Escrito por Wladimir Pomar
24-Out-2007
Voltamos ao tema porque ele está relacionado não só com a questão ambiental, mas também com o aproveitamento dos biocombustíveis como possibilidade de reforço da pequena agricultura. Faz parte da disputa econômica, social e política, tanto contra o verdadeiro velho latifúndio quanto contra a exploração do agronegócio.
Até agora, uma parte das lideranças camponesas tem se batido contra quase tudo. Bate-se contra o velho latifúndio, a exploração capitalista dos latifúndios modernos e das médias produções agrícolas (o agronegócio), a concentração fundiária, a produção dos biocombustíveis, a destruição do meio ambiente, as máquinas e as pesquisas agronômicas, juntando num mesmo cesto coisas de natureza diferente. Sequer se dá conta de que a cultura de plantas próprias para a produção de biocombustíveis, pela agricultura familiar e por pequenos agricultores, pode ser um instrumento importante para evitar a multiplicação das monoculturas e a redução do plantio de alimentos.
No fundo, são contra os biocombustíveis porque também são contra que o campo produza matérias primas para a indústria e gere excedentes para as exportações. Esquecem que muitos produtos agrícolas, como o algodão e o sisal, por exemplo, são essenciais para inúmeros pequenos agricultores, e para a economia brasileira como um todo. E que a exportação de produtos agrícolas é fundamental para o país importar matérias primas, equipamentos, máquinas e tecnologias que ainda não produz, aumentando seu grau de independência.
Uma séria discussão sobre os biocombustíveis pode ajudar a compreender que a mudança real do modelo do agronegócio não consiste em destruir seus avanços tecnológicos e liquidar com os grandes plantios, mas transformar seu regime de propriedade privada em propriedade social. O que depende da constituição de uma força social e política capaz de implementá-la.
Portanto, a preliminar consiste em constituir tal força social, tendo por base a aliança dos trabalhadores assalariados, com as classes médias, rurais e urbanas. Nesse sentido, as lutas por mudanças nos índices de produtividade, por zoneamento agrícola, por limitação técnica das monoculturas, por franjas florestais, pela destinação das terras improdutivas e públicas para as unidades familiares rurais, pelo cuidado com as nascentes e matas ciliares, por reforma agrária, e por uma enorme série de outras demandas agrárias, agrícolas e ambientais, mesmo estando dentro dos limites do capitalismo, são parte da luta geral de criação daquela força social e política.
São bandeiras democrático-capitalistas, embora muita gente abomine esta verdade. Quem quiser lutar pela socialização dos meios de produção sem passar pela educação prática dessas lutas, incluindo a disputa pela produção dos biocombustíveis, está apenas pretendendo assaltar os céus sem ter forças para tanto.
Wladimir Pomar é escritor e analista político.
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