Vitória apertada de Santos mostra avanço da direita
Após três eleições em 14 meses, vitórias estreitas de presidentes da Colômbia e da Venezuela, além de decisão em segundo turno no Chile, mostram que conservadores na oposição estão vivos, firmes e fortes; considerado mais à esquerda, Juan Manuel Santos precisou dar uma virada sobre adversário de direita Oscar Zuluaga para se reeleger com mínimos 51% dos votos; para o chavista Nicolás Maduro, reeleito em abril do ano passado, fora ainda mais difícil, batendo o americanófilo Henrique Capriles por apenas 1,6% de diferença; favorita no início da corrida chilena, a socialista Michel Bachelet precisou de dois turnos acirrados para superar a conservadora Evelyn Matthei e mais sete adversários; prenúncio do que pode acontecer nas urnas de outubro no Brasil?
247 – As urnas das três últimas eleições presidenciais na América do Sul deixam claro: os candidatos com discurso conservador estão em alta no continente. Na Colômbia, que terminou de contar votos no domingo 15, Chile e Venezuela nenhum dos chamados 'direitistas' se elegeu, mas deram trabalho muito além da conta esperada para quem estava no poder ou procurou voltar depois de um mandato consagrador.
A fotografia mais recente desse fenômeno de fortalecimento das oposições é o presidente reeleito da Colômbia, Juan Manuel Santos. Reeleito agora com 51% votos, contra 45% do opositor conservador Oscar Zuluaga, ele simplesmente perdeu a disputa em primeiro turno, contrariando os prognósticos de que obteria uma vitórita tranquila. A disputa foi, na prática, um grande plebiscito, com o tema do comportamento oficial diante das Farc dominando todos os debates. Com uma proposta de aprofundar as negociações com o grupo armado, em contraposição à proposta de eliminar os guerrilheiros por meio de uma guerra na selva, Santos venceu, mas por muito pouco.
A surpresa de uma eleição mais dura do que parecia inicial já havia baixado sobre o chavista Nicolás Maduro, na Venezuela. Em abril do ano passado, no exercício do cargo de presidente, que lhe fora passado pelo então recém falecido Hugo Chávez, Maduro superou seu adversário Henrique Capriles por apenas 1,6% dos votos. O resultado foi contestado e, como se recorda, manifestações de massa tomaram as grandes cidades venezuelanas logo nos primeiros momentos da gestão de Maduro. Foi preciso acentuar a repressão policial aos protestos para atenuar a situação criada.
Para a presidente socialista Michele Bachelet, do Chile, o quadro eleitoral igualmente se mostrou bem mais adverso do que indicavam os chamados especialistas em comportamento eleitoral. Com oito adversários no primeiro turno, ela não alcançou os 50% mais um voto necessários para encerrar a disputa pela via rápida. Em dezembro, confirmou seu favoritismo sobre a candidata governista Evelyn Matthei, mas no mês passado também enfrentou os primeiros protestos estudantis nas ruas da capital Santiago. Ela governa, mas a pressão aumenta.
Não há relação direta entre os resultados eleitorais de Colômbia, Chile e Venezuela entre si, nem se pode dizer que haverá reflexos nas urnas de outubro das eleições presidenciais brasileiras. O que fica da rodada democrática nos países do continente é a lição da volatilidade do eleitorado, e do fortalecimento do desejo de mudança – ainda que este seja representado por candidatos conservadores que empunham bandeiras clássicas da direita política. Os governantes Santos e Maduro ganharam, assim como Michele voltou ao poder do qual saiu com 84% de aprovação, mas nenhum deles teve vida fácil. Ao contrário, seus opositores não apenas deram lhes uma enorme canseira, como também ganharam condições de exercer uma oposição bastante forte sobre os governos. A ver como será no Brasil.
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