sexta-feira, 29 de junho de 2012
México define o seu futuro
Por Altamiro Borges
Neste domingo, 1º de julho, os mexicanos irão às urnas para eleger o novo presidente da República, 64 senadores, 500 deputados federais e governadores em sete estados. O pleito define o futuro do México e é acompanhado com grande interesse tanto pelas forças progressistas da América Latina como pelos EUA, que mantêm o país como o seu fiel aliado no continente.
Pelas pesquisas de opinião, o candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI), que comandou o país por mais de 70 anos e só foi alijado do poder em 2000, deverá retornar ao governo central. Enrique Peña Nieto conta com uma forte estrutura partidária e o apoio ostensivo dos principais meios de comunicação – em especial da Televisa, do bilionário Carlos Slim.
A campanha surpreendente de Obrador
Em segundo lugar, numa campanha surpreendente, aparece o candidato Andrés Manuel López Obrador, do Partido da Revolução Democrática (PRD), numa coligação de centro-esquerda com o apoio do Partido do Trabalho e do Movimento Cidadão. Apesar de ter moderado o seu discurso do passado, Obrador defende uma plataforma antineoliberal e de maior autonomia diante dos EUA.
Já a candidata governista, a ex-ministra Josefina Vázquez Mota, do Partido da Ação Nacional, está em terceiro lugar. Ela afundou na campanha devido ao forte desgaste do presidente direitista Felipe Calderón. Durante os seus 12 anos de reinado, os neoliberais do PAN jogaram o país no caos, privatizando o patrimônio público, gerando recordes de subemprego e altos índices de violência.
#YoSoy132 altera as pesquisas
Até final de maio, Peña Nieto já era dado como presidente eleito. Ele aparecia com larga vantagem nas pesquisas. Mas aí entraram em cena os estudantes, que passaram a denunciar as roubalheiras do PRI e a postura truculenta do ex-governador, responsável pelo massacre de uma comunidade indígena em Atenco, em 2006, que resultou em dezenas de feridos e mortos.
Num debate numa faculdade da capital mexicana, os estudantes gritaram "Atenco no se olvida". Peña Nieto ficou irritado e partiu para a agressão contra os jovens. De imediato, 131 estudantes produziram um vídeo com críticas ao político conservador. Este foi o estopim para a surgimento do movimento #YoSoy132, que nas ruas e nas redes alterou os resultados das pesquisas eleitorais.
Apesar desta insólita guinada, tudo indica que Peña Nieto será eleito presidente do México. Este resultado não altera a angustiante situação do sofrido povo mexicano. O PRI não propõe nenhuma mudança mais profunda. Na prática, ele dará continuidade à política neoliberal do PAN. Mesmo assim, o México não será o mesmo. A direita já não conta mais com a paz dos cemitérios.
O silêncio dos zapatistas
Para finalizar, um registro que interessa às forças políticas que se encantaram com o Exército Zapatista de Libertação Nacional. Em 2006, o EZLN optou por pregar o voto nulo nas eleições presidenciais, organizando a chamada "Otra Campaña", que acabou sendo responsabilizada pela derrota de López Obrador por reduzida margem de votos numa eleição descaradamente fraudada.
Já neste pleito, o EZLN simplesmente sumiu. "O silêncio pode ter três explicações: a liderança zapatista quer evitar o desgaste com as organizações de esquerda que na sua imensa maioria apoiam Obrador; os zapatistas estão debilitados e não conseguiriam produzir uma ação das dimensões da Outra Campanha; ou ainda estão simplesmente ignorando o processo eleitoral", especula Juliano Medeiros, dirigente nacional do PSOL e da Fundação Lauro Campos e editor do sitio Unamérica.
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