Páginas

pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

3.10.13

Carta Maior - Internacional - México: o mastro vazio

Internacional| 02/10/2013 | Copyleft

México: o mastro vazio

Dizem que quando vem o furacão e despoja as árvores de suas folhas, os troncos ficam como um mastro vazio. Talvez seja uma boa metáfora para o México nestes momentos. As árvores permanecerão nuas, sem insígnia, como testemunho mudo das façanhas do mau governo. O governo anunciou há uma semana seu pacote econômico para 2014. Sua previsão de crescimento do PIB é de 3.4%, mas por enquanto, este ano a economia nacional crescerá muito menos de 1.8% prognosticado pelo governo. Por Alejandro Nadal.

Cidade do México - O México atravessa tempos nefastos. Seu governo se empenha em entregar o último que resta do patrimônio do povo mexicano a interesses privados, estrangeiros e nacionais. Frente à crise econômica, seus governantes reagem torpemente, com lentidão e com medidas marcadas por contradições. Finalmente, as autoridades se mostram incapazes de enfrentar as sequelas de destruição e morte provocadas pelos desastres naturais.

As calamidades naturais não podem ser evitadas, mas seus efeitos podem ser mitigados de muitas maneiras: alertas antecipados, preparação e mobilização da população, infraestrutura robusta, manutenção preventiva e esquemas de resposta rápida. Mas o que estou dizendo? Mobilização da população? Mas aqui o que o governo quer é uma população desmobilizada, para não dizer passiva. O que menos quer o poder é uma população alerta e mobilizada: e se não, aí estão os mestres da CNTE para confirmá-lo.

Infraestrutura robusta? Impossível consegui-la com um orçamento federal com previsões raquíticas para investimento físico. Por isso temos décadas de restos acumulados em tudo o que tem a ver com desenvolvimento: saúde, educação, moradia, estradas, obras de irrigação. No neoliberalismo o estado abdicou de suas responsabilidades frente ao desenvolvimento do país e a rede de estradas teve que crescer com investimentos privados que foram mal planejados e chegaram à falência. O governo entrou ao resgate e hoje tudo isso pesa nas finanças públicas. A estrada mais emblemática é a Autopista do Sol, construída para os negócios, mas não para durar.

Esquemas de resposta rápida? A quatro dias dos meteoros no Golfo e no Pacífico, o governo mal pode articular uma reação atropelada pelo caos e pela improvisação. Esta é a hora em que o Centro de Prevenção de Desastres continua com sua página na rede anunciando que tudo está bem... no Popocatépetl. O serviço de proteção civil da Secretaria de Governo mantém sua página com mensagens anódinas, de um regime em decadência: aproxima-te do Sinaproc, conheça-nos, informa-te sobre a convocatória ao prêmio de proteção civil 2013. Pois certamente não vão dar a Peña Nieto. Isso sim, até embaixo: anúncios do relatório presidencial, das reformas fazendária e energética.

O governo anunciou há uma semana seu pacote econômico para 2014. Sua previsão de crescimento do PIB é de 3.4%, mas por enquanto, este ano a economia nacional crescerá muito menos de 1.8% prognosticado pelo governo e a duras penas se cumprirá a meta de 2014. Ainda que o secretário de Fazenda não se canse de repetir que ‘tecnicamente’ o México não está em recessão, os desastres naturais deixarão uma marca profunda e o crescimento será muito menor que o prognosticado.

O orçamento de egressos, diz o governo, é contra cíclico. Com isso quer dizer que ajuda a reduzir a perda de dinamismo da economia ao injetar mais dinheiro e incrementar a demanda agregada. Para demostrá-lo, o governo afirma que seu orçamento manterá um déficit de 3.5% do PIB. Mas que curioso pacote de estímulo fiscal. Tem déficit, é verdade, mas também contém um incremento nos impostos por todos os lados: sobre o IVA na fronteira e as colegiaturas, sobre o ISR com uma espécie de arremedo de progressividade e, claro, mantendo os incrementos na gasolina. É um orçamento contraditório: por um lado se anuncia o déficit como amostra de que o governo freará a queda da economia, mas pelo outro, se introduzem incrementos nos impostos que refletem no poder de compra da população.

O Banco do México anunciou há alguns dias que baixaria a taxa de juros de referência de 4 para 3.75%. Essa é a taxa interbancária de um dia e não servirá para reativar o crédito e a economia, apesar dos pronunciamentos do BdeM e do secretário de Fazenda. Os bancos não estão sujeitos a nenhuma regulação e o impacto nas taxas ativas (as que o banco cobra) será nulo: o custo do crédito continuará sendo exorbitante. Em síntese, o espaço econômico continua estando ocupado pela rapina e pela miopia.

Para piorar, a reforma energética continua como espada de Damocles, suspensa sobre a nação mexicana. Com este robô se fecharão as portas de um processo de industrialização gerador de empregos estáveis e melhores oportunidades para todos. É outra calamidade, como a da entrega do espaço de milharais mexicanos aos cultivos transgênicos produzidos e comercializados pela empresa Monsanto. Como a praga de milhos transgênicos, a entrega do setor energético às empresas transnacionais é um retrocesso do qual não poderemos escapar facilmente.

Dizem que quando vem o furacão e despoja as árvores de suas folhas, os troncos ficam como um mastro vazio. Talvez seja uma boa metáfora para a República Mexicana nestes momentos. As árvores permanecerão nuas, sem insígnia, como testemunho mudo das façanhas do mau governo.

(*) Alejandro Nadal é membro do Conselho Editorial da SinPermiso.

Tradução: Liborio Júnior


http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22813


Nenhum comentário:


Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz