DOCUMENTÁRIOS REGISTRAM O GOLPE PARA A HISTÓRIA
Cineastas que filmam os momentos finais do impeachment são alvos de ataques e calúnias de blogs que tentam blindar os atores que encenam o ato final do processo no Senado; a antropóloga e documentarista Petra Costa criticou o desconhecimento que existe sobre o gênero documentário; "A alucinação chega a tal ponto de alguns dizerem que Dilma adotará tom emotivo no Senado só para ficar melhor no nosso filme", desabafou; diante da polêmica, a senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) foi às redes sociais defender o direito das futuras gerações de conhecerem os personagens da trama: "Golpistas reclamam das equipes de filmagem porque não querem o golpe registrado na história. Mas vai ter documentário com a carinha deles sim"; pelo menos quatro documentários sobre o golpe estão em produção
27 DE AGOSTO DE 2016 ÀS 15:50 // RECEBA O 247 NO TELEGRAM
247 - Pelo menos quatro documentários estão em fase de produção sobre o golpe contra a presidente Dilma Rousseff (PT) cujo ato final está em pleno curso no Senado Federal. A presença de equipes de filmagens e de documentaristas consagrados tem incomodado os senadores, em especial aos que apoiam o impeachment. O constrangimento que as filmagens tem causado nos golpistas foi motivo de um comentários da senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) e de Petra Costa.
Gleisi foi ao microblog Twitter para sugerir que o ataque à democracia em marcha no Congresso Nacional será julgado pela história e pelas gerações futuras, que terão à disposição grandes reportagens cuidadosamente coordenadas. "Golpistas reclamam das equipes de filmagem porque não querem o golpe registrado na história. Mas vai ter documentário com a carinha deles sim", escreveu.
Petra Costa, antropóloga, atriz e cineasta, com dezenas de prêmios no currículo, passou a ser alvo de ataques dos que apoiam o golpe, que acusam sua obra de ser um libelo em favor de Dilma. A artista teve de vir a público para defender sua liberdade de registrar o momento histórico de acordo com seu olhar: "Nas últimas semanas temos sido vítimas de calúnias em diversos veículos de comunicação, o que só revela o desconhecimento que existe sobre o gênero documentário. A alucinação chega a tal ponto de alguns dizerem que Dilma adotará tom emotivo no Senado só para ficar melhor no nosso filme!", escreveu.
Petra registra que trabalha no documentário desde março, registrando um "momento histórico e tão delicado da nossa jovem democracia". Ela revelou que tem entrevistado parlamentares de oposição e da base, advogados de defesa e de acusação e registrado protestos pró e contra o impeachment.
Citando o cineasta Patricio Guzman, ela reafirmou que um país sem documentários é como uma casa sem álbum de retratos. "O filme nasceu de um desejo de compreender como os bastidores da política, tão distantes do dia a dia do brasileiro (fisicamente, inclusive), estão impactando nossa sociedade, e vice-versa."
Ela ainda critica a revista Veja: "A reportagem publicada em Veja, a qual cita o documentário que estou dirigindo, provisoriamente chamado "Impeachment", incorre em erros que levam a desqualificar o meu trabalho. Equívocos que foram replicados em postagem feita pelo jornalista Reinaldo Azevedo. Em entrevista publicada na íntegra no site da revista, é possível compreender que não estamos participando de nenhum jogo de cena e que o texto da versão impressa não foi fiel as minhas declarações."
Segundo o site do El Pais, pelo menos outros três produções sobre o atual momento político brasileiro estão em fase de produção. A paulista Anna Muylaert é roteirista e produtora de um documentário que será dirigido por Lo Politi, reconhecida diretora de publicidade, cujo foco principal e a presidente Dilma. O que a dupla quer com o filme é registrar o que serão possivelmente os últimos dias de Dilma no Governo, retirada da presidência e colocada à espera na rotina do Palácio da Alvorada, até a decisão final do Congresso. Ainda sem nome, o projeto foi apelidado por senadores e deputados de Será que ela volta?, pergunta pertinente que ainda por cima homenageia o longa de Anna.
O carioca Douglas Duarte planeja um filme que retrate o Congresso Nacional e a brasiliense Maria Augusta Ramos passou a filmar os acontecimentos políticos na Capital Federal a partir da votação do impeachment na Câmara, com os deputados votando por suas mães, seus filhos e outros parentes.
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