base militar do Rio de Janeiro, agregando que agora "não esperem de mim o obsequioso silêncio dos covardes diante daqueles que querem atentar contra a democracia (…) vou resistir para despertar as consciências adormecidas".
 
Foi, possivelmente, o último discurso diante do parlamento de uma presidenta que, nesta semana, será destituída por uma folgada maioria de senadores, envolvidas com a estratégia destituinte que iniciará o ciclo do Brasil pós-democrático administrado por um governo "usurpador", a cargo de Michel Temer.
 
Segundo uma sondagem publicada na noite desta segunda-feira (29/8) pelo diário O Globo, os simpatizantes do impeachment têm 53 votos, contra 19 dos aliados de Dilma e 10 que não revelam sua posição.
A lei do impeachment estabelece que para determinar o fim do mandato de um chefe de Estado é preciso uma maioria especial de 54 dos 81 membros da câmara alta.
 
Durante uma sessão iniciada às 9h54, Rousseff sustentou que o "golpe de Estado" em curso tem como verdadeiras beneficiárias as elites que "nunca apostaram na democracia".
 
Altiva, indignada, ela falou aos membros do Senado, que serão os juízes do impeachment, tentando persuadi-los de votar por sua inocência e restituição no cargo do que foi separada no dia 12 de maio. Detalhou a falta de provas que respaldem as imputações contra ela, que alegam haver violação da Lei de Responsabilidade Fiscal, através de maquiagem das contas públicas em 2014, o ano em que foi reeleita no segundo turno, vencendo o opositor Aécio Neves.
 
Dilma reiterou que, se regressar ao governo, convocará um plebiscito para consultar a sociedade sobre a realização de eleições antecipadas, e que as realizará em breve.
Ao redor desse pronunciamento factual, destinado a salvar seu mandato, flutuava um subtexto com ambição de falar ao futuro, um trecho dirigido aos militantes reunidos ontem diante do Senado, na avenida central de Brasília. Na mesma hora, outros grupos eram reprimidos pela polícia militarizada de São Paulo.
 
Dilma Rousseff falou pensando também nas possíveis lutas que virão para restabelecer a democracia a ponto de ser derrotada. "Vou a resistir para despertar as consciências ainda adormecidas e para que todos juntos fiquemos do lado correto da história, não luto por meu mandato nem por apego ao poder, como fazem os que não têm caráter nem utopias".
 
Ela se referiu ao atual impeachment e a outros momentos de degradação vividos no Brasil durante o século passado. Dentro dessa linha argumentativa, ela citou a campanha orquestrada pela direita para acabar com o governo de Getúlio Vargas, que finalmente se suicidou, em 1954, e também o golpe de Estado que derrubou o governo de João Goulart, em 1964.

A mão de Deus
 
"Ela esteve muito bem, firme, disse o que tinha que dizer" comentou Lula, de terno e camisa sem gravata, durante um dos intervalos da sessão. Ele assegurou não ter perdido a "esperança" por uma reviravolta dos votos, que levaria à restituição de sua companheira.
 
A senadora Vanessa Grazziotin, do Partido Comunista do Brasil (PC do B), reforçou as palavras do ex-mandatário, comentando que "ainda estamos conversando, buscando somar mais votos". Uma fonte legislativa do PT disse à reportagem do Página/12 que "as possibilidades são muito, muito remotas, mas a mão de Deus ainda pode nos salvar". Se referia as conversações que Lula mantinha ontem com os senadores, para convencê-los a revisar o seu voto.
 
"Eu acuso"
 
Dilma Rousseff deixou para alguns correligionários, como o aguerrido senador Lindbergh Farias, do Partido dos Trabalhadores (PT), as afirmações mais veementes sobre como foi montada a "arquitetura da conspiração".
Assim, enquanto ela mencionou a "cumplicidade" dos meios com o plano destituinte, Farias completou a denúncia dizendo: "eu acuso a Rede Globo, que há três anos estava pedindo desculpas por apoiar a ditadura, e que agora embarca em outro golpe".
 
Enquanto era acompanhado pelo gesto de aprovação de Rousseff, Farias agregou: "eu acuso as elites, que sabotaram a política externa independente e que também querem entregar os poços (petroleiros da zona) do Pré-Sal às companhias estrangeiras".
 
Essa afirmação do senador petista, que antes havia mencionado a cumplicidade do governo de Temer com a multinacional petroleira Chevron, foi ratificada por Rousseff. Ela disse que "aqui também está em jogo os destinos dos grandes poços descobertos na zona do Pré-Sal". Se estima que a zona possui cerca de 60 bilhões de barris de petróleo cru.
 
Entre os senadores conservadores, o ruralista Ronaldo Caiado e o pastor evangélico Magno Malta usaram suas intervenções para questionar a diplomacia petista, especialmente as relações com a América Latina, o apoio a Cuba para a construção do Porto de Mariel, que foi financiado pelo banco estatal BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Dilma respondeu Caiado e Malta, conhecidos como congressistas propensos a serem aliados oficiosos da embaixada estadunidense, defendendo a "inserção soberana do nosso país no mundo e a política externa autônoma, não imperialista" implantada pelas gestões petistas.
 
"Sim (…), em outros tempos, seria um delito apoiar a construção de Mariel. Depois que Obama visitou Cuba, hoje vemos que Mariel é um porto disputado por norte-americanos e europeus".
 
Tradução: Victor Farinelli

Créditos da foto: reprodução

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz