José Cruz/ABr
À espera da decisão do STF sobre o ato de Lula que negou sua extradição à Italia, Cesare Battisti falou aos repórteres Maria Mello e Vinicius Mansur.
O resultado da conversa vai às bancas na página quinta-feira (27), nas páginas da próxima edição da revista 'Brasil de Fato'.
Condenado à prisão perpétua na Itália por envolvimento em quatro assassinatos, Battisti diz que fizeram dele um personagem inexistente:
"Fabricaram um monstro que não tem nada a ver comigo", disse Battisti. Ele se julga perseguido:
"Me perseguem porque sou escritor, tenho imagem pública. Se eu não fosse isso, seria mais um, como vários italianos que saíram do país pelo mesmo motivo".
Incluiu entre seus "perseguidores" também as togas brasileiras: "Sou perseguido pelo Estado italiano e pelo Judiciário brasileiro".
Esforça-se para afastar o processo que o envolve da esfera judicial para a arena política:
"Me derrotar também é derrotar o Lula. Agora, o objetivo principal da direita brasileira, nesse caso, é afetar o governo Dilma".
Vai abaixo um pedaço da entrevista de Battisti, antecipado pela revista na web:
- Como o senhor tem visto a repercussão do seu caso na Itália e no Brasil? É difícil falar disso, essa é a razão pela qual fiquei traumatizado e precisei de um psiquiatra. Só de ver alguma coisa que não tem muito diretamente a ver comigo eu já fico... meu coração dispara, já não me controlo, fico em um estado semi-consciente. Ontem, por exemplo, passou no SBT uma informação do Berlusconi com suas prostitutas. Só com o anúncio da notícia "Itália", eu fiquei assim [trêmulo]. Fabricaram um monstro que não tem nada a ver comigo.
- Qual é o interesse nisso? Me perseguem porque sou escritor, tenho imagem pública. Se eu não fosse isso, seria mais um, como vários italianos que saíram do país pelo mesmo motivo. Sou perseguido pelo Estado italiano e pelo Judiciário brasileiro. Essa perseguição não é grátis. Não se desrespeitaria por nada uma decisão do presidente da República. Não existe um país no mundo onde a extradição não é decidida pelo chefe do Executivo. Imagina se essa decisão tomada pelo Judiciário brasileiro acontecesse em outro país, como na França, por exemplo. Seria um absurdo, impensável. E quando eu virei um caso internacional, virei uma moeda de troca para muitas coisas. Se o Lula desse essa decisão antes iam em cima dele, porque me derrotar também é derrotar o Lula. Agora, o objetivo principal da direita brasileira, nesse caso, é afetar o governo Dilma.
- Como o senhor recebeu a decisão do Lula? Foi ato de coragem. Por ser chefe de Estado do tamanho do Lula, com a responsabilidade que tem, envolvido na geopolítica. Claro que a escolha do momento não foi por acaso. O caso Battisti foi usado com outras razões políticas.
No início, Battisti considerava-se perseguido por Pietro Mutti, o ex-companheiro de armas que, beneficiado pela delação premiada, o entregou.
Depois, Battisti passou a considerar-se perseguido pelo Judiciário da Itália. Incluiu na lista todo o Estado italiano.
Agora, autoconvertido em vítima de uma inusitada pluriperseguição, considera-se acossado também pela "direita" e pelo Judiciário do Brasil.
Ou seja: para Battisti, só Battisti tem razão. Rodeia-o um implacável mundo injusto e perseguidor.
- Siga o blog no twitter.
Nenhum comentário:
Postar um comentário