21/06/2010
O que está em jogo nas eleições de 2010
Em quatro meses o Brasil terá decidido  quem será o próximo(a) presidente(a). Destaca-se muitos aspectos da  particularidade desta campanha, desde o de que Lula não será candidato, pela  primeira vez, desde que o fim da ditadura trouxe as eleições, até o do  protagonismo de duas mulheres entre os três principais candidatos.
Mas o  tema mais importante é o do julgamento de um governo até aqui sui generis na  história política do país. Um presidente de origem operária, imigrante do  nordeste, chega ao final do seu mandato com a maior popularidade da história do  país e submete democraticamente seu governo a uma consulta popular, mediante a  apresentação como sua possível sucessora da coordenadora do seu  governo.
Um governo que começou rompendo o caminho do Área de Livre  Comércio das Américas, conduzido pelo governo anterior, que teria levado o  Brasil e todo o continente à penosa situação do México: 90% do seu comércio  exterior com os EUA, como reflexo disso na crise retrocedeu 7% seu PIB no ano  passado, foi ao FMI de novo, assinando a Carta de Intenções (deles).
O  novo governo promoveu uma reinserção internacional do Brasil, privilegiando os  processos de integração regional e as alianças com o Sul do mundo. A China  tornou-se o primeiro parceiro comercial do Brasil, o segundo é a América do Sul  como um todo, em terceiro os EUA. A crise revelou os efeitos dessa mudança:  pudemos superá-la rapidamente pela diversificação do comercio internacional e a  menor dependência das relações com os EUA, a Europa e o Japão. (Além do papel  importante do mercado interno de consumo populasr.)
Esse é um dos temas  que está em jogo: o lugar do Brasil no mundo. Seguir aprofundando essa nova  inserção ou voltar à aliança subordinada com os EUA e as potências centrais do  sistema.
O outro tema – em que igualmente houve maior mudança na passagem  do governo FHC para o de Lula: as políticas sociais. No governo anterior, a  distribuição de renda seria resultado mecânico da estabilidade monetária.  Controlada a inflação – "um imposto aos pobres" -, se recuperaria capacidade de  compra dos salários. 
No governo Lula, as políticas sociais tiveram um  papel reitor. O modelo econômico não separava o crescimento econômico e a  distribuição de renda. A recuperação da capacidade do Estado de promover o  desenvolvimento – este um tema abolido no governo FHC – foi também um aspecto  novo, junto à extensão do mercado interno de consumo de massas. Mudou a direção  do comercio exterior e seu peso, reforçando-se o mercado interno.
Esse  tema também está em jogo. Os governos neoliberais deram prioridade ao ajuste  fiscal, ao controle inflacionário. O governo Lula priorizou a esfera social.  
Está em jogo também o papel do Estado. Como costuma acontecer, o  candidato opositor considera excessiva a presença do Estado, a carga tributária,  os gastos estatais, os investimentos e os custos da maquina estatal. As criticas  ao supostos "corporativismo" e a comparação com Luis XIV tem como direção o  Estado mínimo e a presença maior do mercado.
No seu sentido  geral, podemos dizer que as eleições deste ano definem se o governo Lula é um  parêntese, com o retorno das coalizões tradicionais que governaram o Brasil ao  longo do tempo ou se é uma alavanca para definitivamente sair do modelo  neoliberal e construir uma sociedade justa, solidária, democrática e  soberana. Caso se dê esta última alternativa, os setores conservadores  sofrerão uma derrota de proporções, com toda uma geração dos seus representantes  políticos praticamente terminando suas carreiras e abrindo espaço para grandes  avanços na direção das orientações do governo Lula. 
Postado por Emir Sader às 04:12
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