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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

4.10.15

Um passaporte para o futuro: Frente Brasil Popular

04/10/2015 00:00 - Copyleft

Um passaporte para o futuro: Frente Brasil Popular

Calafetar a greta histórica é o salto ao qual se propõe a Frente Brasil Popular que precisa reunir a força necessária ao seu teste final: as urnas de 2018.

Saul Leblon

Paulo Pinto

A estreia da Frente Brasil Popular nas ruas do país neste sábado – com maior intensidade em São Paulo, onde oito mil pessoas atenderam ao chamado do novo comitê unificado do campo progressista brasileiro — merece atenção.
 
O que engatinha, ainda em fraldas, não é apenas a construção de um novo aparato mobilizador, mas sobretudo, a convergência de agendas que vão definir o programa único de lutas e reivindicações populares.
 
O desafio não é retórico.
 
Trata-se de sinalizar um futuro alternativo, e crível, ao assalto em curso da restauração neoliberal no país. 
 
Fazê-lo a partir de lutas e intervenções firmes e consequentes, a ponto de conquistar a adesão e o consentimento da maioria da população é a linha de passagem capaz de levar o país até 2018, sem o golpe.
 
E de vencer os golpistas consagradoramente então.
 
Essa é a essência do jogo que começou a ser jogado.
 
A Frente Brasil Popular içou velas no turbulento oceano político que nos separa daquele momento, disposta a ser o casco e o leme da candidatura que enfrentará a direita unificada no escrutínio histórico que ocorrerá então.
 
Todo o esforço do conservadorismo hoje consiste em fraturar e obstruir essa travessia.
 
Inviabilizar o governo Dilma, engessando-o em um pântano de sabotagem econômica e constrangimento institucional é a tática da hora.
 
Outra, consiste em excluir o nome do ex-presidente, Luís Inácio Lula da Silva, da cédula eleitoral de 2018, como possível candidato da frente que ora se forma.
 
É compreensível o temor que o confronto inspira nas elites e na borra reacionária que as sustenta.
 
Sem financiamento empresarial de campanha, com interesses e antagonismos explicitados pela transição de ciclo de desenvolvimento, e uma ênfase em ideias, não em publicidade, o embate sucessório de 2018 caminha para ser o palco pedagógico das contradições que ora travam o passo seguinte do desenvolvimento brasileiro. 
 
Mais ou menos o oposto do que se vê nesse momento.
 
O assalto em curso da restauração neoliberal avança com relativa facilidade graças ao vácuo de uma dissipação organizativa e ideológica sedimentada nos últimos doze anos.
 
A reforma ministerial promovida na última semana, correta nas circunstâncias, na medida em que cindiu o golpismo cooptando um pedaço dele, evidencia ao mesmo tempo o grau de fragilidade em que se encontra o campo progressista, paradoxalmente depois do seu mais longo e frutífero ciclo de governos no país. 
 
A despolitização da agenda do desenvolvimento explica uma boa parte desse paradoxo.
 
Uma mistura equivocada de economicismo e busca de indulgência junto aos detentores da riqueza cimentou um pragmatismo cego que creditou às gôndolas dos supermercados a tarefa de promover a conscientização popular na defesa das conquistas -- inegáveis, diga-se, registradas desde 2003.
 
O PT e uma parte de seus dirigentes – mas também círculos de seu entorno intelectual — deixaram-se hipnotizar de algum modo pela miragem do boom de commodities, como se capitalismo fosse o consenso e não a tensão na história.
 
Durante um período longo demais, muitos dentro do governo e do PT acharam que essa era uma 'não-questão'.
 
Que tudo se resolveria com avanços incrementais no consumo, que se propagariam das geladeiras abastecidas para a correlação de forças da sociedade, em uma espiral ascendente e virtuosa.
 
O absenteísmo em relação às bases, às ruas e à luta ideológica; a inexistência de canais de comunicação próprios com a sociedade, tudo parecia tangencial diante do persuasivo poder do tíquete médio de um crescimento contínuo em que, como se disse durante anos, todos ganhariam.
 
De fato, ganharam.
 
A eclosão da desordem neoliberal em 2008, porém,  sacudiu esse interregno de conforto expondo com virulência o reduzido grau de tolerância conservadora à construção de uma verdadeira democracia social no Brasil, quando isso implica dividir a riqueza existente, não apenas o fluxo, mas o estoque também.
 
Fez mais que isso.
 
Escancarou a frágil organização progressista em um cenário em que o crescimento do excedente já não acomodaria mais os compromissos e os conflitos da sociedade.
 
O deslocamento do jogo em que todos ganham, para o enfrentamento bruto entre arrocho ou tributação da riqueza financeira, passaria então a dar as cartas na mesa.
 
Que esse novo tempo tenha liberado o ódio latente ao PT e aos segmentos populares, é compreensível.
 
Que tenha empalmado inclusive setores incorporados ao mercado de massa nos últimos doze anos, escancara os limites do economicismo que orientou a construção da governabilidade progressista desde 2003.
 
A contradição atingiu dimensões suficientes para encorajar a direita e seu dispositivo midiático a empreender um mutirão determinado não apenas a derrotar o PT nas urnas, mas a destruí-lo e a seus dirigentes, banindo-os da vida política brasileira.
 
Não há certeza de que não serão bem sucedidos.
 
