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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

29.10.15

Documentário retrata luta de Betinho por um Brasil mais justo

CINEMA

Documentário retrata luta de Betinho por um Brasil mais justo

'Betinho – A Esperança Equilibrista', de Victor Lopes, conta a trajetória pessoal e de ativismo de Herbert de Souza, que completaria 80 anos em novembro. Filme estreia na quinta (29)
por Xandra Stefanel, especial para RBA publicado 28/10/2015 19:00, última modificação 28/10/2015 19:28
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Betinho

'Comecei a escutar aquela música pelo telefone e me dei conta que era o hino da anista e que eu era parte dele'

"O que aconteceu comigo ao longo da vida foi uma sucessão infinita de sortes. Eu não era para estar vivo quando eu nasci porque hemofílico não sobrevivia. Depois eu sobrevivi a uma tuberculose, quando tuberculose era aids ou câncer, a lepra dos anos 1950. Eu sobrevivi à clandestinidade. Estou sobrevivendo a aids. E sempre na risca." Este depoimento de Herbert de Souza faz parte do documentário Betinho – A Esperança Equilibrista, de Victor Lopes, que estreia nesta quinta-feira (29) nas salas de cinema.

O filme traz a trajetória do sociólogo e evidencia o que milhares de pessoas já sabem, mas que é importante salientar: o Brasil teve muita sorte por ter tido Betinho, um filho que não fugiu de nenhuma luta. Morto em 1997 em decorrência de complicações ligadas ao HIV, seus 62 anos de vida foram suficientes para começar a mudar a história do país. Ele completaria 80 anos em 3 de novembro.

Além de ter lutado contra a hemofilia, a tuberculose e a aids, ele travou outras batalhas. Seu passaporte para o engajamento social e político foi o envolvimento com a Ação Católica. Com o golpe militar, caiu na clandestinidade, exilou-se, teve de ir para Uruguai, Chile, Panamá e Canadá para não ser morto pela ditadura brasileira. Resistiu à saudade, ao frio e à distância do país que amava por não poder voltar. O sofrimento era parte de sua vigília contra a morte que lhe perseguia desde que nasceu. Mas nem por isso, ele deixou de fazer sua parte, de pensar no próximo e em seu país.

No documentário, toda a história é narrada pelo próprio Betinho por meio de entrevistas de arquivo, além de depoimentos de parentes, amigos e companheiros de batalhas. Uma das pessoas entrevistadas é a primeira mulher, Irles Carvalho, com quem ele teve de se casar por procuração, já que estava no Uruguai. Com ela, teve Daniel Souza: "Eu nasci já no golpe, já na clandestinidade. Naquela época todo mundo tinha nome falso, não podia ficar no mesmo lugar, tinha de estar o tempo todo mudando. Meus pais trabalhavam não na luta armada, mas militavam na questão da alfabetização, ou seja, era muito mais na conscientização do que efetivamente numa luta armada. Eu acredito que o relacionamento nessa situação não deve ter sido fácil. O casamento, na verdade, não durou muito", lembra Daniel.

A segunda mulher, Maria Nakano, também dá depoimentos emocionados sobre o grande amor de sua vida e parceiro nos combates contra a ditadura: a dura despedida antes de Betinho ir para o Chile em seu primeiro exílio "oficial", o reencontro, a descoberta das verdadeiras identidades de cada um, o apuro que passaram quando veio o golpe de Pinochet, entre outros. O que o diretor Victor Lopes faz no filme é mesclar harmoniosamente o universo íntimo de um calmo guerreiro com os fronts nos quais o personagem duelou pela democracia, contra a corrupção, a miséria e a fome.

Um dos momentos mais emocionantes do documentário é sua volta ao Brasil, imagens marcantes da anistia. O reencontro com o irmão, o cartunista Henfil, e com muitos amigos que Betinho nem imaginava mais ver, é embalado pela canção O Bêbado e A Equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc, na voz de centenas de pessoas que o esperavam no aeroporto. "Eu acompanhava a anistia por meio do Henfil. O Henfil fazia uma luta nacional pela anistia por meio das cartas que ele escrevia pra mãe e me colocava como a razão pela qual ele lutava pela anistia, porque ele queria que eu voltasse. (…) Foi o Henfil que me telefonou e disse escuta aí. E aí eu comecei a escutar aquela música pelo telefone, que falava sobre o bêbado, a equilibrista e não sei o que… E num determinado pedaço, entra a Elis cantando: 'O Brasil que sonha com a volta do irmão do Henfil'. Aí foi que eu me dei conta que estava diante do hino da anistia e que eu era parte deste hino", declara Betinho.

Ação da Cidadania

De volta ao país, Betinho teve saúde o suficiente para ajudar outras milhares de vidas que lutavam contra a fome e a miséria. Criou o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e a Campanha Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, na qual reuniu artistas, publicitários, empresários, a sociedade civil e impulsionou governos a fazer o que tinha de ser feito para combater a fome.

Além disso, ele fez uma intensa campanha pelo acesso aos tratamentos contra a aids e para que mais ninguém fosse contaminado ao fazer transfusão de sangue, como aconteceu com ele. O que ele faz é "transformar a coisa do sangue e exigir regulamentação, porque o sangue era comercializado neste país. E daí, a Constituição reconhece a doação e o controle pelo Estado na qualidade do sangue, porque até aí, não tinha", lembra o sociólogo Cândido Grzybowski, diretor do Ibase.

As toneladas de alimentos arrecadadas pela Ação da Cidadania evidenciam que a fragilidade de sua saúde não era impedimento na sua luta. "Foi ali que o Brasil inverteu a sua prioridade em relação a fome. Deixou de tratar aquilo como um fato da natureza, inevitável, contra o qual não podíamos fazer nada e colocou isso na agenda pública do país. Ali que se rompeu uma inércia que levou a gente a sair do mapa da fome", afirma Átila Roque, diretor da Anistia Internacional Brasil.

Betinho – A Esperança Equilibrista é um retrato delicado e emocionante de um homem que sonhava com um Brasil mais justo para todos os brasileiros. Suas ações, algumas transformadas em políticas públicas ao longo dos anos, nunca serão esquecidas. O trunfo do filme é reunir suas memórias e imortalizar a sede de mudanças que Herbert de Souza tinha. É uma obra para ver na tela grande e também ter em DVD, ao qual possamos recorrer nos momentos de crise, aqueles que nos dão a impressão de que o medo está vencendo a esperança. Para Betinho, a esperança sempre venceu.

Betinho – A Esperança Equilibrista
Direção e roteiro: Victor Lopes
Produção executiva e direção de produção: Angela Zoé
Diretor de fotografia: Luis Abramo
Som direto: Renato Calaça
Montagem: Pedro Asbeg e Victor Lopes
Edição de som e mixagem: Damião Lopes
Produção de finalização: Tiago Arakilian
Música: Marcos Souza
Pesquisa: Isabel Garçoni, Ana Redig e Julia Zylbersztajn
Design: Jair de Souza Design
Distribuição: Elo Company

http://www.redebrasilatual.com.br/entretenimento/2015/10/documentario-retrata-luta-de-betinho-por-um-brasil-mais-justo-para-todos-6883.html

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz