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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

30.9.09

Cesare Battisti, bode expiatório

Jornal Correio do Brasil
 
Por Rui Martins - de Berna

Cesare Battisti – cidadão italiano sem importância que, para garantir o sustento de sua família e pagar as contas no fim de mês, conseguiu (sonho dos antigos emigrantes portugueses) ter um pequeno apartamento em Paris, em troca do serviço de zelador (entregar as correspondências, varrer as escadas e recolher o lixo), aproveitando as horas livres para escrever romances policiais – poderia ser apenas um personagem de Antonio Tabucchi (escritor italiano).

Poderia ser, por exemplo, o discreto senhor Pereira, na Lisboa salazarista contada, nas cores escuras da repressão e medo da ditadura, pelo escritor italiano, de Pisa, apaixonado por Fernando Pessoa – a ponto de aprender o português e integrar-se no mundo lusitano. Pouca gente saberia da juventude tumultuosa do senhor Battisti, às vezes casmurro por seu destino,
longe de imaginar que, alguns anos depois, seria manchete de jornais italianos, mobilizaria juristas, envolveria governos, depois de ter buscado em vão o anonimato no país de Lula, cuja vitória tanto comemorara, em Paris, na modesta condição de emigrante e refugiado político.

Poderia, mas lhe foi negada a existência discreta que aspiram os fugitivos, sempre temerosos de serem localizados e descobertos. A cansativa fuga a pé da Itália, a França, o México, Paris, novamente a fuga até chegar ao Brasil para viver três anos na clandestinidade – essa longa marcha em busca de um lugar seguro e livre foi frustrada por uma nova prisão, e já se vão
dois anos. Uma esperança de liberdade logo foi substituída pela ameaça de passar o resto de sua vida na prisão.

Acusado de crimes que afirma não ter cometido, acolhido na fuga pelo presidente francês François Mitterrand, seu estatuto de refugiado ia ser definitivamente substituído por uma naturalização francesa quando outro presidente, Jacques Chirac, decidiu reabrir as acusações já prescritas, forçando novo exílio, desta vez no Brasil, com outro nome e outra aparência,
mas sem conseguir escapar a um terceiro presidente francês, Nicolas Sarkozi, já em território brasileiro e mais de 30 anos depois dos crimes a ele atribuídos.

Em todos esses episódios o interesse de seus perseguidores era político. Battisti, uma presa tão perseguida pelos predadores, nada mais é que um bode expiatório.
 

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz