Páginas

pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

3.10.13

Carta Maior - Internacional - 40 anos do golpe no Chile: Nunca mais!

Internacional| 02/10/2013 | Copyleft

40 anos do golpe no Chile: Nunca mais!

Todo o horror da ditadura se mantem latente e escondido nos vãos da institucionalidade herdada. Com forças armadas que não fizeram a reconversão necessária para democratizar suas estruturas e formar seu pessoal no respeito aos direitos humanos, o “nunca mais” pode terminar a qualquer instante. A direita o insinuou para deter a demanda de uma Assembleia Constituinte. Editorial de Punto Final.

“Perdón” e “nunca más” foram as expressões mais frequentes em discursos e declarações com motivo do 40º aniversário do golpe militar. Abusou-se delas a tal ponto, que ficaram despojadas de todo significado, inclusive da pitada de autenticidade que tiveram no princípio. Hoje formam parte da lista de lugares comuns que caracterizam os insípidos discursos de nossa fauna política. Nem as petições de perdão eram sinceras, nem o ingênuo propósito de “nunca más” tinha apoio na realidade.

Desde já, nem os carrascos de ontem nem seus “cúmplices passivos” - como chamou o presidente Piñera aos que com seu silêncio protegeram os criminosos -, pediram perdão nem prometeram nunca mais. Tanto é assim, que se voltou a falar de delação premiada para comprar com impunidade a informação que necessita a justiça para chegar à verdade. Entretanto, para que torturadores e assassinos iriam querer arriscar a segurança que lhes garantia o pacto de silêncio que encobre seu passado? Os autores intelectuais e materiais do golpe jamais pediram perdão nem prometeram nunca mais. Menos ainda contribuíram com informação que permita achar os corpos dos detidos desaparecidos ou reconstruir a verdade e sancionar os responsáveis de crimes de lesa humanidade.

Todo o horror da ditadura - que recém se começa a conhecer -, se mantem latente e escondido nos vãos da institucionalidade herdada. O golpismo está em condições de dar outra estocada se o povo - como fez em 1970 - decidir eleger um governo dotado de um programa cujo destino final seja o socialismo. O “nunca mais” só funcionará se o império norte-americano, a oligarquia e as instituições armadas do Chile outorgarem sua aprovação a governos e programas, como vêm fazendo desde 1989 mediante governos formalmente eleitos pelo povo mas que passaram primeiro pela peneira do capitalismo.

O golpe que derrubou o governo constitucional e democrático do presidente Salvador Allende, se consumou no marco da guerra fria. Washington não permitiu que, na América Latina, surgisse - esta vez como fruto de uma eleição - outro governo que, como o de Cuba, se propusera a construir o socialismo. A guerra fria já não existe, é verdade. A URSS se derrubou sob o peso de um sistema enferrujado e burocrático, cujas aberrações impediram de enfrentar com êxito as manobras desestabilizadoras de Washington e do Vaticano. Mas a América Latina continua sendo o pátio dos fundos da potência imperial que se arroga o direito de declarar guerras preventivas, espionar governos, empresas e cidadãos em todo o mundo, praticar o sequestro e o assassinato político, o golpe de Estado e a invasão se seus interesses assim o requerirem.

Os golpes de Estado na América Latina continuam acontecendo sem a guerra fria. No dia 11 de abril de 2002 se produziu o golpe que, na Venezuela, derrubou o presidente Hugo Chávez, restituído em seu cargo em 48 horas graças à potente resposta do povo revolucionário e da maioria das forças armadas. Não obstante, a República Bolivariana da Venezuela, fundada pelo comandante Hugo Chávez, continua sofrendo um incessante assédio imperialista. A hostilidade dos EUA - apoiada em uma falsa oposição digitalizada por Washington -, inclui manobras clássicas da CIA, que conhecemos no Chile nos anos 70, que vão desde provocar desabastecimento de alimentos para causar mal-estar na população, até planos de magnicídio para eliminar o presidente Nicolás Maduro.

