Governo do Estado lança Diálogos da Copa em debate com sociedade e movimentos sociais
No dia em que a Assembleia Legislativa aprovou o projeto de lei que viabiliza a construção das estruturas temporárias para a Copa do Mundo, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul deu início aos Diálogos da Copa, uma série de debates e consultas em torno da realização do evento esportivo na capital gaúcha. O primeiro evento, realizado e transmitido ao vivo pelo Gabinete Digital na noite desta terça-feira (25), reuniu principalmente atores e representantes de movimentos críticos à Copa, que dialogaram diretamente com o governador Tarso Genro e secretários.
Conduzido pelo secretário Vinícius Wu, o evento transitou entre diversos temas, com especial destaque aos impactos sociais da Copa; remoções, alterações no calendário escolar, atuação da Brigada Militar, elitização do esporte, comércio de ambulantes e ocupação dos espaços públicos, entre outros. Presencialmente, participaram do debate Cláudia Favaro, do Comitê Popular da Copa, João Hermínio Marques, da Frente Nacional dos Torcedores, José Araújo, morador da Vila Cristal, e Olanda Campos, da associação de ambulantes de Cachoeirinha, e o cartunista Carlos Latuff. Por videoconferência, debateram Juca Kfouri, jornalista esportivo, e Antonio Lassance, pesquisador do IPEA.
Espetáculo e oportunidades
Em sintonia com as reivindicações, o governador Tarso Genro concentrou sua fala nos aspectos polêmicos do evento. “Políticas e negócios sempre estiveram envolvidos no esporte. A Copa hoje é um grande negócio, uma relação mercantil que tem o futebol como centro”, pontuou. Em resposta às críticas sobre o atraso na abertura para o diálogo, o governador defendeu a perspectiva da copa enquanto oportunidade. “Concordo que o diálogo deveria ser orientado, antes, pelo governo federal. Mas soubemos das invasões à soberania do país tardiamente. É preciso diferenciar o espetáculo esportivo do evento mercantil. É uma oportunidade, apesar de todas as injustiças”, completou. Tarso também lembrou que o Rio Grande do Sul espera 200 mil turistas e que as movimentações financeiras no período da Copa devem gerar cerca de R$ 80 milhões em impostos para o Estado.
João Hermínio, da Frente Nacional dos Torcedores, posicionou-se a favor de uma copa mais popular e acessível. “Não assumimos uma postura extrema, de dizer que não vai ter copa ou que vai ter copa. Nossa crítica é ao modelo excludente da Fifa, com ingressos caros e pouco alinhados aos interesses populares”, afirmou. Já a ambulante Olanda Campos, acostumada ao comércio na frente do estádios em dias de jogos, expressou sua preocupação com o trabalho dos pequenos comerciantes e trabalhadores no entorno do Beira-Rio; “a nossa classe já é massacrada e está sempre lutando pela inclusão”.
Juca Kfouri e Antônio Lassance, falando de São Paulo e Brasília respectivamente, parabenizaram a abertura para o diálogo e abordaram de diferentes perspectivas o tema em debate. “Acredito que esta iniciativa do governo gaúcho é inédita”, afirmou Juca. “Lamento que o diálogo não tenha se iniciado antes, quando o país foi escolhido como sede. Estamos tentando fazendo a Copa do Mundo da Alemanha no Brasil, em vez de fazer a Copa do Mundo do Brasil”, colocou o jornalista. Já para Lassance, grandes eventos tornam mais visíveis os problemas do país. “A Copa virou uma espécie de Judas. Ninguém lembra que 30% dos gastos foram destinados para estádios, enquanto os restantes 70% foram aplicados em obras de mobilidade urbana, projetos de segurança, ampliação de aeroportos, qualificação profissional e outros setores”, disse o pesquisador do IPEA.
Cláudia Favaro e José Araújo, ambos do Comitê Popular da Copa, assumiram um tom mais crítico. “Seremos impedidos de ir e vir em território público em razão de uma lógica de desenvolvimento excludente, em prol da especulação imobiliária e em detrimento dos pobres, prédios históricos, e árvores seculares”, asseverou Cláudia, que também sugeriu atividades e alimentação nas escolas públicas nos dias em que não haverá aulas durante a Copa. Araújo, que reside próximo à Vila Tronco, alegou que o movimento popular reivindicou diálogo com a Prefeitura mas não obteve resultados. “A nossa maior preocupação é com a remoção das famílias sem recolocação adequada, indenização injusta e sem dignidade”, disse.
Retirada
O evento iniciou com atraso em razão da reivindicação de membros do Comitê Popular da Copa de que três integrantes tivessem espaço de fala, apesar da presença de Cláudia Favaro, considerada uma liderança do movimento, entre os convidados oficiais. Por conta do início tardio, o governador precisou sair antes do final do evento para um compromisso oficial, e os representantes do Comitê Popular se retiraram. “Quero saber se vai ter diálogo com a Brigada Militar”, disse o cartunista Latuff. O debate prosseguiu sem a presença do governador. Os secretários Airton Michels, da Segurança, Ricardo Petersen, do Esporte e Lazer, e Marcio Cabral, do Turismo, bem como o coordenador-executivo do Comitê Gestor da Copa 2014, permaneceram no diálogo.
O debate continua
O secretário-geral de Governo, Vinícius Wu, destacou, ao término do debate, que todas as propostas geradas e apresentadas no diálogo presencial e enviadas pelas redes serão analisadas e terão retorno do Governo do Estado. “Nós escolhemos dialogar e não fugir do debate plural, transparente e aberto entre governo e sociedade”, afirmou. O evento de abertura dos Diálogos da Copa também marcou o início de uma consulta pública, realizada por meio da ferramenta “Governo Responde”, do Gabinete Digital. Até o dia 18 de abril, os gaúchos e gaúchas terão a oportunidade de enviar perguntas e votar nas questões que considerarem mais pertinentes em relação ao tema. Todas as contribuições receberão respostas ao término da consulta e os autores das perguntas mais bem votadas serão convidados a participar de uma atividade dos Diálogos da Copa com o governador Tarso Genro. O próximo debate está marcado para o dia 22 de abril.
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