Paraguai: resistência ao golpe ganha página na internet
Frente de Defesa da Democracia lançou nesta segunda-feira a página Paraguai Resiste, que transmitirá informações sobre as marchas e mobilizações contra o golpe de Estado que afastou Lugo da Presidência. A página será também um espaço de organização da resistência contra o movimento golpista. Desde o final de semana, grupos de resistência começaram a ser formados por todo o país, na capital e no interior.
Marco Aurélio Weissheimer
A Frente Nacional de Defesa da Democracia, criada no último sábado, em defesa do processo democrático no Paraguai e contra a forma pela qual foi deposto o presidente Fernando Lugo, lançou nesta segunda-feira uma página na internet, Paraguai Resiste, que transmitirá informações sobre as marchas e mobilizações contra o golpe de Estado que afastou Lugo da Presidência. A página será também um espaço de organização da resistência contra o movimento golpista.
Desde o final de semana, grupos de resistência começaram a ser formados por todo o país. Sob a consigna "Fuera el Golpista Franco, Fuera el Gobierno Trucho", as organizações sociais e políticas que apoiam Lugo iniciaram um processo de mobilização que deve se intensificar nos próximos dias na capital e no interior do país.
O movimento de resistência civil liderado pela Frente Nacional de Defesa da Democracia recebeu diversas manifestações de apoio e solidariedade nos últimos dias. O Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais (Clacso) divulgou nota denunciando "o processo sumário e destituído de toda legalidade realizado contra o presidente Fernando Lugo".
"O Clacso repudia de forma enérgica e inequívoca este novo golpe ao presente e ao futuro da democracia paraguaia. Nossa rede institucional se manifesta de maneira contundente contra toda violação dos direitos humanos e cidadãos, da liberdade de expressão e de mobilização do nosso povo irmão, e exige o imediato restabelecimento do presidente Fernando Lugo em suas funções constitucionais", afirma a nota.
Brasil vai buscar consenso sobre o Paraguai
O ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse nesta segunda-feira (25), que a rapidez do processo de afastamento do presidente do Paraguai, Fernando Lugo, causou "estranheza" e "perplexidade" ao governo brasileiro. "Você mudar o presidente de um país num período de 24 horas, 30 horas é de todo inusitado", disse Carvalho à Agência Brasil. Ele reafirmou que o Brasil não deve tomar qualquer medida em relação ao Paraguai que não seja fruto de um consenso entre os países da região.
"Acho correto que a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) e o Mercosul, que têm nas suas cartas de princípio a defesa da democracia, tenham uma ação mais forte", acrescentou. Para o representante do governo brasileiro, o que ocorreu no Paraguai está na contramão da consolidação da democracia na América Latina.
O presidente do Uruguai, José Mujica, também pensa que o Paraguai está na contramão. Para Mujica, "houve um golpe de Estado parlamentar, como ocorreu antes no Equador e em Honduras". A destituição de Lugo, disse o chefe do Executivo, foi "aparentemente legal, mas moralmente ilegítima". O presidente uruguaio sugeriu que o novo chefe de Estado, Federico Franco, antecipe as eleições presidenciais, marcadas originalmente para abril de 2013, para que o Paraguai tenha um presidente eleito pelo povo.
Sobre a suspensão do Paraguai do Mercosul, Mujica defendeu que a relação do país com o bloco sulamericano "seja mantida apenas do ponto de vista instrumental" até que exista presidente "eleito pelo povo paraguaio. O Paraguai "mantém seus direitos e obrigações no Mercosul, mas não poderá participar da tomada de decisões".
Papel da Igreja Católica chama atenção
Na Argentina, doze dos quinze membros que integram a Comissão de Relações Exteriores do Senado aprovaram um texto condenando a destituição de Fernando Lugo. Representante do governista Frente para a Vitória, Miguel Ángel Pichetto, classificou a decisão do parlamento paraguaio como "um golpe com características novas, distintas daquelas que vivemos no passado". Pichetto chamou a atenção para o papel assumido pela Igreja Católica paraguaia no processo de derrubada de Lugo.
Na mesma direção, a presidenta interina do Senado, Beatriz Rojkés de Alperovich afirmou: "Os atores destes fatos são sempre os mesmos – a Igreja, os meios de comunicação monopolistas e o establishment". Luis Naidenoff, da União Cívica Radical (UCR) acrescentou: "No Paraguai se desrespeitou o devido processo legal e o direito à defesa".
Na França, o governo de François Hollande manifestou de forma oficial sua preocupação com a forma pela qual foi destituído o presidente Lugo e declarou apoio à mediação da União de Nações Sulamericanas (Unasul) para buscar uma saída democrática ao conflito. O comunicado do Ministério de Relações Exteriores diz que "a França apoia os esforços das organizações regionais, principalmente da Unasul para permitir ao país encontrar uma solução constitucional, democrática e pacífica para a crise que atravessa".
Além disso, o governo francês pede que se respeite "a vontade soberano do povo paraguaio que elegeu Lugo como chefe de Estado em 2008". Posição semelhante foi externada pelo chanceler espanhol, José Manuel García-Margallo, que expressou apoio ao Mercosul e a Unasul na "gestão da crise política no Paraguai".
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