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A presença do filho do presidente em um cargo como esse gerou situações de constrangimento. Numa reunião ocorrida em 14 de setembro no Ministério do Turismo, com 18 representantes ministeriais, Paulo Henrique disse que queria mostrar aos países do primeiro mundo que aqui se tem “multiintegração racial, diversidade e competitividade internacional”. “Afinal, temos até um presidente mulato”, concluiu, provocando risos contidos dos participantes.
“Não podemos nos preocupar com os custos dos projetos, porque eu estarei me empenhando para mostrar aos ministros a importância desse investimento na Expo 2000”, disse o filho do presidente. “Entendo que o Brasil possa expor outros temas em seu pavilhão, como suas mulatas, suas sambistas”, retrucou o alemão Thomas Timm, representante da Câmara do Comércio Brasil Alemanha de São Paulo. “Mas não convém ao Brasil concentrar esforços num estande baseado em tecnologia”, concluiu. “Não devemos demonstrar um projeto individual de um ministério ou empresa num contexto que é global”, argumenta Paulo Henrique.
LIGAÇÕES PERIGOSAS
Mas Paulo Henrique já foi alvo de especulações sobre influências paralelas na economia nacional. Concessionária de serviços na área de energia elétrica, há um mês a Inepar foi a beneficiária de uma decisão do governo que causou perplexidade no mercado. Em 24 de fevereiro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) revogou a licitação pública para concessão da linha de transmissão de energia Tucuruí-Vila do Conde, no Pará. Um mês antes, a Inepar havia perdido a concorrência para o consórcio das empresas Schahin/Alusa.
A Aneel alegou “pioneirismo” da licitação e excesso de recursos ingressados pelos dois consórcios, o que prejudicaria o andamento da obra. A Schahin recorreu à Justiça. “Não sabemos dizer por que a Aneel tomou essa decisão, nossa proposta era a melhor e fomos pegos de surpresa”, afirmou o diretor jurídico da Schahin, Rinaldo Zangirolami. Um alto funcionário da empresa jogou mais lenha na fogueira. “Tivemos informação de que a concorrente contou com ajuda de interlocutores influentes no governo, como Paulo Henrique Cardoso”, disse ele, que não quis se identificar.
“Ter o filho do presidente da República como representante de uma empresa é um lobby maravilhoso”, comenta um parlamentar com negócios na área de construção civil. “Jamais fui lobista e acho inacreditável essa discussão”, irrita-se Paulo Henrique. “É evidente que um empresário do porte de Atilano não precisaria de uma pessoa como eu para chegar ao governo”, completa o primeiro filho.
A carreira do filho do presidente da República não prima pela estabilidade profissional – como sempre buscaram seus pais, profissionais de carreira acadêmica pela Universidade de São Paulo. Paulo Henrique chegou a cursar Economia na Unicamp, época em que andava de jipe e usava cabelos compridos, mas acabou formando-se em Sociologia pela mesma universidade. Nunca se interessou em mergulhar em pesquisas e estudos acadêmicos. Mas abraçou a carreira de marketing e publicidade e fundou, nos anos 70, uma produtora independente, a Rádio 2. Durou pouco.
Já na década seguinte, ingressou no meio cultural e arrumou trabalho na produtora de cinema e vídeo Intervalo, de Walter Salles Júnior. Mudou novamente de emprego e foi parar na Miksom, outra produtora de vídeo, na função de diretor. Passou pela Rádio MEC, quando seu pai Fernando Henrique era senador, e pela extinta TV Manchete. Em 1995, quando Fernando Henrique vestia a faixa presidencial, Paulo Henrique arrumou emprego na ex-estatal Companhia Siderúrgica Nacional. Tinha como função primordial cuidar da imagem institucional da siderúrgica. Também durou pouco no cargo. E saiu para assumir, em 1997, um cargo em marketing da ex-estatal Light, no Rio de Janeiro. “Ele sempre foi da área de marketing, mas agora estou feliz porque ele está atuando com sucesso na área empresarial”, diz Bulhões.
Xodó da mãe, Paulo Henrique aprendeu com ela a cozinhar, lavar, passar e até costurar. Com o pai, teve a vivência do exílio político no Chile e na França. No Chile, PHC viveu dos 10 aos 14 anos, depois acompanhou o pai na passagem pela França, Inglaterra e Berkeley, na Califórnia. Aprendeu a falar fluentemente inglês, francês e espanhol. “Tenho muita admiração pelos meus pais. Hoje vejo o que representou o fato de minha casa ter sido um ponto de encontro e de debates durante o exílio.” É também elogiado pelos amigos. “Ele é brilhante e um excelente relações públicas”, define o deputado federal Xico Graziano (PSDB-SP). “Ele é mais expansivo que o pai e gosta de política, só não gosta da militância política”, diz o ex-secretário-geral da Presidência da República Eduardo Jorge Caldas.
Copyright 1996/2000 Editora Três
http://www.terra.com.br/istoegente/35/reportagens/rep_phc.htm
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