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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

19.9.10

Som e fúria da velha imprensa

 
Colunistas| 17/09/2010 | Copyleft
 

DEBATE ABERTO

O que vocês esperavam da mídia brasileira: isenção, equilíbrio, não alinhamento com a direita? Que os proprietários dos veículos fossem capazes de contrariar seus interesses financeiros e políticos em nome da cobertura lisa do processo democrático? Desde a eleição de Lula a que temos assistido?

Em uma guerra onde cada queda nas pesquisas repercute como a perda de um exército do candidato tucano, a grande imprensa brasileira tem a reação previsível. Emissoras de televisão, jornais e revistas semanais se unem em grupos, deixando a confiança em uma improvável virada de José Serra se avolumar até atingir o êxtase nos estratos sociais que lhe dão sustentação rarefeita. Tal comportamento, onde todos os meios de comunicação atuam de forma orquestrada, em fina sintonia com os comitês de campanha, traduz a relação simbiótica entre o tucanato e as famílias que controlam os mecanismos de produção e difusão informativos. No estreitamento do processo, um projeta no outro seus interesses pessoais e políticos. Serra é a mídia. A mídia é Serra.

Cria-se uma vivência de alienação, situação de risco escolhida para se experimentar um novo cenário golpista. Neste clima, são negadas as dificuldades em se resolver os problemas sociais, políticos, econômicos e ideológicos de uma candidatura fadada a um "enterro de Gioconda". É por esta anestesia da razão, alheamento da realidade, que se acentua a autoconfiança dos milicianos encastelados nas editorias de Política. Só assim acreditam que o desejo poderá ser satisfeito em um passe de mágica. Transitam pela animação da onipotência, acreditando possuir a força ilimitada dos deuses. Quando, no entanto, a história mostra o seu compasso, o efeito delirante dá lugar ao desconforto da depressão e do vazio ameaçador. Serra é a mídia. A mídia é Serra.

Não há espaço para o contraditório. Publicações que não fazem parte do pool tucano são censuradas no campo jornalístico. Escândalos são fabricados em escala crescente. Denúncias publicadas sem apuração. O contraditório inexiste. A imprensa golpista, involuntariamente, reaviva a advertência de Gramsci: enquanto o mundo velho não se finda e o novo não se afirma, a sociedade vive num estágio de morbidez latente, apta a produzir seus fenômenos mais perversos. Nesse interregno, os Mervais, Leitões, Noblats, Josias e Fernandos, entre tantos outros, fazem, ou tentam fazer, o retorno a uma formação política infantilizada, desagregada e primitiva.

Se for justa a indignação dos que militam no campo democrático, a perplexidade é imperdoável. Desculpem-me a sinceridade da pergunta, mas que tipo de comportamento vocês esperavam da mídia brasileira: isenção, equilíbrio, não alinhamento com a direita? Que os proprietários dos veículos fossem capazes de contrariar seus interesses financeiros e políticos em nome da cobertura lisa do processo democrático? O padrão editorial predominante em 1954 não se repetiu dez anos depois? Desde a eleição de Lula a que temos assistido? Por que razão ficamos esperando que agora fosse diferente?

Será que é preciso lembrar que continuamos vivendo em uma sociedade determinada pelos interesses de classe? E, quando se trata do principal, não podemos esquecer que somos o outro lado, os inimigos a serem derrotados, mais ainda a Dilma e o que ela representa simbolicamente. Ficar surpresos nos remete a uma ingenuidade inadmissível.

A credibilidade no jornalismo é puro mito, pura hipocrisia, recurso de marketing usado pelas empresas. Apesar de sabermos disso, esperamos, lá no fundo das nossas almas, que seja diferente, que a prática da mídia burguesa seja semelhante ao seu discurso publicitário, mas não é e não será jamais. A única forma de travar a batalha democrática no campo informativo é criar veículos eficientes, na forma e no conteúdo, que estejam a serviço dos interesses da maioria da população. E isto não é para "fazer a cabeça" do povão, mas simplesmente articular um discurso, uma argumentação contrária à estrutura narrativa da imprensa que representa o establishment. Se falarmos em luta pela hegemonia, como ignorar questões centrais?

Queremos "absolvição" por termos desconcentrado o mercado publicitário e realizado a Confecom (Conferência Nacional de Comunicação)? Creio que não.
Para continuar reerguendo o país do descalabro, da frustração e da desesperança, o que podemos esperar senão som e fúria dos aparelhos ideológicos burgueses? A ausência de poder sobre a situação fará aumentar o rugido, o desejo destrutivo de forças que subestimaram a sociedade brasileira, que a ignora solenemente.

Todos os sinais de alarme já soaram. O velho Gramsci era do ramo. Ninguém poderá dizer, desta vez, que não foi alertado a tempo.

 
Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz