Páginas

pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

21.2.17

Brasil: parado na recessão

Opinião

Brasil: parado na recessão

por João Sicsú — publicado 20/02/2017 09h17
A economia brasileira é um transatlântico sem capitão e com a casa de máquinas paralisada
Marcos Corrêa / PR
Temer e Meirelles

Temer e Meirelles: fantasias não vão resolver o problema da economia

2017 será um pouco pior ou um pouco melhor que 2016. Com certeza, o futuro próximo não será muito melhor que o presente ou que o passado recente. Uma economia não sai de um estado recessivo simplesmente porque cansou de emagrecer. Uma economia não sai de um estado recessivo porque mudou o calendário: porque o ano novo chegou ou porque o segundo semestre chegará.

A saída de situações graves requer mais do que a fé ou fantasias, tais como: os empresários vão investir porque o PT não é mais governo – ou vão investir porque o governo vai privatizar empresas estatais – ou vão investir porque o governo aprovou um arranjo fiscal que congela os seus gastos reais por 20 anos. O Brasil está paralisado dentro de uma recessão.

Não houve aqui um choque externo que derrubou uma economia que crescia, gerava empregos, distribuía renda e fazia inclusão social. A situação atual é muito diferente daquela enfrentada em 2008/9 quando a crise financeira americana ameaçou uma economia que rodava a um ritmo alto e que tinha e utilizou instrumentos de combate à crise. Sem falar na liderança política do presidente Lula que uniu o país, trabalhadores e empresários, incentivando a manutenção da produção e do consumo.

Hoje, tudo é muito diferente de 2008/9. Naquela época a crise durou um ano, talvez um ano e três meses. Nos dias atuais, existe a possibilidade de a recessão se prolongar. E ela está se prologando. A situação atual somente em parte é resultado da conjuntura internacional – aliás muito menos desfavorável do que aquela que explodiu com o anúncio da quebra do Big-Bank Lehman Brothers, com a crise dos títulos subpirme e a consequente crise do setor imobiliário americano que contaminou toda a economia daquele país e transbordou seus efeitos mundo afora.

O Brasil definha dentro de um processo prolongado e que se prolongará. A crise que vivemos não é resultado de um tropeção, mas sim de um mergulho consciente em um abismo sem fundo. A sorte é que temos paraquedas: benefícios da Previdência Social, Bolsa Família, seguro-desemprego e direitos trabalhistas. Mas nossos paraquedas estão sendo perfurados e a resistência à crise econômica tende a diminuir. A tendência é, portanto, que a crise mais aparente passe a ser a crise social – e não mais a econômica.

Paraquedas são úteis não só para conter a crise social, mas também para amenizar a própria crise econômica porque transferem recursos para aqueles que gastam tudo o que recebem e, portanto, estimulam o consumo, a produção e a geração de emprego e renda. São 12,3 milhões de desempregados e outros milhões de desalentados (que nem mais procuram emprego). Todos a busca de oportunidades via programas sociais ou ofertas de vagas no mercado de trabalho. As portas estão fechadas e não há vagas.

O Brasil está dentro de uma armadilha. O governo não faz investimentos porque não quer gastar e porque não quer ocupar o lugar da iniciativa privada. Os empresários não investem porque não têm expectativas de crescimento, ou seja, expectativas de retorno dos seus supostos novos negócios. Estão mais preocupados em defender o que está em curso, o que é legítimo.

As famílias poupam porque vivem o desemprego ou porque temem a sua chegada. E a crise dos Estados tira renda das mãos do funcionalismo e fecha serviços sociais essenciais.

O governo, os empresários e os trabalhadores estão conectados dentro de um sistema fechado. Uma das partes teria que reagir autonomamente para romper o círculo de aprofundamento da crise. Empresários não vão fazê-lo. Empresários buscam o lucro e só reagem se esperam obtê-lo. Uma economia paralisada na recessão não oferece esse cenário. Trabalhadores são o elo mais frágil, somente tendem a se adaptar, seja quando há crescimento, seja quando há recessão.

Uma alternativa fora desse sistema é o mercado externo. Tal possibilidade não depende diretamente dos atores interessados. Depende do crescimento das grandes economias, China e Estados Unidos principalmente. Depende da dinâmica de preços internacionais, especialmente de commodities. Apostar nessa via é apostar na sorte, que pode até acontecer. Essa via deixa a economia de um país à deriva, ao sabor das conjunturas internacionais.

Dentro daquele sistema fechado, somente o governo pode reagir de forma autônoma para tirar a economia da situação de paralisia recessiva. O governo teria de ter dois quesitos que não têm: um programa emergencial de políticas de combate ao desemprego e uma liderança política e social, um estadista, capaz de animar as expectativas empresariais e de trabalhadores.

O ministro da Fazenda somente pensa em fazer reformas estruturais para desmontar o Estado brasileiro, minguar a soberania nacional e desfazer o sistema de bem-estar. Políticas econômicas emergenciais de combate ao desemprego não passam na cabeça de quem é o responsável por essa área. O presidente da República não tem cacoete de liderança. E tem outras prioridades, consideradas muito mais urgentes.

A Lava Jato contribuiu para gerar um cenário de insegurança política por agir politicamente. Ataca grandes empresas nacionais: empreiteiras e a Petrobrás. O STF e todo o sistema judiciário saíram da letargia e atuam em consonância com o Executivo e o Legislativo, outra instituição desmoralizada por seus próprios atores. É um conjunto em plena harmonia interna, mas sem conexão com as necessidades econômicas e sociais do País.

A economia brasileira é um transatlântico sem um legítimo capitão e com a casa de máquinas paralisada (as estatais, o BNDES, a Caixa e o Banco do Brasil estão sendo desmontados). Está à deriva e com furos no casco. A água já atingiu os porões onde estão os trabalhadores. Está sendo saqueado por estrangeiros (entrega do pré-sal e venda terras rurais). A armadilha que paralisou o transatlântico dentro de uma recessão tem nome: chama-se austeridade conjugada com o entreguismo da elite brasileira colonizada.

A opção pela austeridade não foi um choque externo, foi uma opção interna e processual. Os furos no transatlântico foram feitos de dentro para fora. O capitão chegou ao convés pela porta dos fundos. Os saqueadores são convidados de luxo. A casa de máquinas foi desligada por seus próprios operadores.

Com essa conformação, não há saída no campo das técnicas econômicas. A saída somente poderá vir no âmbito da política. Somente poderá vir daqueles que não têm mais nada a perder, terá que vir dos porões onde estão milhões de brasileiros que estão se afogando.

Será preciso construir um novo transatlântico, remendos não resolverão. Novas instituições serão necessárias para reconstruir o Brasil – que significa recolocá-lo dentro da rota do crescimento, geração de empregos, distribuição de renda e inclusão social.

http://www.cartacapital.com.br/economia/brasil-parado-na-recessao



Nenhum comentário:


Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz