Sartori vai para a pura chantagem
Por Antônio Escosteguy Castro
Pela quinta vez em um mês, o Governo Sartori não conseguiu aprovar na Assembleia Legislativa o projeto que reduz as RPVs, destinado a poupar cerca de 1 bilhão de reais por ano num calote às dívidas judiciais do estado. Não foi por falta de esforço. A base governista chegou até ao desgaste de absolver o Deputado Baseggio da cassação do mandato para assegurar o apoio do PDT. Mesmo assim, não adiantou.
A fragilidade do governo deriva da completa ausência de um programa de enfrentamento da crise. Pouco ou quase nada foi feito até o aumento do ICMS e muito pouco ou quase nada foi feito depois do aumento do ICMS. Ninguém sente firmeza no Governo Sartori e como consequência sua base parlamentar reluta em aprovar mais uma medida altamente impopular. Afinal, todo mundo tem uma tia, um irmão ou um amigo que é credor do estado e ficará sem receber.
A reação do governo do estado a mais um fracasso foi apelar para a total chantagem à sociedade. Primeiro, anunciou que os salários voltariam a atrasar em outubro, buscando reeditar o movimento que deu certo para a aprovação do aumento do ICMS. O efeito do anúncio desta vez, porém, não foi o mesmo. E o governo, então, decidiu elevar o tom e ameaçou cortar o repasse dos demais poderes, afirmando que não vai pagar o 13º salário do Judiciário e do Legislativo. O objetivo da manobra é claro: colocar a pressão nos deputados a partir dos próprios funcionários da Assembleia e quebrar o apoio do Judiciário à rejeição do projeto que reduz as RPVs.
Uma política de total e aberta chantagem só pode se realizar com o completo apoio do Grupo RBS e seus veículos. E o poderoso, endividado e investigado grupo gaúcho tem cumprido seu papel. Seus jornais, rádios e televisões passam o dia inteiro trombeteando o caos das finanças estaduais e os esforços de Sartori em por a ordem na casa. Sob investigação na Operação Zelotes e ameaçado com uma dívida de centenas de milhões de reais, o Grupo RBS, frente à cada vez mais minguada possibilidade do impeachment de Dilma, tem migrado mais solidamente para o apoio à Sartori, apostando num processo de privatização das estradas e das empresas estatais que sobraram do Governo Brito como forma de resolver ou minorar seus problemas financeiros.
Mas Sartori não é Brito. Verdade que o Sartorão da Massa é mais simpaticão que o Brito. Mas fica nisto. Antonio Brito tinha um projeto claro de governo e mobilizava amplos setores da sociedade em direção ao que apresentava como sendo a modernidade. Além disto, Brito teve o alívio da dívida , momentâneo mas real, em seu mandato e Sartori, de forma equivocada, rejeitou negociar com a União, apostando na judicialização e na queda de Dilma.
A inconsistência do Governo Sartori , sua falta de objetivos e propostas claras, dificulta a apresentação de medidas tão ousadas como a privatização da CEEE ou a abertura da CORSAN para as PPPs na água e esgoto. A lentidão do governo em mover-se, ademais, ainda faz duvidar que tais medidas, mesmo se eventualmente aprovadas, consigam ser implementadas dentro do atual mandato.
O governo, mais uma vez, está paralisado, esperando que a operação chantagem faça efeito e que o projeto das RPVs venha, afinal, a ser aprovado. Mas mesmo que o seja, e daí? O que vem a seguir? Infelizmente, não consigo encerrar a coluna de outra forma: Pobre Rio Grande.
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Antônio Escosteguy Castro é advogado.
http://www.sul21.com.br/jornal/sartori-vai-para-a-pura-chantagem/
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