O 'Fora Temer' é uma obrigação cívica
12 de Julho de 2016
Independente de preferências políticas ou partidárias, uma análise minimamente isenta dos últimos acontecimentos terá que reconhecer que o governo Temer não é apenas um desastre, é um tapa na cara da sociedade brasileira. Difícil acreditar em tamanha afronta sob ares de normalidade e complacência.
Os brasileiros estão cansados de corrupção - este lugar comum, já gasto de tanto uso, ainda assim permanece válido. Portanto é simplesmente inadmissível derrubar um governo corrupto para colocar no lugar outro mais corrupto ainda.
O acordo Temer-Cunha para salvar o mandato do bandido mais famoso do país é um acinte, um escracho com o país. Como se não bastassem os 7 ministros envolvidos em corrupção, como se não bastasse o "pacto" do Romero Jucá para colocar o Temer na presidência e parar a Lava-Jato, como se não bastasse o governo rebaixar a CGU limitando sua autoridade, como se não bastasse receber o Cunha em casa, fora da agenda oficial e na calada da noite...
Enfim, como se não bastasse tudo isso, Temer ainda tem a desfaçatez de retirar a urgência do pacote anti-corrupção em tramitação no congresso. Essa medida efetivamente engaveta propostas de leis que criminalizariam o caixa 2 e o enriquecimento ilícito de servidores públicos.
A quem interessa isso? A quem interessa salvar Eduardo Cunha?
O próprio Temer tem todo o interesse em esfriar o noticiário policial pois quem sabe assim esquecem a denúncia fartamente documentada de que ele recebia propina de Marcelo de Azeredo, ex-presidente da Codesp. Ou de um certo coronel Lima, seu amigo, acusado de operar desvios em licitações da Eletronuclear...
Já no front econômico, mesmo os colunistas mais favoráveis da imprensa já não conseguem esconder o desconforto com um governo que deveria ter vindo para garantir a responsabilidade fiscal e aumenta os gastos como se não houvesse amanhã.
Um governo que ao invés de cortar 4 mil cargos comissionados como prometido, promove a criação de 14 mil novos cargos. Um governo que aumenta em 12 vezes liberação de emendas parlamentares para garantir a votação do impeachment. Um governo que, em plena crise, concede aumentos ao judiciário de até 41% elevando a previsão de gastos em mais R$ 60 bilhões nos próximos anos. Um governo que pretende doar R$ 17 bilhões em ativos públicos para as empresas de telecomunicações. Um governo que vai aliviar a dívida dos estados sem nenhuma contrapartida, aumentando o déficit em troca de mais alguns votos no senado. O golpe está saindo caro.
Não se iludam: nem a contenção dos gastos com os pobres e nem as bondades para os ricos farão o país voltar a crescer, muito pelo contrário.
Temer conseguiu, em tão pouco tempo, colocar em prática exatamente o oposto do que os Brasileiros pediram nas ruas em junho de 2013:
- Os manifestantes pediam mais saúde pública. Temer avisa que vai limitar os gastos do SUS e que pode permitir a criação de planos que não possuam a cobertura de saúde mínima exigida pela ANS (hoje ilegais).
- Os manifestantes pediam mais educação. Temer anuncia que vai limitar também os gastos em educação, pelos próximos 20 anos, sem nem mesmo acompanhar o crescimento populacional.
- Os manifestantes pediam renovação na política. Temer apresenta: Romero Jucá, Eliseu Padilha, Henrique Alves, Moreira Franco... Precisa dizer mais alguma coisa?
- Os manifestantes pediam uma nova forma de fazer política. Temer troca cargos por votos no impeachment: o filho do senador Perrela (sim, o do helicóptero de cocaína) ganha cargo no ministério, o filho do Paulinho da Força também, sem falar no líder do governo que é indicado por Eduardo Cunha e ainda responde por tentativa de homicídio!
Não há escrúpulos no governo Temer. O presidente provisório sente-se livre de qualquer compromisso assumido com os eleitores, simplesmente porque não os tem. Temer adota propostas que jamais ganhariam uma eleição, isto é um fato.
Temer desmonta equipes de técnicos do SUS que ousaram escrever uma carta aberta em defesa da saúde pública, tenta desmontar a EBC e a TV Brasil, dispensa todos os técnicos responsáveis pelo programa de inclusão de crianças deficientes do Ministério da Educação, desmonta o Ministério da Cultura e o Ministério da Tecnologia.
Temer é um desastre para o Brasil. Deixá-lo concluir o desmonte do país é um crime que precisa ser evitado urgentemente.
As manifestações contra Temer tem sido diárias. Onde há concentração de pessoas, seja em shows, seja na Virada Cultural, seja na reunião anual da SBPC, há protesto contra o governo Temer e seus ministros.
Portanto, não se omita. A menos, é claro, que você queira ser lembrado como cúmplice dessa bandalheira.
Fora Temer!
(CC - livre reprodução)
* Engenheiro Pesquisador da PUC-Rio
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