O machismo imbecil de Serra no México. Por Nathalí Macedo
Há pessoas que nunca aprendem. José Serra (PSDB), por exemplo, não aprendeu a medir as palavras ao falar sobre mulheres nem mesmo depois que Katia Abreu atirou-lhe um copo de bebida por ele tê-la chamado de "namoradeira".
Ele voltou a agir como se machismo fosse piada, dizendo à chanceler do México, Claudia Ruiz Massieu, que é um "perigo" haver tantas mulheres na política mexicana.
Sejamos justos: Serra não assume sozinho, afinal, a ideia de que a presença de mulheres na política é indesejável e, para ser fiel ao seu próprio vocabulário, perigosa. O interino, seu aliado, concorda em número, gênero e grau – mas em vez de fazer piada, ele opta por um gabinete de homens brancos.
Depois de reconhecer que há menos de 20% de senadoras no Brasil, o tucano registrou que a Dilma Rousseff tornou-se presidenta em 2011, "esquecendo" de mencionar, entretanto, que foi afastada em razão de um golpe genuinamente misógino.
É difícil não concordar com ele, embora eu queira muito, porque é de fato perigoso que, num país de tantos homens golpistas, machistas e inescrupulosos, haja uma Erudina; é perigoso que Vanessa Grazziotin não se deixe silenciar e desempenhe o próprio trabalho com muito mais competência do que a maioria dos senadores homens – por que não dizer todos?
Para homens como Serra, é perigoso que exista Katia Abreu, porque para o machismo não há nada mais ameaçador do que mulheres sem medo.
Então ele teme que a chanceler de um país com alto número de senadoras mulheres chame a atenção para o governo interino de homens brancos, supondo, decerto, que as mulheres brasileiras são cegas. Que precisam testemunhar a realidade política mexicana para enxergarem a lastimável realidade de seu próprio país.
Em tempos de levante feminista, homens como José Serra estão, de fato, preocupados. Há muitos Serras, aliás: está preocupado o machista que já não pode fazer piadas machistas sem ser retaliado (a não ser que o faça para os seus semelhantes, e em segredo), está preocupado o presidente sem votos que não pode sair de casa para não ser hostilizado e reconhecido como o golpista machista que é, está preocupado o homem que levou um banho de bebida para aprender que não se julga a quantidade de parceiros sexuais de uma mulher.
Se eu estivesse no lugar deles, eu também estaria preocupada. O que nós queremos é exatamente que os machistas estejam preocupados – mesmo que demonstrem isso da maneira sórdida com que estão acostumados: fazendo piadas que só escondem a covardia.
Se para Serra e sua corja reconhecer que o governo interino é machista e excludente é um problema, para nós, o problema é ter Michel Temer como presidente interino e Serra como Ministro das Relações Exteriores.
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