"Windeck – Todos os Tons de Angola" será exibida pela TV Brasil a partir do dia 10 de novembro. Para ativistas, produção traz discussão sobre paradigmas racistas e é também uma oportunidade de romper preconceitos contra os países africanos
Por Jarid Arraes
No dia 10 de novembro, os telespectadores brasileiros testemunharão um marco para a televisão do país: a novela africana "Windeck – Todos os Tons de Angola" será exibida pelo canal TV Brasil, de segunda a sexta a partir das 23h. É a primeira vez que uma telenovela produzida na África tem lugar na grade de programação da televisão brasileira.
O Brasil, que é mundialmente conhecido por exportar suas novelas, já possui alguma familiaridade com produções internacionais, principalmente com as novelas mexicanas que são exibidas pelo SBT desde a década de 1980. No entanto, a importação de Windeck representa muito mais do que a reprodução do conteúdo estrangeiro, pois a programação também será a primeira novela exibida no Brasil em que mais de 90% do elenco é constituído por pessoas negras. Um fato marcante para o movimento negro nacional, que protesta contra a falta de atrizes e atores negros na teledramaturgia.
Para o bioquímico nigeriano Abdulrazak Ibrahim, que mora no Brasil há sete anos e aprendeu português com a ajuda da televisão, seu interesse por novelas brasileiras se transformou em repúdio quando percebeu o racismo na programação. "De repente me perguntei como é possível ter tanta gente negra nas rodoviárias, nas paradas de ônibus, nas feiras, e o IBGE coloca lá que 50% da população brasileira é negra, mas todos os programas importantes na televisão parecem ser feitos para um público branco? Daí parei de ver TV brasileira".
Por isso, Ibrahim acredita que Windeck terá um impacto positivo e será mais uma ferramenta no combate ao racismo e à estereotipagem da população negra. "Ando aqui no Brasil e vejo o quanto as pessoas ficam abismadas de ver um negro sendo doutor. Vejo o choque delas porque eu tenho iPhone, falo varias línguas, entendo de biologia, política, história e filosofia. Vendo televisão caiu a ficha. As pessoas estão acostumadas a ver os negros varrendo chão, sendo babás e jardineiros. Nos programas que mostram cenas de crime, sempre é um negro jovem envolvido com drogas, roubo ou estupro", exemplifica.
Para a estudante de Letras e ativista negra Andreza Delgado, uma das questões mais importantes é a representatividade e a possibilidade que os negros brasileiros terão de se reconhecer nos personagens. "É diferente, sabe, ver o mocinho e a mocinha da novela pretinhos", diz. Ela também chama atenção para a reprodução de outros tipos de estereótipos em Windeck, como o sexismo e a objetificação feminina, mas compreende que a novela não tem uma proposta necessariamente política e por isso não trará um enredo totalmente livre de pontos problemáticos. Mesmo assim, Windeck traz grandes expectativas e deve ser valorizada por romper com paradigmas racistas. "Acho um grande avanço pessoas negras ligarem suas televisões e se depararem com pessoas da mesma cor e traços que elas; se deparar com pessoas negras em várias situações, não só como empregadas e motoristas, que isso só avance, que possamos ter mais desenhos e apresentadoras infantis negras, mais programas sobre a cultura negra, mais gente negra na televisão de domingo e na bancada do jornal do horário nobre, porque representatividade é importante sim", finaliza.
A novela também apresentará elementos da cultura africana ao público brasileiro, que poderá conhecer melhor a culinária, a música e a linguagem de Angola. Na perspectiva de Abdulrazak Ibrahim, essa também é uma oportunidade de romper preconceitos contra os países africanos, que ainda são menosprezados pelos brasileiros. "Já ouvi cada pergunta como 'Lá na África tem avião? Tem muita guerra e fome, né?' ou 'Rapaz, o Brasil é muito generoso com vocês, né?'. E como as pessoas pensam como se a África fosse um país, mas não um continente com 57 países cujo tamanho caberia EUA, o oeste da Europa, Japão, China, Índia, Itália, Alemanha, França, Espanha, Portugal, Bélgica, Holanda e Grã Bretanha. Vejo o quanto muitos brasileiros só associam a África com miséria, pena e doença".
Quem deseja acompanhar a estreia da novela e conhecer mais a fundo o contexto da trama pode visitar o seu site exclusivo no portal EBC (http://tvbrasil.ebc.com.br/novelawindeck) ou receber as atualizações pela página oficial no Facebook (https://www.facebook.com/NovelaWindeck).
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