Cabe lembrar que a Socialdemocracia e a Democracia Cristã - peças mestras da Concertação no Chile, hoje chamada Nova Maioria -, são inimigos jurados da revolução bolivariana e dos instrumentos de integração surgidos de sua iniciativa diplomática: a Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba), a União das Nações Sul-americanas (Unasul) e a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac). Precisamente, por aderir a esse processo de unidade latino-americana foram derrubados os presidentes de Honduras, Manuel Zelaya, e do Paraguai, Fernando Lugo, em 2009 e 2012, respectivamente. Contra eles, o golpismo invocou argumentos constitucionais, como se tentou fazer no Chile antes de apelar à força bruta.

Mas não só a Venezuela, Honduras e Paraguai sofreram a intervenção imperialista. Também no Equador se tentou derrocar o presidente Rafael Correa para por fim a sua revolução cidadã. Na Bolívia, entretanto, se pretendeu fraturar o país para deter o processo encabeçado pelo presidente Evo Morales.

No Chile, nada substantivo mudou nas Forças Armadas e Carabineros em 40 anos. Continuam sendo a guardia de corps da oligarquia e dos interesses do império no Chile. A liderança tutelar de Pinochet continua inspirando o exército, ainda que muitos de seus crimes e roubos estejam provados judicialmente. Na história castrense, Pinochet continua sendo o terceiro Capitão General do Exército, junto ao pai da Pátria, Bernardo O’Higgins, e seu sucessor, o general Ramón Freire. Ninguém se atreveu a tomar a iniciativa de degradá-lo e muito menos de anular o título honorífico de “Comandante em Chefe Benemérito do Exército do Chile”, que seus generais lhe conferiram em 1998. Nem tampouco rebatizar a Rodovia Austral, que leva seu nome.

Na Marinha acontece outro tanto. O almirante José Toribio Merino, verdadeiro articulador do golpe de 1973, tem um monumento de três metros de altura na Avenida dos Marinheiros Ilustres do Museu da Marinha, em Valparaíso. Merino – que, com voz aguardentosa, chamava de “humanoides” os que lutavam por libertar o Chile da tirania -, se transformou em um exemplo para as novas gerações de marinheiros! O almirante que converteu o navio-escola Esmeralda, a Academia de Guerra Naval e o Forte Silva Palma em centros de tortura e morte, é o farol que guia a formação de oficiais da Marinha.

Com forças armadas que não fizeram a reconversão necessária para democratizar suas estruturas e formar seu pessoal no respeito aos direitos humanos, o “nunca mais” pode terminar a qualquer instante. A direita o insinuou para deter a demanda de uma Assembleia Constituinte. Por isso a desconfiança com que a civilidade vê as instituições herdadas da ditadura.

Todo cidadão sabe, ainda que não o diga pelo medo que subjaz na sociedade chilena, que formular com voz clara as demandas cidadãs em um programa de justiça social e participação democrática, como fizeram os chilenos dos anos 70, pode fazer que a oligarquia e o império abram a jaula dos leões. É uma ameaça mais feroz que há 40 anos. Um orçamento que chega aos 8,842 bilhões de dólares faz das Forças Armadas uma casta privilegiada do Estado.

Estamos condenados então a limitar nossas aspirações democráticas e de justiça social para não irritar o golpismo? O destino do movimento popular é submergir-se na Concertação e entregar a socialdemocratas e democratas-cristãos a decisão de acolher - em acordo com a direita - demandas que por sua moderação obtenham a aprovação do empresariado e as forças armadas?

Claro que não! O caminho deve ser outro: trabalhar na construção de uma força social e política majoritária que permita fundamentalmente, a partir da rua, convocar a uma Assembleia Constituinte. É um processo para levantar uma alternativa popular cujo programa - a nova Constituição - inclua instituições armadas democratizadas e cujo rumo seja um sistema baseado na solidariedade, na paz e na integração latino-americana.

Quando a unidade for forjada na consciência e na ação da maioria cidadã, aí se poderá falar de “nunca mais”.

Nunca mais forças armadas e policiais ao serviço da oligarquia e do império.
Nunca mais um povo castrado em sua capacidade e direito de construir uma sociedade mais justa.

(*) Editorial da revista “Punto Final”, edição Nº 790, 27 de setembro, 2013

Tradução: Liborio Júnior

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22812


Nenhum comentário:


Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz