Se Zelaya está livre, agradeça ao Brasil
Os destinos da política externa brasileira vão paulatinamente tomando os rumos de uma política independente e mais próxima dos interesses soberanos da América Latina.
A recente recepção e abrigo do ex-presidente constitucional de Honduras, na sede de sua embaixada em Tegucigalpa nos mostra um forte e dedicado dedo do presidente Lula, operando dentro da antiga e "murista" posição política externa do Itamaraty de não intervenção nos assuntos internos dos países, vizinhos ou não, sejam quais forem as mudanças políticas neles operados, dentro ou fora dos limites constitucionais.
É, sem dúvida, um bom sinal. Para aqueles que se lembram ainda, a chancelaria brasileira tomou a vergonhosa posição de colaborar e reconhecer a ditadura imposta, em 11 de Setembro de 1973, no Chile, após a derrubada de Salvador Allende, o primeiro governo socialista da América Latina.
Não se pode esquecer também da vergonhosa montagem do Centro de Informações do Exército (CIEx), pelo embaixador Pio Corrêa, que não somente monitorava os exilados nas embaixadas da América Latina como também dedurava aos serviços secretos brasileiros da ditadura o movimento dos ativistas para serem presos, seqüestrados e torturados pelo terrorismo de Estado no Brasil.
Ou, ainda, do vexame de um De Gaulle no Brasil, deixando de lado o Presidente Castello Branco na pista e pegando pelo braço o líder há época do PTB, Doutel de Andrade, e dizer:
Transmita ao presidente Goulart no seu exílio que só estou aqui a seu convite, pois foi com uma carta pessoal a mim, sem a intervenção do Itamaraty, que nossos países restabeleceram seus embaixadores depois do episódio da Guerra das Lagostas.
Hoje, vemos novamente nos meios de comunicação e no Congresso Nacional, os mesmos reacionários de sempre a propalar se o governo Lula tinha ou não conhecimento da chegada de Zelaya na embaixada brasileira em Tegucigalpa.
Ora, vivemos um momento de profunda reflexão ideológica nos posicionamentos acerca daquilo que foi direita ou esquerda no passado. Esses mesmos conceitos perambulam pelas pautas das redações dos impérios monopolistas da mídia que, a serviço ainda das elites latino-americanas, têm suas concessões renovadas, a exemplo aqui, no Brasil, da Globo e Record, sem o devido debate público daquilo que vão veicular em seus veículos de comunicação, até além de 2020.
As recentes palavras do presidente Lula, a poucas horas da reunião da ONU, em território norte-americano, colocaram em apuros a secretaria de Estado dos EUA para que se posicione em defesa da democracia e do Estado de direito contra as velhas ditaduras. Este é, sem dúvida, um alento que coloca a soberania brasileira de forma hegemônica no continente Latino Americano, de forma a enfrentar a espada da direita norte-americana, a mesma que força o presidente Barak Obama a prorrogar o criminoso bloqueio a Cuba.
Se a posição brasileira em proteger a democracia no continente Americano, fornecendo proteção a um presidente democraticamente eleito em seu território, via sua embaixada, ainda dói em alguns saudosistas das ditaduras, é um sinal de que avançamos com esta nova política de defesa da democracia no governo Lula. Dizemos, assim, aos mais fortes, por exemplo, que ainda temos voz diante da intolerância e desfaçatez imperialista de construir bases militares perto de nossas fronteiras.
João Vicente Goulart é presidente do Instituto João Goulart.
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