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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

10.6.14

Žižek: A utopia de Piketty | Esquerda

Žižek: A utopia de Piketty

Numa conferência em Londres, o filósofo esloveno comentou o livro de Thomas Piketty, considerando utópica a ideia de que seria possível combinar o capitalismo que existe hoje com uma taxação forte do capital.


Montagem sobre foto de Mariana Costa/Flickr

Le Capital au XXIe siècle, é um livro essencialmente utópico. Porquê? Por causa da sua modéstia. Thomas Piketty percebe a tendência inerente do capitalismo à desigualdade social, de tal forma que a ameaça à democracia parte do interior da própria dinâmica capitalista. Até aí tudo bem, estamos de acordo. Ele vê o único ponto luminoso da história do capitalismo entre as décadas de 30 e de 60, quando essa tendência para a desigualdade era controlada, com um Estado mais forte, Welfare State etc. Mas reconhece ainda que as condições para isso foram – e eis a trágica lição do livro – Holocausto, Segunda Guerra Mundial e crise. É como se estivesse implicitamente a sugerir que a nossa única solução viria com uma nova guerra mundial, ou algo assim!

Ele é quase que uma versão social-democrata do Peter Mandelson, aquele príncipe negro de Tony Blair que disse que na economia somos todos thatcheritas, e que tudo o que podemos fazer é intervir ao nível da distribuição, um pouco mais para a saúde, para a educação e assim por diante.

Sabem porque digo que ele é utópico? De certa forma ele não está errado. A tentativa de superação do capitalismo no século XX de facto não funcionou. O problema é que ele então acaba implicitamente generalizando isso. Piketty aceita, como um bom keynesiano, que o capitalismo é, ao fim e ao cabo, o único jogo na praça; que todas as alternativas a ele acabaram em fiasco, e que portanto temos de preservá-lo. Ele é quase que uma versão social-democrata do Peter Mandelson, aquele príncipe negro de Tony Blair que disse que na economia somos todos thatcheritas, e que tudo o que podemos fazer é intervir ao nível da distribuição, um pouco mais para a saúde, para a educação e assim por diante.

Thomas Piketty é utópico porque ele simplesmente propõe que o modo de produção permaneça o mesmo: vamos só mudar a distribuição implementando – e não há nada de muito original nessa ideia – impostos radicalmente mais altos.

Aqui começam os problemas e entra a sua utopia. Não digo que não devemos fazer isso, só insisto que fazer apenas isso não é possível. Essa é a utopia dele: que basicamente podemos ter o capitalismo de hoje, que como maquinaria permaneceria basicamente inalterado: "opa opa, quando você lucra bilhões, aqui estou eu, imposto, dê-me 80% da sua faturação". Não acho que isso seja fazível. Imagine um governo fazer isso a nível mundial. E Piketty está ciente que isso deve ser feito globalmente, porque se fizer em um só país, o capital desloca-se para outro lugar e assim por diante. O meu argumento é que se você conseguir imaginar uma organização mundial em que a medida proposta por Piketty possa efetivamente ser realizada, então os problemas já estão resolvidos. Então você já tem uma reorganização política total, um poder global que pode efetivamente controlar o capital. Ou seja: nós já vencemos!

É claro que seria ótimo ter o capitalismo de hoje, com todas as suas dinâmicas, e só mudá-lo ao nível da redistribuição – mas isso é que é utópico.

Então acho que nesse sentido Piketty faz batota: o verdadeiro problema é o de criar as condições para que a sua medida aparentemente modesta seja atualizada. E é por isso que, volto a dizer, não estou contra ele, ótimo, vamos lá cobrar 80% de imposto dos capitalistas. O que digo é que se você fosse fazer isso, logo se daria conta de que isso levaria a mudanças subsequentes. Digo que é uma verdadeira utopia – e isso é o que Hegel queria dizer com pensamento abstrato: imaginar que você pode tomar uma medida apenas e nada mais muda. É claro que seria ótimo ter o capitalismo de hoje, com todas as suas dinâmicas, e só mudá-lo ao nível da redistribuição – mas isso é que é utópico. Não se pode fazer isso pois uma mudança na redistribuição afetaria o modo de produção, e consequentemente a própria economia capitalista. Às vezes a utopia não é anti-pragmática. Às vezes ser falsamente modesto, ser um realista, é a maior utopia.

É como – e perdoem-me o paralelo esdrúxulo – um certo simpatizante nazista que disse basicamente: "Ok, Hitler está certo, a comunidade orgânica e tal, mas porque ele não se livra logo desse asqueroso antissemitismo". E houve uma forte tendência, inclusive dentre os judeus – e isso é realmente uma história curiosa –, houve uma minoria de judeus conservadores que inclusive se dirigiam a Hitler dessa maneira: "Bolas, nós concordamos consigo, unidade nacional e tal, mas por que você nos odeia tanto, queremos estar com você!" Isso é pensamento utópico. E é aqui que entra o velho conceito marxista de totalidade. Tudo muda se você abordar os fenómenos com a perspectiva da totalidade.


* Extraído da conferência "Towards a Materialist Theory of Subjectivity", no Birbeck Institute for the Humanities.  A tradução é de Artur Renzo, para o Blog da Boitempo.

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Sobre o/a autor(a)

Filósofo e psicanalista esloveno. Professor da European Graduate School e do Instituto de Sociologia da Universidade de Ljubljana.

http://www.esquerda.net/artigo/zizek-utopia-de-piketty/32896

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz