Um ano após golpe, Paraguai busca se reinserir no cenário internacional
O processo todo não levou mais do que 48 horas. Em pouco tempo, o primeiro governo não alinhado ao Partido Colorado a chegar ao poder no Paraguai em mais de sete décadas se dissolvia. Em um movimento orquestrado pelos setores mais conservadores do país, foram 39 votos pela condenação, ante apenas quatro contrários. Votado na manhã de sexta-feira, 22 de abril de 2012, o impeachment do então presidente Fernando Lugo – cuja equipe teve apenas duas horas para apresentar uma defesa não mais do que simbólica no Senado – culminou com o rápido empossamento do vice-presidente Federico Franco, do Partido Liberal, naquela mesma noite.
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Efe (21/06/2013)
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Em um acordo relâmpago com os colorados, os liberais – que outrora haviam feito uma aliança com Lugo, aproveitando-se de sua popularidade para chegar governo e ocupar vários cargos – não tiveram grandes problemas em instituir um golpe de Estado pela via parlamentar, enquanto as atenções do continente estavam voltadas à Conferência Rio+20, realizada no Rio de Janeiro.
Lugo optou por acatar a decisão do Congresso para “que não se derramasse mais sangue por motivos mesquinhos em nosso país”. Do lado de fora do Parlamento, cerca de 20 mil pessoas protestavam contra o ato, mas a repressão foi tão rápida quanto eficiente. “Todos os edifícios em volta do Parlamento estavam com franco-atiradores, nós os víamos. Houve uma correlação desigual de forças”, lembra a jornalista María Paz Valenzuela. Da mesma forma, algumas vias de acesso do interior do país para Assunção foram bloqueadas pelo exército na tentativa de frear qualquer movimentação da população do campo, na qual estava a maior base de apoio do ex-mandatário.
Um ano depois do golpe, ainda sob a gestão de Franco, os paraguaios aguardam a posse do presidente eleito, Horacio Cartes, agendada para 15 de agosto. Com sua vitória nas urnas em 21 de abril com 46% dos votos, o Partido Colorado volta ao governo depois de uma pausa de cinco anos.
Parte daqueles que compunham o governo eleito se organizou, inicialmente sob a liderança de Lugo, na coalizão de partidos Frente Guasú (FG). À sua frente está agora seu secretário-geral, Aníbal Carrillo. Ele foi o nome que representou a FG nas urnas nas últimas eleições presidenciais, obtendo 3,32% dos votos. Para ele, fatos que aconteceram ao longo deste ano evidenciam as razões econômicas e políticas pelas quais o golpe aconteceu. “A aprovação das sementes transgênicas, o desmantelamento das políticas sociais, o endividamento do Estado como política econômica. Não creio que o objetivo de Cartes seja diferente: privatizações e endividamento do Estado”, avaliou em entrevista a Opera Mundi.
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Da mesma forma, o paraguaio Hugo Ruiz Diaz, assessor de Relações Internacionais do governo Lugo, faz uma avaliação pessimista do próximo governo e acredita que serão muitos os desafios. “Nem o Partido Liberal, nem o Partido Colorado poderão solucionar os problemas sociais e fundamentais do Paraguai”.
Para Diaz, com Cartes “o sistema neostronista está de volta”. A comparação do futuro presidente com Alfredo Stroessner, ditador do Paraguai entre 1954 e 1989, se deve em parte ao fato de os dois políticos serem do mesmo partido. Mas também porque alguns assessores de Cartes foram ligados à ditadura, como Eladio Loizaga, José Antonio Moreno, Hugo Saguier e Leila Rachid.
Perseguição a movimentos sociais
Ainda segundo Diaz, um dos efeitos do golpe até o momento foi a perseguição a movimentos sociais e o crescimento do discurso da perseguição a “comunistas”. “Como nas décadas de 60 e 70”, afirmou.
Sobre esse aspecto, Victor Barone, do Partido Convergencia Popular Socialista, uma das legendas que compõem a Frente Guasú, faz uma avaliação semelhante. De acordo com ele, é possível falar em “um sentimento muito 'marcartista'', em um contexto no qual os movimentos de esquerda foram marginalizados do debate político. Os colorados estão em extrema euforia porque estão de volta ao poder”, disse.
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Na avaliação de Barone, uma consequência imedianta é o aprofundamento de um modelo agroexportador que levará a uma intensificação dos conflitos com os camponeses.
Em 1º de julho, junto de Lugo, outros quatro membros da coalizão assumirão um posto no Senado. “É uma bancada pequena, de cinco nomes, com mobilização popular. E temos um governo totalmente inimigo”. Barone se diz “moderadamente otimista” por acreditar que as tentativas de impedir que o ex-presidente assuma o cargo não terão sucesso. “É difícil neste momento. O custo político seria muito alto. Seria difícil sustentar”.
Dos 45 senadores, 19 pertencem ao Colorado. A segunda força é o Partido Liberal, com 13 cadeiras. Na Câmara dos Deputados, o Partido Colorado terá 44 das 80 cadeiras, enquanto o Liberal terá 27. Outras seis legendas repartem os nove postos restantes.
Política externa
A política externa do Paraguai depois do golpe também se alterou de imediato. Em seu mandato, Lugo esteve cercado de governos progressistas – no Uruguai, no Brasil, na Argentina, na Venezuela, na Bolívia e no Equador. Em 22 de junho passado, a reação imediata dos países do Mercosul e da Unasul foi a de condernar o golpe e isolar país. Com a realização de novas eleições em abril, as relações se normalizaram.
A expectativa de Diaz em relação ao governo Cartes é que ele “assumirá uma política agressiva para deslegitimar a integração do Mercosul e da Unasul”. Não por razões comerciais, mas por marcar oposição ao governos progressistas. “Acredito que a grande lição que aprendemos é que nenhum processo na América do Sul conseguirá uma mudança progressista sem integração regional”, completou.
Já Aníbal Carrillo define a situação do Paraguai como contraditória: o novo governo precisará incorporar o Paraguai ao Mercosul por razões comerciais, apesar da afinidade política com outros países que não aqueles que compõem o bloco sul-americano. “É uma condição que não estão sabendo muito como resolver. Alguns setores paraguaios, por exemplo, querem tirar a Venezuela do Mercosul, e os outros países não vão aceitar”.
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