O sentimento que faz explodir a irracionalidade
A leitura de algumas críticas sobre Relatos Selvagens me levaram a colocá-lo como prioritário na minha programação cinematográfica. Mas um compromisso aqui e outro ali me impediram de vê-lo logo após a sua estreia. Só na quinta-feira (6), depois de lutar, sob a chuvarada, para conseguir um táxi, consegui assisti-lo na companhia da minha amiga Dedé Porto. Não me arrependi. O filme dirigido por Damián Szifron e produzido, entre outros, por Pedro Almodóvar, realmente, merece elogios. As histórias, como todos ou quase todos já sabem, reproduzem fatos do cotidiano, em que o (a) protagonista tem reações extremadas. É aí que mora o problema. Por que não conseguimos conter nossas revolta, raiva e rancor? O que nos faz perder a racionalidade?
Lembro de outro filme, Um Dia de Fúria, de Joel Schumacher, com Michael Douglas. O personagem se deixou tomar totalmente pelo ódio, sem condições de pensar nas consequências de seus atos. Também recordo notícias que escrevi e li sobre pessoas que reagiram com destruição à demora no atendimento em um posto de saúde, por exemplo.
Ao fazer um exame de consciência, me dou conta, que também já tive meus momentos selvagens e de fúria. Não, não destruí nada. Não agredi ninguém. Mas, cheguei a gritar e a desmoronar internamente. Nada que durasse mais que alguns minutos e acabasse prejudicando mais a mim do que aos outros. Mas, por que somos tomados por essa irracionalidade?
Nos Relatos, de Szifron, ficam claras algumas situações insuportáveis: não ser aceito pelos outros, ter suas pretensas qualidades diminuídas, sentir-se traído, explorado, magoado, desacreditado. Nestes casos, o que impera é o desejo de vingança. Ir à desforra é o que conta. Não interessam as consequências. A noiva, o músico, o engenheiro, o motorista, o empresário, a ex-presidiária, todos só pensam em devolver na enésima potência a ofensa de que se sentem vítimas.
O filme nos faz ver como somos dominados pela vontade de retaliação. O mundo se tornou uma arena de represálias sem limites. São indivíduos contra indivíduos, países contra países, religiosos, que pregam o amor e a fé, contra religiosos, que dizem propagar o mesmo. A luta pela sobrevivência, praticada pelos animais, ditos irracionais, não tem a ver com o desejo de vingança, tão característico dos animais tidos como racionais. Esse é o sentimento que devemos aprender a controlar, desde o útero. Difícil, mas não impossível.
Nubia Silveira é jornalista.
http://www.sul21.com.br/jornal/o-sentimento-que-faz-explodir-a-irracionalidade/
Nenhum comentário:
Postar um comentário