16/3/2010 | |
Glifosato: uma sentença inovadora |
Alexis Cabral, de 8 anos, padecia de alergias constantes e era dependente de um inalador para poder se recompor da falta de ar. Vivia na frente do campo de soja denunciado. Há um ano, coincidentemente com o fim das fumigações, Alexis não padece de nenhum sintoma e deixou o inalador.
Não existem estudos científicos que demonstrem a relação direta, mas os vizinhos do bairro Urquiza, de San Jorge, não acreditam que seja uma casualidade. A recente sentença da Justiça de Santa Fe, na Argentina, também é inovadora nesse sentido: revaloriza os testemunhos dos afetados – muitas vezes minimizados pelos juízes –, ressalta a importância dos médicos dos municípios (testemunhas cotidianas na atenção a intoxicados) e cita trabalhos científicos que alertam sobre os efeitos do glifosato.
A reportagem é de Darío Aranda, publicada no jornal Página/12, 15-03-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Em casos controversos cientificamente, torna-se muito relevante considerar as 'histórias de vida', as 'experiências', os 'saberes e conhecimentos' daqueles que vivem cotidianamente expostos ao risco que se trate, neste caso os agroquímicos. É necessário revalorizar o 'sentido comum', já que a ciência não pode responder a todos os interrogantes", exige a Câmara de Apelações Civil e Comercial (Sala II).
A sentença ressalta também a importância dos médicos rurais: "(São) um grupo de pessoas que não integram o chamado 'sistema científico oficial' e têm efetuado estudos relevantes há muitos anos".
Quanto aos membros da comunidade científica que estudaram os efeitos dos agroquímicos e alertaram sobre o seu uso, a sentença assinala as pesquisas de Argelia Lenardón (UNL-Conicet), que estudou a existência de agroquímicos organoclorados no leite materno; de Amalia Dellamea (UBA), que confirmou a presença de herbicidas nos produtos lácteos; de Alejandro Oliva (Hospital Italiano de Rosario), que estudou os impactos nas funções reprodutivas; de Jorge Kaczewer (UBA), que recompilou trabalhos sobre o tema; e de Andrés Carrasco (UBA-Conicet), que detectou no ano passado deformações em embriões anfíbios, alertou a opinião pública e foi duramente atacado pelas câmaras empresariais do setor.
Os juízes santafesinos recordam como antecedente o decreto presidencial que criou a Comissão Nacional de Investigações sobre Agroquímicos, na qual intervieram os ministérios de Ciência, Saúde, Agricultura, o INTA e o Conicet.
"O relatório recebeu múltiplas críticas por parte de especialistas (...). As críticas ao informe indicam que ele utiliza bibliografia distorcida, recorta a problemática e equipara estudos da Monsanto com trabalhos de cientistas independentes", afirmou a sentença recente.
A Justiça indicou que os principais defensores da inocuidade dos agroquímicos são as câmaras empresariais e a Associação Produtora de Semeadura Direta. Reconhece que a OMS e a FAO classificam o glifosato dentro de uma categoria de baixo risco, mas cita a bióloga da UBA Lilian Joensen: "As classificações da OMS e da FAO não estão baseadas em estudos próprios ou de grupos independentes, mas tratam-se de revisões de estudos feitos pelas próprias empresas".
Não existem estudos científicos que demonstrem a relação direta, mas os vizinhos do bairro Urquiza, de San Jorge, não acreditam que seja uma casualidade. A recente sentença da Justiça de Santa Fe, na Argentina, também é inovadora nesse sentido: revaloriza os testemunhos dos afetados – muitas vezes minimizados pelos juízes –, ressalta a importância dos médicos dos municípios (testemunhas cotidianas na atenção a intoxicados) e cita trabalhos científicos que alertam sobre os efeitos do glifosato.
A reportagem é de Darío Aranda, publicada no jornal Página/12, 15-03-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Em casos controversos cientificamente, torna-se muito relevante considerar as 'histórias de vida', as 'experiências', os 'saberes e conhecimentos' daqueles que vivem cotidianamente expostos ao risco que se trate, neste caso os agroquímicos. É necessário revalorizar o 'sentido comum', já que a ciência não pode responder a todos os interrogantes", exige a Câmara de Apelações Civil e Comercial (Sala II).
A sentença ressalta também a importância dos médicos rurais: "(São) um grupo de pessoas que não integram o chamado 'sistema científico oficial' e têm efetuado estudos relevantes há muitos anos".
Quanto aos membros da comunidade científica que estudaram os efeitos dos agroquímicos e alertaram sobre o seu uso, a sentença assinala as pesquisas de Argelia Lenardón (UNL-Conicet), que estudou a existência de agroquímicos organoclorados no leite materno; de Amalia Dellamea (UBA), que confirmou a presença de herbicidas nos produtos lácteos; de Alejandro Oliva (Hospital Italiano de Rosario), que estudou os impactos nas funções reprodutivas; de Jorge Kaczewer (UBA), que recompilou trabalhos sobre o tema; e de Andrés Carrasco (UBA-Conicet), que detectou no ano passado deformações em embriões anfíbios, alertou a opinião pública e foi duramente atacado pelas câmaras empresariais do setor.
Os juízes santafesinos recordam como antecedente o decreto presidencial que criou a Comissão Nacional de Investigações sobre Agroquímicos, na qual intervieram os ministérios de Ciência, Saúde, Agricultura, o INTA e o Conicet.
"O relatório recebeu múltiplas críticas por parte de especialistas (...). As críticas ao informe indicam que ele utiliza bibliografia distorcida, recorta a problemática e equipara estudos da Monsanto com trabalhos de cientistas independentes", afirmou a sentença recente.
A Justiça indicou que os principais defensores da inocuidade dos agroquímicos são as câmaras empresariais e a Associação Produtora de Semeadura Direta. Reconhece que a OMS e a FAO classificam o glifosato dentro de uma categoria de baixo risco, mas cita a bióloga da UBA Lilian Joensen: "As classificações da OMS e da FAO não estão baseadas em estudos próprios ou de grupos independentes, mas tratam-se de revisões de estudos feitos pelas próprias empresas".
Para ler mais:
- Ervas daninhas criam resistência ao glifosato
- Glifosato: mais polêmica
- 'O glifosato estimula a morte das células de embriões humanos'
- Glifosato e anfíbios: a defesa da Monsanto
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