JB, 20.09.2010
Partido amarga queda no desempenho nas urnas, vai mal nas pesquisas e pode se fundir com outra sigla
Ana Paula Siqueira
Se antes era um dos maiores partidos do país, sempre presente nos governos, hoje o Democratas (DEM) amarga a redução de seu poder. Nas últimas eleições, o número de candidatos eleitos pela legenda diminuiu gradativamente. E, caso as urnas mantenham o que indicam as pesquisas eleitorais, o alcance do partido será ainda menor depois de 3 de outubro. Membros da legenda reconhecem a necessidade de mudança para alterar esse quadro e, entre as possibilidades, está o fim da dependência do PSDB.
Apesar de não confirmarem oficialmente, democratas também avaliam a possibilidade de fusão do partido com outra legenda, o que faria surgir uma agremiação mais forte. Isso porque as últimas pesquisas de intenção de voto apontam que, dos quatro candidatos a governador pelo partido, apenas dois têm chances reais de ganhar: os senadores Raimundo Colombo, em Santa Catarina, e Rosalba Ciarlini, no Rio Grande do Norte.
Já entre os 12 candidatos da legenda ao Senado, apenas três podem alcançar a vitória: José Agripino Maia (RN), Marco Maciel (PE) e Demóstenes Torres (GO), único na legenda a liderar as intenções de voto para o cargo.
Apogeu e declínio O partido já teve seus tempos áureos. Desde a sua fundação, em 1985, participou de todos os governos até a eleição do petista Luiz Inácio Lula da Silva. Após Lula ser eleito, o espaço de domínio da legenda parece ter começado a diminuir.
Em 1998, o partido conseguiu eleger 152 deputados estaduais e uma bancada de 90 federais. Apesar de contarem com apenas cinco senadores, nove governadores foram eleitos naquele ano. Em 2002, os resultados pioraram. Enquanto 111 deputados estaduais foram eleitos, 41 a menos que no pleito anterior, a bancada na Câmara Federal passou para 73 parlamentares.
O número de governadores eleitos diminuiu para cinco. Mas, em compensação, 14 senadores foram eleitos.
Nas eleições passadas, a tendência de queda se manteve com a eleição de 98 estaduais, 54 federais e seis senadores. O único governador que o DEM conseguiu eleger, em 2006, foi José Roberto Arruda, no Distrito Federal.
Contudo, em novembro do ano passado, a Operação Caixa de Pandora da Polícia Federal desbaratou esquema de compra de apoio político na Câmara Legislativa do DF.
O episódio, que ficou conhecido como mensalão do DEM, culminou com a renúncia de Arruda no início de 2010 e grandes prejuízos políticos para o partido.
Já em clima de campanha este ano, a legenda sofreu diversas críticas pela indicação do deputado Indio da Costa para concorrer a vice na chapa encabeçada por José Serra (PSDB). Os tucanos chegaram a indicar o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) para a vaga e só abriram mão da escolha depois de intensa negociação entre caciques das duas legendas.
Ônus de ser oposição Para o deputado ACM Neto (DEM-BA), a queda no desempenho nas urnas se deve à decisão do partido de se manter como oposição ao governo Lula. Ele avalia que em curto prazo, fatalmente, a opção levaria a redução do partido.
No entanto, afirma que com o tempo, levará a consolidação do DEM.
– O certo é que o partido conseguiu extirpar aquela imagem de ser uma sigla fisiológica, que dependia de cargos públicos – avalia.
Mas, para além da renovação política prevista por ele, ACM acredita que a dependência com o PSDB está com os dias contados.
– Aquele alinhamento praticamente inevitável com apenas um parceiro acabou qualquer que seja o resultado das urnas – enfatiza.
Ele não descarta a possibilidade do DEM se fundir a outro partido, mas afirma que é muito cedo para tratar a questão. No entanto, garante que após as eleições o partido entrará em fase de mudanças.
Candidato ao Senado pelo Rio de Janeiro, o ex-prefeito Cesar Maia (DEM), não reconhece a redução do partido e afirma que a tendência é o resultado nas urnas se manter como o de outros pleitos. Sobre mudanças futuras, ele é enfático: – Permanecerá exatamente como hoje – garante.
Na propaganda eleitoral do candidato praticamente não há referência ao DEM. Questionado sobre os motivos desse aparente distanciamento da legenda, Maia afirma que apenas cumpre o que a lei determina, que é a utilização do nome da coligação.
Espera pelo PSDB Mais crítico e direto, o deputado federal e candidato ao Senado pelo DF, Alberto Fraga – ex-secretário de Transportes do governo Arruda – afirma que o DEM "espera demais pelo PSDB e não assume um papel de oposição de fato e de direito". E defende mudanças no partido, sem descartar nenhuma possibilidade.
– Nós não tivemos capacidade de fazer com que os escândalos do governo do PT fossem massificados.
O pior foi lá atrás, quando não tiveram coragem de fazer o impeachment do Lula – disse em referência ao escândalo do mensalão, em 2005. – Nossos líderes disseram que era golpe e que deveria dar corda para ele (Lula) se enforcar.
Ele evolui e a situação é essa.
A reportagem do JB tentou conversar durante todo o final de semana, tanto por telefone como por e-mail, com o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ). Ele se comprometeu a enviar as respostas por e-mail, mas até o fechamento desta edição, não houve retorno.
DNA da ditadura atrapalha o DEM
Para analistas, falta de identidade e discurso neoliberal dificultam existência do partido
Ana Paula Siqueira
BRASÍLIA
Fundado em 1985, o então Partido da Frente Liberal (PFL) surgiu de uma dissidência com o extinto Partido Democrático Social (PDS), que apoiava a ditadura militar e com origem na Aliança Renovadora Nacional (Arena). Para alguns analistas, talvez seja essa relação com o regime que tenha levado o DEM ao patamar atual.
O partido resolveu adotar nova cara em 2007, quando trocou o tradicional nome Partido da Frente Liberal (PFL) pelo Democratas (DEM) e escolheu para presidência Rodrigo Maia (RJ). Classificado de fisiologista e dependente do governo, a mudança foi uma tentativa de por fim a esses estigmas.
Contudo, cientistas políticos avaliam que essa possa ter sido uma faca de dois gumes. Se o por um lado o partido conseguiu nova roupagem, também pode ter perdido um pouco de sua identidade. Além disso, avaliam, o discurso liberal pode assustar um pouco o eleitorado.
Para Francisco Carlos Teixeira, cientista político da UFRJ, a proposta de uma política não intervencionista, como a propagação de redução da carga tributária no país, não tem convencido a população.
Isso porque, na valiação dele, o mérito do estado não intervencionista.
A grande maré de privatizações no governo Fernando Henrique Cardoso seria um dos responsáveis.
– O partido começa claramente com uma bandeira tipicamente neoliberal. Falar isso no Brasil quer dizer o quê? Que o estado não vai mais desenvolver políticas públicas? – questiona.
Raiz do problema Eurico Figueiredo, da Universidade Federal Fluminense (UFF) acredita que as origens do DEM no extinto Arena, partido que dava suporte ao regime autoritário, é um dos motivos pelo encolhimento da legenda.
Figueiredo avalia que não houve substituição das antigas lideranças, como Antônio Carlos Magalhães e Jorge Bornhausen. E acredita que, ao longo desse processo, o partido acabou perdendo sua identidade.
– Não tem consistência ideológica, representatividade política e perdeu a estrutura que construiu no regime autoritário. Algumas lideranças saíram para ficar na situação – afirma.
Contudo, o cientista acredita que falte no país um partido conservador "de fato" para fazer contraponto com o atual quadro político, "pois hoje no Brasil todo mundo se diz de esquerda".
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