Brancos usam cota para negros e entram no curso de medicina da UFMG
Da Folha:
Dezenas de brancos estão ingressando no curso de medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), um dos melhores do país, fazendo uso fraudulento do sistema de cotas da instituição, criado em 2009. A queixa parte de alunos e é endossada pelo movimento negro e pelas entidades estudantis.
A universidade diz estar ciente de possíveis desvios em seu programa de ações afirmativas e, após ser procurada pela Folha, informou que vai aperfeiçoar o sistema de cotas e investiga denúncias que foram oficializadas.
O caso mais inquietante entre a comunidade acadêmica é do calouro Vinicius Loures, 23. Embora ele tenha se autodeclarado negro na inscrição, chamam a atenção seus cabelos loiros e a pele e olhos muito claros.
Além disso, Loures, que já fez trabalhos como modelo publicitário, não teria nenhuma relação social e cultural com a realidade negra. Procurado, ele se limitou a dizer que "sobre esse assunto, não tenho nada a declarar".
Com sobrenome de origem italiana, a estudante Bárbara Facchini, 19, é outra que tem questionada sua identificação como negra, conforme declarou ao disputar uma vaga na medicina.
A caloura também não quis se manifestar. Disse apenas que o "assunto é delicado" e que muitas pessoas "distorcem" as coisas. "Prefiro manter minhas concepções pra mim", declarou.
Quando o candidato se autodeclara negro, pardo ou índio no sistema da UFMG, concorre a uma vaga dentro do subgrupo que se colocou [são quatro variações na universidade]. As notas de corte para cotistas chegam a ter 28 pontos a menos no Enem do que na ampla concorrência.
Outro caso apontado como "absurdo" pela comunidade acadêmica é o de Rhuanna Laurent. Procurada, ela não quis se manifestar.
Agatha Oluwakemi da Silva Soyombo, 20, negra filha de pai nigeriano, entrou na medicina sem a política de cotas. Ela lamentou que haja uso inadequado da autodeclaração e deturpação do benefício, que considera legítimo.
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Filha de uma professora e de um mecânico e oriunda de escola pública, Poliana Faria Fradico, 25, teve de esperar sete meses em lista de espera antes de ser chamada para uma vaga na medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Ela tem evidentes traços negros.
"Quando você vê uma pessoa de pele branca e olhos azuis entrar na sua frente, porque se autodeclarou negra de uma forma absurda, a sensação é de extrema revolta", afirma.
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