Escola Antonio Conselheiro atende 200 crianças na área rural de Santana do Livramento | Foto: Solange Engelmann/ Assessoria MST
Débora Fogliatto*
A Escola Estadual de Ensino Médio Antônio Conselheiro, que atende 200 crianças e jovens de dez assentamentos do Movimento Sem Terra (MST), elaborou um projeto de nomeação de estradas que envolveu toda a comunidade. A iniciativa saiu dos assentamentos e rodou o Brasil, sendo premiada com o 2° lugar na Mostra Brasileira e Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec), no eixo: Ensino Médio Politécnico, ciências sociais, comportamento e artes.
A Mostratec aconteceu de 27 a 31 de outubro, em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, e reuniu quase 500 projetos de escolas de vários países. O projeto também já foi premiado em 1° lugar no eixo tecnológico do Ensino Médio na Feira Estadual das Escolas do Campo (Fecitec), e em 2° lugar na Feira Regional de Ciência e Tecnologia, ambas realizadas este ano.
A instituição de ensino localizada em Santana do Livramento, na fronteira oeste do Rio Grande do Sul, desenvolveu o projeto "Construindo Caminhos para a Valorização do Espaço em que Vivemos", com a proposta de nomear as estradas rurais da região, que até então não tinham nomenclatura formal, para facilitar o acesso aos serviços públicos, como transporte escolar, correio, telefone e a comunicação com outras comunidades e cidades próximas. Para nomear as estradas, os estudantes pesquisaram sobre figuras importantes da história de seus assentamentos, debatendo a proposta com suas comunidades.
A Escola funciona em parceria com os governos municipal e estadual, atendendo Ensino Fundamental e Médio Politécnico. Para o projeto, todos os alunos e alunas se envolveram. "Fomos na comunidade contar as histórias, conferir com os mais velhos, depois o pessoal fez uma conversa com a comunidade para ver os nomes de estradas que gostariam de colocar. Isso voltou para a escola, onde continuaram estudando sobre isso", contou a diretora, Carmen Willes Vedovatto.
Tudo começou, conforme narra Carmen, por causa do transporte escolar, fornecido pela Secretaria de Educação do município. "A Secretaria faz o transporte das crianças e tinha muito problema em localizar, como chamar e então colocavam apelidos, como 'corredor do Fulano', 'estrada que vai para não sei onde', 'estrada do cemitério'", contou a diretora. A discussão evoluiu para um mapeamento, maquetes, desenhos do caminho e diversas atividades com todas as turmas.
A estudante da 5ª série Brenda Mendes de Oliveira, de 11 anos, conta que a participação no projeto possibilitou o acesso ao histórico das comunidades assentadas. "Aprendi um pouco mais sobre a história de assentamentos próximos que não conhecia. A gente foi nos assentamentos, conversou com as pessoas sobre como eram os apelidos das estradas e depois decidimos juntos os novos nomes", explicou.
A Escola Antônio Conselheiro funciona no meio rural desde 2002, mas só foi autorizada legalmente em 2009 e o Ensino Médio foi inserido em 2013, assim como a Educação de Jovens e Adultos.
Projeto de Lei
A próxima etapa para legalizar a proposta dos estudantes conta com a parceria do vereador Luiz Itacir (PT), ele próprio um assentado, que encaminhou a proposta na Câmara de Vereadores. Os nomes das estradas foram objeto de audiência pública no Legislativo de Livramento e então encaminhados como um Projeto de Lei, que já foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e agora está na Comissão de Infraestrutura. Depois disso, será votado em Plenário, o que o vereador estima que deve demorar cerca de duas semanas.
Itacir conta que a ideia é transformar a proposta da escola em um projeto amplo, que possa contemplar também outras comunidades, especialmente os 33 assentamentos da cidade. "Queremos ampliar o projeto para demais comunidades de Santana do Livramento. As estradas não têm nome, são chamadas por apelidos e agora estamos dando a denominação", comentou.
O vereador explica que, após a legalização dos nomes, a Secretaria de Trânsito irá colocar placas de indicações e será criado um posto central dos Correios, para facilitar a entrega de correspondências. "O que a gente quer é valorizar o trabalho de participação da comunidade", garantiu ele, que vive no assentamento de Faxina, onde batalha para que seja construída uma escola. Itacir acredita que não terá dificuldades para aprovar o projeto, pois a maior parte dos vereadores demonstrou apoiar a iniciativa.
*Com assessoria de imprensa do MST/RS
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