A Dilma que estamos vendo; a Dilma que não vimos e queremos ver
POR FERNANDO BRITO · 29/08/2016
Durante muito tempo os "assessores" da Presidenta Dilma Rousseff a aconselharam a ser distante, técnica, fria: a "gerentona" que não tinha paciência ou estômago com os políticos.
A Dilma que se vê hoje mostra que ela é muito mais capaz de enfrentá-los publicamente do que é "jeitosa" para os conchavos, acordos e negociações.
Ela tem os argumentos, políticos e técnicos, mais que suficientes para fazer frente ao discurso do "desastre" que a mídia tornou o coro da política.
E não se argumente que a presença de Ricardo Lewandowski presidindo a sessão inibe – e nem tanto – as grosserias e provocações.
Ela tem se mostrado absolutamente capaz de suportá-las na forma e desmanchar-lhes o conteúdo.
Não ferveu e explodiu onde a maioria de nós teria posto a tampa da panela a voar longe.
Teve dezenas de momentos onde teve motivos.
A audiência de hoje, ainda pela metade, já é prova de que ela tem todas as condições de suportar a polêmica, em lugar de te-la enfrentada apenas com pronunciamentos raros, bem dirigidos e, por isso mesmo, incapazes de mostrar sentimentos e obter credibilidade.
A lição que salta aos olhos, seja no milagre de que não se consume a sua deposição , sena na inevitabilidade de que, amanhã, outro governante de natureza popular seja levado ao poder pelo voto do povo brasileiro, é que ele precisa, tanto quanto do ar para respirar, da comunicação com a população.
Travar a polêmica, defender as políticas, explicar os problemas, reiterar compromissos, de tudo isso ela se mostrou absolutamente capaz.
Se é tarde demais para mudar o processo de votação, como parece aos cronistas políticos, certamente não é tarde para produzir o esclarecimento público que, para muitos, apenas agora está acontecendo, não pelo que a mídia diz que ela disse, mas porque as pessoas ouvem ela dizer.
A elite brasileira – inclusive as porções dela que se arrotam "de esquerda" punhos de renda – por isso tem horror ao que chamam de populismo.
Populismo, para eles, é o contato direto entre o governante e a população, que os políticos e mídia não querem abrir mão jamais de serem os intermediários e reitores.
A Dilma que estamos vendo é a Dilma que queríamos ver e, dentro ou fora do poder, esperamos ver.
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