Seminário internacional na Argentina reafirma: "Soberania ou abutres"
Sindicalistas se mobilizam em apoio à decisão da presidenta Cristina Kirchner de enfrentar os abusos e atropelos do capital financeiro
27/08/2014
Leonardo Wexell Severo
de Buenos Aires (Argentina)
O seminário internacional "O contexto político mundial, a América Latina, o neoliberalismo e os novos cenários a partir da ação dos fundos abutres" reuniu no dia 21, em Buenos Aires, lideranças sindicais de 15 centrais de todo o mundo.
De acordo com Hugo Yasquy, presidente da Central de Trabalhadores da Argentina (CTA), entidade promotora do evento, "esta foi a primeira manifestação de apoio ao governo e ao povo argentino contra a especulação e pela libertação das garras do imperialismo".
No dia 21, a presidenta Cristina Kirchner anunciou em cadeia de rádio e televisão o envio de um projeto de lei ao Congresso Nacional para reabrir a troca de títulos, trazendo para o país vizinho a jurisdição sobre bônus da dívida que se encontravam em mãos do Banco de Nova Iorque. A expectativa do governo é que a lei entre em vigor já em setembro, quando vence uma nova parcela da dívida de US$ 200 milhões.
Documento assinado pelas centrais denuncia que a decisão do juiz Thomas Griesa, do tribunal de Nova Iorque, permite que cerca de 7% dos portadores de títulos da dívida pública argentina, que não aceitaram a negociação realizada entre 2005 e 2010, agora recebessem as ações com um ágio que sangraria o país. Indicado pelo ex-presidente Richard Nixon, Griesa é vinculado ao "megainvestidor" estadunidense Paul Singer, um dos maiores financiadores do Partido Republicano.
"Esta é uma atitude injusta e irresponsável que privilegia e convalida os desmedidos apetites dos abutres financeiros em detrimento dos interesses soberanos da Argentina e castiga uma nação que desde há uma década, e com muitíssimo esforço, cumpre fielmente com seus compromissos internacionais", assevera o manifesto das entidades. Desde 2005, a Argentina já desembolsou 190 bilhões de dólares para pagar suas "obrigações".
Estas atitudes dos tribunais dos EUA, destaca o documento, são, além de tudo, "irresponsáveis", porque "desprezam os enormes riscos que trazem à ordem mundial", num contexto de "crise que afeta a muitos países centrais", para "validar a ambição dos grupos financeiros por cima da soberania argentina e de qualquer outra nação do planeta".
E mais: "Chegam hoje ao absurdo de impedir que 92,4% dos credores da Argentina possam efetivar a cobrança e receber suas dívidas, quando nosso país já efetuou o pagamento das mesmas através do Banco Correspondente, que retém os fundos, por ordem judicial, descumprindo seus compromissos com nosso país e com quem renegociou bônus".
Prostíbulos da especulação
Painelista do seminário, o professor Emir Sader saudou "a heroica negociação e o exemplo do povo argentino, que se enfrenta contra a hegemonia imperial do capitalismo financeiro internacional". "Nosso inimigo central é o capital especulativo", enfatizou Emir, denunciando que os abutres utilizam os "paraísos fiscais, verdadeiros prostíbulos para o mercado de drogas e de armas", para se manter à margem da lei.
"Por isso, a Argentina é um mau exemplo para países como a Grécia e a Espanha, que caíram na armadilha do Fundo Monetário Internacional (FMI) e passaram a privatizar o patrimônio e a expropriar os direitos dos trabalhadores", disse.
"Respondemos com unidade e mobilização aos ataques desses vampiros. A luta da Argentina contra os fundos abutres representa a resistência dos povos de todo o mundo, que não aceitam ser saqueados para enriquecer cada vez mais uma ínfima minoria", declarou João Antonio Felicio, presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI).
A irracionalidade desta lógica, apontou, fica clara quando "vemos que apenas financeiro1% recebe 65 vezes mais do que a metade da população mundial".
Submetidos à cartilha neoliberal, denunciou João Felicio, "muitos governos, em aliança com os empregadores, fazem reformas para atacar e retirar direitos, agudizando a concentração de renda e de poder". Exemplo disso, esclareceu, "no grande império, os Estados Unidos, em que a diferença salarial entre os maiores e menores salários era de 30 vezes há 20 anos, hoje é de 300 vezes".
Mídia manipula e mente
O presidente da CSI também atacou o caráter manipulador da grande mídia, "que mente abertamente em favor do capital internacional, respaldando ações como a do juiz Thomas Griesa contra a soberania e o desenvolvimento das nações".
Manifestando a "mais ampla e efetiva solidariedade brasileira contra os fundos abutres", Antônio Lisboa, secretário de Relações Internacionais da Central Única dos Trabalhadores (CUT), frisou que "o ataque sofrido pela Argentina é feito contra todos os que não se dobram à ingerência externa".
Roberto Franklin de Leão, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), declarou que chegou o momento de "decisões firmes, de enfrentamento à exploração das altas finanças".
"Chega de dominação, de colonização, de intromissão. Chega de abutres", ressaltou. Ao descrever a magnitude da devastação causada pelos fundos especulativos, Paulos Antonopoulos, dirigente da Federação dos Servidores Públicos da Grécia, citou, por sua vez, "o desemprego de 27%, que já chega a 62% entre os jovens gregos, a profunda regressão salarial e de direitos, além da privatização dos portos", entre outras medidas para atender a Troika (Banco Mundial, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional)".
Ao final do evento, Hugo Yasky entregou ao ministro de economia da Argentina, Axel Kicillof, uma declaração firmada por todos os delegados internacionais em apoio à luta contra os fundos abutres.
http://www.brasildefato.com.br/node/29617
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