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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

20.9.10

De volta à ditadura | Jornal Correio do Brasil

De volta à ditadura

20/9/2010 13:38,  Por Rui Martins

Reprodução

Um encontro inesperado provoca o pesadelo de um retorno à época da ditadura militar

Na rua, alguns carros levantavam uma poeira avermelhada, criada pela estiagem de três meses, e o sol forçava os passantes a escolher o lado da sombra ou a colocar um chapéu de boiadeiro.

Meu relógio marcava pouco mais de meio-dia e, de pé, aguardava o atendimento, na fila de um banco, na cidade vizinha ao meu vilarejo natal. O espaço era diminuto, mas situado no primeiro andar, nos protegia dos escaldantes raios solares. Será o calor que nos faz falar e trocar idéias com desconhecidos ? Por que as populações meridionais parecem mais falantes e mais extrovertidas ? Quantas situações similares já vivi em Paris ou Genebra, mas num tedioso silêncio, enquanto aguardava chegar minha vez.

 Conversávamos. Para mim, recém-chegado, reouvir pessoas falando na minha língua é sempre um agradável reencontro que agora, renovo anualmente. A questão passou a ser documentos e a maneira mais rápida de se obter sua carteira de identidade, possibilidade criada pelo Poupa Tempo. Já havia ouvido falar e o tema me interessava porque preciso orientar minhas filhas sobre como tirarem a carteira de identidade. Um senhor, pouco distante na fila, contava com alguém de sua família renovou sua identidade em tempo recorde, nesse serviço na Praça da Sé, centro de São Paulo.

Agradeci a informação e como tenho a tendência de falar demais, contei que, por viver no Exterior, tenho de me reatualizar periodicamente sobre as novidades brasileiras. Uma coisa puxa outra e, logo me perguntaram desde quando vivo no Exterior, dei uma resposta precisa e já repetida tantas vezes – desde 1969, exílio durante a ditadura militar.

Longe estava de imaginar que essas palavras provocassem, lá dentro, o levantar de uma poeira, negra e irrespirável, no corredor apertado, onde esperávamos nossa vez.
« A época militar foi a mais próspera deste País », vaticinou um senhor, que se identificou como ex-militar, agora reformado. E, de repente, ali na minha frente sorvido por uma espécie de buraco negro, tive a impressão de ter retornado àquela época conturbada da ditadura, do receio de ser preso, das arbitrariedades policiais, das torturas, do silêncio forçado.

Até aquele momento, imaginava sempre terem desaparecido definitivamente, no Brasil, os fantasmas da ditadura e não esperava, num dia claro e ensolarado como aquele, sentir de novo percorrer minha espinha, aquele medo de ser espancado, torturado, preso ou mesmo morto, antes de poder fugir para um outro país onde pudesse falar, escrever, pensar, respirar livremente.

Para quem não viveu aqueles anos, talvez baste uma expressão – a ditadura e a falta de liberdade de expressão tornam o ar extremamente espêsso e é com dificuldade que aspiramos e expiramos. O coração vive em sobressalto – um olhar estranho, uma sombra, alguém que bate na porta e o ritmo cardíaco dispara.

Como tantos anos depois, o simples fato de me defrontar com um militar já reformado saudoso dos tempos em que se ensinava aos jovens universitários, com cassetetes, a obediência, o respeito, a ordem, pode reavivar velhos demônios ? O trauma, é o trauma que me torna ainda inquieto quando ao entrar no Brasil, examinam meu passaporte.

Mas, com certeza, os tempos mudaram. O elogio da ditadura não ficou sem resposta. Outro senhor, atrás de mim, respondeu à provocação e, em pouco tempo, se criou ali, um debate sobre o Brasil do militares e o Brasil de hoje de Lula. O Brasil da ditadura, nossa vergonha denunciada pela imprensa internacional, cujos ditadores não seriam jamais aceitos pelos líderes de outras nações; o Brasil de hoje, alçado à condição de potência mundial, respeitado e com seu presidente considerado figura política de destaque em todas as grandes conferências.

Porém, esse inesperado encontro – nestes dias que antecedem a eleição de Dilma Roussef à presidência, mostrando a vitória dos ideais do passado, das reformas de base, que um golpe de Estado e o assassinato de tantos companheiros não conseguiram impedir – prova que não nos devemos desmobilizar. A serpente está viva, seus ovos, como os do Allien, esperam apenas serem chocados.

Rui Martins, jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura, é líder emigrante, ex-membro eleito no primeiro conselho de emigrantes junto ao Itamaraty. Criou os movimentos Brasileirinhos Apátridas e Estado dos Emigrantes, vive em Berna, na Suíça. É correspondente do Correio do Brasil, em Genebra, escreve para o Direto da Redação, Expresso, de Lisboa, e agência BrPress.

http://correiodobrasil.com.br/de-volta-a-ditadura/181921/

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz