Janio de Freitas: O mistério do futuro
Fez muito bem. Atingida por uma notícia-acusação, Dilma Rousseff respondeu de imediato, com a explicação de que o Conselho de Administração da Petrobras, por ela presidido, concordou com a questionada compra de uma refinaria nos Estados Unidos baseado em relatório impreciso e incompleto.
Essa presteza é um dever primordial dos presidentes, ao qual os brasileiros não estamos acostumados em meio à plena liberdade de especulação, boataria e politicagem.
Nem sempre os presidentes estariam em condições de agir de tal modo. Alguns, quase nunca. Dilma foi dispensada de expor suas condições de fazê-lo pelo próprio presidente da estatal à época do negócio. Sérgio Gabrielli logo confirmou a insuficiência do relatório e fez um esclarecimento que deveria ser definitivo: não compete ao Conselho de Administração o exame, e muito menos a decisão, dos negócios propriamente da estatal, sendo sua atribuição balizar a estratégia da empresa.
Nada faz diferença: é época eleitoral. O conselho presidido por Dilma adquiriu metade da refinaria, empenhando bilhões onde mal caberiam uns quantos milhares, e pronto. Podem valer, porém, duas observações dissociadas.
O mérito maior de Dilma Rousseff, a meu ver, é a lisura de sua Presidência. Todas as suas medidas são passíveis de crítica administrativa ou política. Mas, do ponto de vista ético, até hoje cada medida reforça uma espécie de garantia, tanto quanto pode sê-lo, de que (para desgosto dos jornalistas) a presunção de inocência faz todo sentido ante qualquer insinuação, suspeita ou acusação a Dilma.
Nada houve sequer parecido com Sivam, Raytheon, entrega da Vale, privatização viciada das telefônicas, negócio de submarinos com a França, alteração de lei para beneficiar a Oi/Andrade Gutierrez, e tanto mais.
Nesse aspecto do atual governo há uma outra novidade: a equipe feminina do nível ministerial tem sido um espetáculo pouco observado, mas impecável, de dedicação à eficiência, seriedade e discrição. As mulheres do ministério, incluída a Gleisi Hoffmann já de volta ao Senado, são responsáveis pela maior parte do que haja de eficácia no governo.
A outra observação volta à estatal. Mal ou bem, a Petrobras beneficia-se, ao longo do tempo, do misto de orgulho e admiração que grande parte da população lhe dedica, por vencer contra os interesses internacionais mais poderosos. Foi o que impediu sua privatização no governo Fernando Henrique, para a qual fora nomeado Philippe Reichstul, autor deste comentário em sua designação: “Eu não entendo nada de petróleo”. Nem precisava. Mas à Petrobras consente-se que tudo corra muito solto.
Ao assumir a presidência da empresa, Graça Foster fez transparecer que lá encontrava muitos desarranjos, técnicos e financeiros. Deles se soube muito pouco. O mais importante não nos chegou: o que levou a tais problemas, como foi possível avançarem sem encontrar um freio? A rigor, nem se sabe se os desarranjos existiam ou existem mesmo.
Grande parte do futuro do Brasil, no entanto, depende da Petrobras. Depende de decisões tomadas nos anos recentes e nos próximos anos, e hoje e amanhã. À parte a exploração eleitoreira, a confusão de informações e de comentários sobre o negócio com a refinaria nos Estados Unidos, já com oito anos, atesta a perplexidade do país diante de tantas perguntas sem resposta sobre as realidades da Petrobras. É tempo de derrubar os muros que circundam essa promessa, talvez decisiva, do futuro brasileiro.
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