A beira do precipício histórico resgata uma discussão inscrita no DNA da esquerda em nosso tempo, mas abandonada no Brasil à medida em que a governabilidade parlamentar monopolizou as energias e desafios do exercício no poder.
 
Como ir além dos limites intrínsecos à construção da justiça social numa época cuja singularidade decorre de o Estado não deter mais o poder de comandar o mercado; e a democracia promete mais do que a livre mobilidade dos capitais está disposta a conceder?
 
Uma primeira pista é que não se pode atribuir à economia aquilo que compete à correlação de forças decidir. Por exemplo, decidir dar funcionalidade ao controle de capitais, subtraindo aos mercados a prerrogativa de desossar as urnas, chantagear partidos, acuar governantes e indiferenciar programas.
 
A repactuação de um novo ciclo de investimento com distribuição da riqueza é indissociável do avanço da democracia participativa. Inclua-se aí a democratização do sistema emissor de ideias, hoje detido pelo oligopólio das comunicações no país.
 
O resto é arrocho.
 
Entre os requisitos para que não o seja inclui-se refazer o caminho de volta às ruas.
 
Não em eventos esporádicos de uma estrutura esclerosada que desaprendeu a andar no asfalto e na lama das periferias.
 
Mas através de um novo protagonista coletivo.
 
Que impulsione as partes do todo de fora para dentro; que tenha estatura, capilaridade e força superior a todas elas, sendo capaz, assim, de fazer o que nenhum de seus componentes unilateralmente conseguiria: alterar a correlação de forças, superando na prática a ilusão de que é possível radicalizar direitos sociais negados pelos mercados, sem radicalizar a democracia.
 
Não será viável avançar nesse percurso à margem da organização e do discernimento crítico de seus principais interessados.
 
A nova classe trabalhadora surgida na última década, sugestivamente dissimulada em um eufemismo da sua verdadeira natureza histórica -- 'nova classe média'—terá que assumir o protagonismo verdadeiro para não sucumbir à uma regressão devastadora.
 
O sujeito do processo não pode permanecer alheio às raízes do conflito que decidirá o seu destino, sob pena de condenar a sociedade a uma espiral descendente de incerteza e impasse insustentáveis.
 
Devolver-lhe a identidade política implica dotá-lo de organização e discernimento correspondente ao peso ordenador que passou a ter na economia e na correlação de forças de um período.
 
A despolitização do projeto de desenvolvimento nos últimos anos levou esse contingente a enxergar sua inserção no mundo como uma relação pessoal com a gôndola e com o limite do cartão de crédito.
 
Pesquisas nas mãos do PT mostram a desilusão brutal deflagrada pela crise nessa base terceirizada aos supermercados.
 
Decorre daí uma ruptura que não se sabe se ainda reversível.
 
A aderência anterior entre o que se convencionou chamar de lulismo e suas referências políticas, esfumou-se.  
 
Esse, na verdade, é o 'grande ajuste' que desafia o Brasil progressista na caminhada rumo a 2018.
 
Trata-se de entender e superar uma clivagem entre o país que ascendeu ao consumo de massa, mas que não se tornou protagonista histórico do próprio destino.
 
E de fazê-lo em um momento em que as gôndolas já não entregam mais o que prometeram. 
 
Não será fácil. 
 
Mas tampouco a cooptação desse universo será um passeio para o conservadorismo.
 
Por razões objetivas, mesmo o lulismo desiludido continua a orbitar na lógica oposta a das elites.
 
Ao trazer 60 milhões de brasileiros ao mercado e à cidadania, o ciclo petista esburacou de maneira formidável a estrada na qual o conservadorismo costumava engatar a ré e acelerar o retrocesso político e econômico, sem nem consultar o espelho retrovisor.
 
Não é mais possível faze-lo assim. 
 
Daí a hesitação do golpismo diante do pênalti  imposto ao campo progressista, mas que agora quer bater com a adicional garantia de que não haverá guarda-metas no gol.
 
Quando um melífluo FHC exige que Dilma faça o trabalho sujo do arrocho e depois renuncie -- 'no prazo de um ano', é porque desconfia que só um termidor repressivo devastador, de consequências imprevisíveis, permitiria reverter  o potencial econômico e político acumulado desde 2003.
 
Moro é isso: o golpe por etapas, assim graduado pela hesitação golpista. 
 
A boa notícia na praça é que o campo progressista resolveu se unir para barrar esse risco nas ruas e se credenciar como sujeito dessa que avulta como uma das mais virulentas transições de ciclo de desenvolvimento já enfrentadas pelo país. 
 
Basta lembrar de 32; 54; 64; 1985 e 2002 para se ter a dimensão da explosividade em curso.
 
A encruzilhada brasileira decorre em boa parte desse descompasso entre requisitos econômicos e regulatórios impostos pela transição de ciclo mundial e local, e a ausência de sua contrapartida no escopo da correlação de forças existente no país nesse momento.
 
Calafetar a greta histórica é o grande salto ao qual se propõe a Frente Brasil Popular.
 
Oxalá seja entendida assim pelo conjunto dos partidos, lideranças, movimentos sociais, centrais de trabalhadores e trincheiras intelectuais, como é o caso do Fórum 21.
 
Esse é o requisito para adquirir a força e o consentimento necessários ao seu teste final: as urnas de 2018.




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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz