O que é a propaganda?
19/01/2011
Leandro Konder
Para responder à pergunta sobre a propaganda, são necessários alguns elementos previamente estabelecidos sobre o que é a filosofia.
Filosofia é um tema bem mais complicado do que parece. A filosofia alimenta ao longo de sua história a ilusão de que pode tratar os grandes problemas com o mesmo nível de abertura e nitidez que é alcançado pelas chamadas ciências humanas, em geral.
Na vida, as pessoas se convencem com relativa facilidade de que nós podemos compreender no essencial aquilo que os outros nos apresentam na forma de uma indagação. E essa indagação se revela sempre mais complexa do que nós supúnhamos.
Temos, então, uma dificuldade que é a expressão da inesgotabilidade do real: por mais que nos esforcemos, de boa fé, jamais poderemos responder de maneira plenamente satisfatória às questões que a vida nos traz.
Isso não quer dizer que devemos nos resignar às deficiências do conhecimento que construímos. O que nos dá direito de reiterarmos sempre peremptoriamente algumas convicções que adquirimos no passado? Pressionado entre aquilo que pensávamos ontem e o que passaremos a pensar amanhã, somos frequentemente levados a nos entregar a crenças irracionais ou a códigos positivistas dos quais esperamos que nos deem tranquilidade.
O panorama se dificulta e a dificuldade cresce quando – como está acontecendo hoje no Brasil – a convicção sincera é bombardeada por dogmas formulados no tom ameaçador de quem adverte: "ou acreditas em mim, ou acabarei por te eliminar".
Essa advertência funciona como uma espécie de distorção ideológica ou de subordinação da busca do conhecimento pela atuação propagandística.
A propaganda não é apenas a alma do negócio, mas é também a legitimação da mentira. O motor do movimento é a intenção de vender ou comprar o patrimônio de ideias que cada sujeito traz na sua cabeça. Ao projetar seu pensamento e com ele suas propostas de ação, o homem limita brutalmente a possibilidade de se fazer compreender pelo outro. Qualquer ponderação pode ser rapidamente transformada em uma crítica veemente, brandida como um tacape na cabeça dos interlocutores.
Quando o sujeito é atingido pelo interlocutor divergente, ele sofre inevitavelmente com a impressão de estar sendo invadido. E a necessidade de repelir supostamente a invasão dá aos espectadores a impressão de que o estudo da História é mais vasto e menos eficaz do que a prática da propaganda.
Há autores que nos dão a impressão de que acreditam que aquilo que Marx chamava de luta de classes era apenas um conflito de duas linhas de propaganda.
A publicidade tentou imediatamente dar um golpe, relegando o termo propaganda a uma função menos nobre na linguagem do comércio. No entanto, cabia-lhe reservar uma área para as experiências e as pesquisas que vão se tornando cada vez mais necessárias nas novas condições.
Entre as teorias, surgiram e se desenvolveram convicções de que o enriquecimento da linguagem propagandística decorreria automaticamente das manobras publicitárias.
Apareceram, então, algumas expressões tidas como pioneiras "realizações de vanguarda", que davam a impressão de ser compreendidas por pouca gente. Um exemplo dessa malandragem inconsequente está no uso de uma figura bizarra, que é um coronel vestido com um uniforme do exército da União Soviética de meio século atrás, sustentando convicções que ninguém entende.
Pronunciando palavras em pseudo russo, o coronel está prestando serviços de propaganda a uma rede, que – não se sabe como – pretende se beneficiar publicitariamente de uma linguagem e uma atividade que, paradoxalmente, dificultam a chegada da propaganda aos brasileiros.
É uma situação bastante estranha. A publicidade entre nós não tem tropeçado em falta de talentos.
Permito-me, contudo, fazer uma pergunta: qual é a "mensagem" que o parvo coronel está levando ao imenso público da televisão?
Leandro Konder é colunista semanal do Brasil de Fato.
Publicado originalmente na edição 411 do Brasil de Fato
Nenhum comentário:
Postar um comentário