Dom Casaldáliga e a independência da Catalunha: "Preferiria que não houvesse. Não é um processo natural. Não faz sentido"
28 Setembro 2017
Foi sempre como um junco pequeno e fino, mas com saúde de ferro e nervos de aço. Hoje, com seus 89 anos, dom Pedro Casaldáliga (Balsereny, 1928), o bispo-poeta dos marginalizados continua sendo um junco, mas dobrado pelo Parkinson. De sua cadeira de rodas, administra seus silêncios e economiza suas palavras, que, de vez em quando, seguem fluindo como dardos proféticos: precisos e justos. Não quer a independência catalã, pede aos jovens que passem à ação e afirma que Francisco é "uma benção de Deus".
A entrevista é de José Manuel Vidal, publicada por Religión Digital, 26-09-2017. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Dom Pedro, você gosta de receber visitas?
Algumas, sim.
Como catalão e Prêmio da Catalunha, qual a sua opinião sobre o processo?
Vamos ver o que acontece com a independência. Preferiria que não houvesse. Há pessoas sensatas que vão focar a coisa de forma diferente. Não é um processo natural. Não faz sentido.
Conheceu Tarancón? (foi cardeal-arcebispo de Madrid)
Sim, quando eu era seminarista, em Barbastro, e ele bispo em Solsona. Foi uma figura digna e com vocação de mediador, naquele momento difícil na Espanha.
De onde lhe vem a esperança e a força apesar de tudo?
Contando com alguém.
Quem é esse alguém?
Só poderia ser Ele.
O que alimenta sua esperança?
A Ressurreição de Cristo.
Se pudesse mudar uma só coisa no mundo, qual seria?
Que tudo o que tem poder se coloque no lugar certo: a vida.
E o que mudaria na Igreja católica?
Colocar o poder nas mãos do povo. Do contrário, torna-se um problema. Na Igreja, o essencial é dar a vida aos demais e a dedicação evangélica às Bem-aventuranças.
Teve problemas com a hierarquia?
Sim, tive.
O que fez e o que fazer nesses casos?
Continuar firmes ao lado dos pobres e dar testemunho sempre.
Mandaria abrir os templos durante as 24 horas?
Sim, para que o povo entre, durma, coma, reze, caso queira.
Um conselho para os jovens.
Que continuem sendo rebeldes com esperança, apesar da desesperança. E sempre ao lado dos pobres e excluídos. Estamos há anos falando de conscientização. O tempo acabou. É hora de atuar e de responder os chamados concretos.
O que lhe disse o padre Ángel, que veio de Madri para vê-lo?
Que continue sendo um profeta e vele pela paz, que se vá vivendo e é um processo.
O que pensa do papa Francisco?
Uma bênção de Deus.
E você, como ele, uma bênção de Deus?
Todos somos bênçãos de Deus, se estamos à escuta e se apostamos na troca e no diálogo. Porque o problema é como viver a vida diária em meio a este mundo violento.
Arrepende-se de algo?
De não ter bastante atitude de diálogo.
Do que se sente mais orgulhoso?
Das muitas pessoas que continuam me acompanhando na caminhada e de ter entregue minha vida aos excluídos, aos marginalizados, aos pequenos.
Seus santos preferidos?
São Francisco de Assis (quando foi a Roma, quis ir a Assis e iria ver o padre Arrupe, mas não foi possível).
E seus poetas?
Antonio Machado, São João da Cruz (seu Cântico espiritual e por aí adiante), Espriu, Neruda e Maragall.
Muito obrigado, dom Pedro.
De nada. Já falamos. Agora se trata de fazer.
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