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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

12.2.14

Direitos Humanos - Carta Maior

10/02/2014 - Copyleft

Quanto vale a loucura industrializada?

Há uma tendência de catalogar os comportamentos e afetos humanos através de um conluio sutil entre a indústria farmacêutica e a psiquiatria


Najar Tubino


Porto Alegre - Segundo os dados do Intercontinental Medical Statistics – IMS, a indústria farmacêutica faturou em 2013 quase US$1 trilhão. Em 2001 esta mesma indústria faturou US$393 bilhões e sete anos depois US$773 bilhões. Em 2012 o mercado brasileiro de antidepressivos faturou R$1,85 bilhão. As vendas, de acordo com os dados da ANVISA, subiram 48% em cinco anos. Em 2012 foram vendidas 42,33 milhões de caixas de antidepressivos, o que significa que 1 em cada 5 brasileiros consumiram uma caixa por ano. O Manual de Estatísticas e Diagnósticos (DSM), da Associação de Psiquiatria Americana (APA), que lista as diferentes categorias de transtornos mentais e critérios para diagnosticá-los, registrou um aumento de 26 para 395 na quantidade de doenças mentais, desde o final da II Guerra Mundial.
 
Ou seja, a indústria farmacêutica, principalmente a responsável pela produção de medicamentos psiquiátricos, está faturando em cima da farsa do aumento de doenças mentais, com a conivência dos médicos, que antigamente no Brasil chamávamos de “a máfia de branco”. O filósofo francês Jean Claude St-Onge, autor de vários livros, entre eles – Os desvios da indústria de saúde -, diz que desde os anos 2000, 314 mil eventos para médicos nos Estados Unidos foram patrocinados pelos laboratórios. Eles pagaram entre US$200 e 400 mil dólares para cada evento, e além disso, investiram outros US$60 mil dólares na Associação de Psiquiatria Americana, na realização de 50 simpósios da entidade, o que dá um total de US$3 milhões.
 
Puro 171, do código penal
 
Segundo o mesmo especialista, os gastos com marketing inflam os preços dos medicamentos em 30%. E mais: um estudo da Health Research Group Public Citizen, fundado por Ralph Nader e Sidney Wolfe, chegou à conclusão que na realidade o desenvolvimento de um remédio novo custa entre US$71 e 150 milhões, enquanto o número divulgado pela indústria farmacêutica atualmente é de US$1,3 bilhão, porque envolve a pesquisa de 10 a 15 anos. Tudo balela. A maioria dos medicamentos que esta gangue coloca no mercado são “me-too” – moléculas equivalentes àquelas que já existem no mercado -, ou então produtos reciclados que são comercializados com a ajuda do marketing e da propaganda.
 
Uma pesquisa da revista francesa Prescrire, na década de 1990, avaliava que dos 577 medicamentos novos apresentados apenas 8,7% representavam um avanço terapêutico. Recentemente a GSK (Glaco Smith Kline) e a Bayer foram condenadas a pagar US$375 milhões por terem mudado o nome de seus produtos e por terem fraudado o Medicaid e o Medicare.  Outro fabricante, responsável pela produção do medicamento PREPULSID, usado para tratar o refluxo em bebês nos Estados Unidos – 20% dos recém-nascidos eram medicados - fez um acordo para pagar US$90 milhões para mais de 16 mil bebês afetados e mais de 300 mortes. Em 2004 a Pfizer, maior farmacêutica do mundo, pagou US$430 milhões pela propaganda fraudulenta do remédio GABAPENTIN, usado para combater convulsões e epilepsia e vendido também para combater depressão e bipolaridade.
 
Negócio é vender remédio
 
A professora Adriane Faugh Buman, da Universidade Georgetown, especialista em práticas da indústria farmacêutica, relata o seguinte:
 
“- Existe um número maior de pessoas saudáveis no mundo do que de pessoas doentes. E é importante para a indústria fazer com que as pessoas que são totalmente saudáveis pensem que são doentes. Existem muitas maneiras de fazer isso. Uma delas é mudar o padrão do que caracteriza uma doença.”
 
O padrão para diagnóstico de pressão alta, diabetes e colesterol alto caiu ao longo dos últimos anos, explica a professora.
 
“- Quando eu estive na escola de medicina uma pressão 12 por 8 era considerada perfeita. E agora é considerada pré-hipertensão. Outra estratégia usada pela indústria farmacêutica é expandir a categoria de doença ou mesmo criar novas doenças. Um exemplo é a doença da ansiedade social. A psiquiatria é a profissão mais suscetível a diagnósticos questionáveis porque todos os diagnósticos são subjetivos. Dependem muito da cultura e não existe nenhuma prova, nenhum exame para comprovar a existência da doença. Por isso é um alvo. Uma das categorias que talvez tenha sido criada é essa doença da ansiedade social, que antes chamávamos de vergonha”.
 
Só interessa a receita
 
O psiquiatra brasileiro Luis Altenfelder Silva Filho, autor do livro “Doença Mental, um tratamento possível” concorda que as medicações que afetam o sistema nervoso podem causar efeitos colaterais e critica a presença excessiva de medicamentos na relação paciente-psiquiatra: “o número de prescrições só aumenta, consequentemente, seus efeitos colaterais também, sem que as causas sejam tratadas. Isso é influência da psiquiatria biológica dos Estados Unidos, que faz a consulta girar só em torno da receita médica. Tem que discutir a receita, mas também os efeitos dos remédios e os aspectos emocionais, sociais e profissionais da vida do paciente”.
 
Um grupo de trabalho da DSM nos Estados Unidos, conduzido por Lisa Cosgrove, da Universidade de Harvard, concluiu que 69% dos pesquisadores responsáveis pela edição do Manual de Estatísticas e Diagnósticos estão comprometidos com a indústria farmacêutica.
 
“- Há uma tendência de catalogar os comportamentos e afetos humanos através de um conluio sutil, talvez não tão consciente, entre a indústria farmacêutica e a psiquiatria, para desenvolver uma medicação adequada a cada um deles”.
 
O professor Daniel Becker, da Universidade Federal do Rio de Janeiro comenta a mesma situação:
 
“- Enxaqueca, obesidade, fibromialgia, ejaculação precoce, síndrome da fadiga crônica e até tristeza, que poderiam ser consideradas doenças comuns, se tornaram doenças psiquiátricas...fruto de uma relação promíscua entre psiquiatras e laboratórios, também chamada de biopolítica ou de farmacopornografia”.
 
No Brasil, ocorreu um aumento significativo entre 2005-2009 nas vendas de remédios antidepressivos, que atingiram US$976 milhões. De 2000 a 2004 houve um aumento de 1020% nas vendas do METILFENIDATO, estimulante usado no tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade .
 
O professor da UFRJ e psiquiatra Miguel Chalub, de 70 anos, diz que em 2030 a depressão será a doença mais comum no planeta. Porém, ele critica a dose excessiva de diagnósticos da doença:
 
“- Tanto médicos como pacientes estão confundindo tristeza com depressão. Não se pode mais ficar triste ou entediado, que imediatamente estamos enquadrados como depressivos. É o que podemos definir como medicalização da tristeza. Além disso, quem mais receita antidepressivos no Brasil não são os psiquiatras, mas outros especialistas. A depressão é uma doença que tem ligação com a produção de serotonina, mas a sua causa ainda é um dos grandes mistérios da medicina. A gente não sabe porque as pessoas ficam deprimidas. As raízes da depressão estão na infância, mas é muito doloroso mexer com a infância, não tem remédio para isso. As pessoas não querem mexer nas feridas, e preferem colocar um esparadrapo”.
 
Um exemplo significativo acontece neste momento no mundo inteiro. A explosão no consumo de RITALINA (metilfenidato). A produção cresceu 400% entre 2002 e 2006. É o estimulante mais consumido no mundo. Usado para tratar narcolepsia e obesidade, com restrições, além do déficit de atenção e hiperatividade. Segundo a ONU, a produção de RITALINA no mundo gira em torno de 38 toneladas. Se somarmos todos os outros estimulantes, incluindo as anfetaminas, a produção chega a 34 toneladas. Do total, 34,6 são produzidas pelos Estados Unidos, que também são os maiores consumidores – 86,2% da produção. 
 



Créditos da foto: reprodução

http://www.cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FDireitos-Humanos%2FQuanto-vale-a-loucura-industrializada-%2F5%2F30223







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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz