Caso  Ford 
Clarissa Pont // www.sul21.com.br
O caso Ford se desenrola desde 1998, quando o Estado do Rio Grande do  Sul ajuizou a ação ordinária contra a montadora. Desde então, o processo  tramitou longe dos olhos da população e da imprensa, até esta segunda-feira  (31).
Em edição especial da Revista da  Procuradoria Geral do Estado, datada de 2002, é possível acompanhar em detalhes  as tratativas que o Governo do Estado manteve com a montadora na época. O  documento informa que reuniões de negociação aconteceram por praticamente uma  semana, nas quais, do ponto de vista estatal, era tentado um ponto de equilíbrio  contratual.
Em reunião no dia 28 de abril de 1999, o Estado formalizou  uma proposta, sem saber que aquela seria a última vez que as partes se sentariam  para negociar. O argumento foi amplamente divulgado, no dia seguinte, nos meios  de comunicação gaúchos e 
"O Governo do Estado do Rio Grande do Sul torna pública sua  proposta que apresentou à mesa de negociação para a Ford do Brasil. Embora o  estado enfrente séria dificuldade financeira, fez um esforço gigantesco para  concretizar a instalação da montadora 
Os itens da proposta podem ser resumidos na não  contestação dos incentivos fiscais já concedidos, no valor de R$ 3 bilhões; na  execução de obras de infraestrutura, luz, água, esgoto, arruamento e  pavimentação no valor de R$ 84 milhões; além do empréstimo de R$ 70 milhões  viabilizado com a participação de instituições financeiras públicas.
Como  se isso não bastasse, seriam garantidas ainda a viabilização das demais obras de  infra-estrutura através da participação de outras esferas da federação nas obras  de sua competência e de concessão à iniciativa privada, no total de R$ 106  milhões; além da manutenção dos R$ 42 milhões que já haviam sido  repassados.
Segundo o governo da época, a proposta apresentada só seria  executável com a projeção de um enorme sacrifício financeiro ao estado. "Mais do  que isso, significaria ultrapassar o limite dos danos à estrutura administrativa  do Governo e causar graves prejuízos à saúde, educação e segurança do povo  gaúcho. Se a Ford não teve ainda essa compreensão e permanece na exigência de  receber em condições privilegiadas quase meio bilhão de reais dos cofres  públicos, outros investidores, inclusive grandes, mas especialmente milhares de  pequenos e médios empreendimentos, continuam apostando no desenvolvimento  econômico social do Estado do Rio Grande do Sul", completa o  documento.
Poder Judiciário rejeitou embargos de declaração opostos pela  Ford 
Desde que o assunto entrou na esfera jurídica, manifestações de  ambas as partes aconteceram. A mais importante delas foi o pedido de embargo de  declaração feito pela Ford e rejeitado em 26 de janeiro deste ano pelo Poder  Judiciário. A sentença da juíza Lílian Cristiane Siman foi considerada clara, e  a decisão pode ajudar, no momento em que a ação chegar à última instância, no  Superior Tribunal de Justiça.
Os embargos de declaração constituem num  recurso, dirigido ao juiz da causa e por ele decidido, que visam ao  esclarecimento de alguma lacuna ou contradição no texto da sentença. Nos  embargos, a outra parte não é ouvida, mas o pedido interrompe qualquer outra  possibilidade de recurso.
Paulo Peretti Torelly, o então Procurador Geral  do Estado que assinou a inicial do processo em 1998, assinala que não pode  avaliar a atual situação do trâmite, mas garante que a sensação é de dever  cumprido. "É uma sensação bastante subjetiva, mas traz a confiança de que o  Estado pode assegurar de forma plena que se reconstrua a verdade dos fatos,  independentemente de questões políticas. Eu não tinha dúvida que isso se  confirmaria. Entramos com a ação num contexto em que havia muita manipulação de  informação, e queríamos relatar ao interesse público o que acontecia", disse.  Ele afirmou que a divulgação e o conhecimento dos fatos pela população podem  ajudar para que a justiça caminhe de forma correta em instâncias  futuras.
Ford não pretende pagar os cerca de R$ 800 milhões
A Ford  já interpôs recurso ao Tribunal de Justiça contra a sentença de 1º Grau, da 5ª  Vara da Fazenda Pública da Capital. A sentença julgou parcialmente procedente a  ação do Estado do Rio Grande do Sul contra a montadora, e condenou a empresa a  restituir aos cofres públicos os valores que hoje chegam a cerca de R$ 800  milhões. O recurso da empresa contra a sentença publicada em 15/12/2009  encontra-se tramitando a espera do processo de distribuição, ou seja, pelo  sorteio de um relator que leve a causa a julgamento.
Mais duas apelações  são encontradas nos despachos recebidos pelo Poder Judiciário relativos à causa.  Um despacho de apelação realizada pela Ford, que data de 6 de maio deste ano; e  outra realizada pelo próprio Estado do RS, em 8 de março também deste ano. A  reportagem de Sul 21 entrou em contato com a Procuradoria Geral do Estado, mas,  até o fechamento desta edição, não obteve esclarecimentos sobre os  temas.
Até agora, a conclusão da juíza Lilian Cristiane Siman diz que a  empresa se retirou do empreendimento por iniciativa própria, anunciando sua ida  para o Estado da Bahia, sem encerrar as tratativas oficiais com os  representantes do Poder Público Estadual, rescindindo o contrato  unilateralmente. Na época, falou-se em rompimento da Ford com o governo Olívio  Dutra, sucessor de Antonio Britto que autorizara a concessão dos empréstimos.  Para a Ford, na contestação, o acordo não foi levado a termo em razão da  "conduta do Estado de se recusar a cumprir o contrato, cabendo só a ele suportar  os encargos decorrentes deste  inadimplemento".
759kb 
Caso Ford  
Nenhum comentário:
Postar um comentário