06/06/2010
Voto: direito ou dever?
A cada tanto tempo, o tema reaparece: como o  voto, de um direito se transformou em um dever? Reaparecem as vozes favoráveis  ao voto facultativo.
A revista inglesa The Economist chegou, em  artigo recente, a atribuir à obrigatoriedade do voto, as desgraças do  liberalismo. Partindo do pressuposto – equivocado – de que os dois principais  candidatos à presidência do Brasil seriam estatistas e antiliberais, a revista  diz que ao ser obrigado a votar, o povo vota a favor de mais Estado, porque é  quem lhe garante direitos.
Para tomar logo um caso concreto de  referência, nos Estados Unidos as eleições se realizam na primeira terça-feira  de novembro, dia de trabalho – dia "útil", se costuma dizer, como se o lazer, o  descanso, foram inúteis, denominação dada pelos empregadores, está claro -, sem  que sequer exista licença para ira votar, dado que o voto é facultativo. O  resultado é que votam os de sempre, que costumam dar maioria aos republicanos,  aos grupos mais informados, mais organizados, elegendo-se o presidente do país  que mais tem influência no mundo, por uma minoria de norteamericanos. Costumam  não votar, justamente os que mais precisam lutar por seus direitos, os mais  marginalizados: os negros, os de origem latinoamericana, os idosos, os pobres,  facilitando o caráter elitista do sistema político norteamericano e do poder nos  EUA.
O voto obrigatório faz com que, pelo menos uma vez a cada  dois anos, todos sejam obrigados a interessar-se pelos destinos do país, do  estado, da cidade, e sejam convocados a participar da decisão sobre quem deve  dirigir a sociedade e com que orientação. Isso é odiado pelas elites  tradicionais, acostumadas a se apropriar do poder de forma monopolista, a quem o  voto popular "incomoda", os obriga a ser referendados pelo povo, a quem nunca  tomam como referência ao longo de todos os seus  mandatos.
Desesperados por serem sempre derrotados por  Getúlio, que era depositário da grande maioria do voto popular, a direita da  época – a UDN – chegou a propugnar o voto qualitativo, com o argumento de que o  voto de um médico ou em engenheiro – na época, sinônimos da classe média branca  do centro-sul do país – tivesse uma ponderação maior do que o voto de um  operário – referência de alguém do povo na época.
O voto  obrigatório é uma garantia da participação popular mínima no sistema político  brasileiro, para se contrapor aos mecanismos elitistas das outras instâncias do  poder no Brasil. O voto torna-se um direito, mas também um dever de participar  nos destinos do país. 
Postado por Emir Sader às 03:10
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