Há alguns anos, Marcel Légaut publicava um penetrante estudo no qual, depois de analisar e diferenciar o que ele chama de "religião de autoridade" e "religião de chamado": sugeria caminhos e pistas de futuro para uma Igreja que queira ser fiel a Jesus na sociedade moderna.
As "religiões de autoridade" oferecem, de acordo com o pensador francês, certezas absolutas e estruturas seguras. Ao mesmo tempo exigem de seus membros obediência e submissão a prescrições às vezes minuciosas. Além disso, quando uma "religião de autoridade" se instala majoritariamente numa sociedade, trata de influir e dominar para impedir que se tome uma orientação oposta ou alheia a seus dogmas religiosos.
Esta religião, endurecida em torno do princípio de autoridade, não ajuda a maturação pessoal de seus fiéis. Pelo contrário, corre o risco de aprisioná-los em doutrinas e práticas que só são vividas pela metade, inclusive quando a adesão à doutrina parece fervorosa e a observância da lei rigorosa.
A "religião de chamado" é diferente. Não impõe uma doutrina, mas propõe um caminho de salvação. Não emite pareceres, só chama e convida. Não entende sua atuação como um exercício de poder, mas como um serviço. Não pretende submeter ninguém com coações. Coloca-se, antes, ao serviço do ser humano para convidá-lo a buscar em Deus sua vida plena.
Jesus entende toda a sua atuação como um serviço. Seus seguidores não devem dominar nem oprimir. Devem servir como ele próprio, que "não veio para ser servido, mas para servir": Cristo é chamado, oferta, semente, fermento, mas nunca imposição. Na Igreja precisamos corrigir o que há de imposição não evangélica, para adotar uma atitude total de serviço.
Um cristianismo autoritário tem pouco futuro. Numa sociedade plural já não disporá do poder político nem da organização social que possuía antes. Sua influência na cultura e na educação será cada vez menor. Ser-lhe-á difícil viver na defensiva, em luta desigual com as correntes modernas. O passar do tempo trabalha contra o autoritarismo religioso, mas pode oferecer possibilidades insuspeitadas ao seguimento de Jesus, entendido como serviço humanizador ao homem desvalido de todos os tempos.
Trecho do livro "O Caminho Aberto por Jesus", de José Antonio Pagola, Editora Vozes.
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