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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

9.11.17

Entre teologia da mulher e ideologia de gênero. Artigo de Rita Torti

Entre teologia da mulher e ideologia de gênero. Artigo de Rita Torti

17 Fevereiro 2014

Dependendo do que se pensa sobre o masculino e o feminino, mudam o quadro e a qualidade da futura autoridade das mulheres na Igreja.

A análise é da historiadora italiana Rita Torti, especialista em estudos de gênero. É autora de Mamma, perché Dio è maschio? [Mamãe, por que Deus é homem?] (Ed. Effatà, 2013). O artigo foi publicado no sítio Viandanti, 06-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Na onda das palavras do Papa Francisco, que o mencionou em várias ocasiões, seja informais, seja oficiais, voltou à tona o tema das mulheres na Igreja, e nos últimos meses pudemos ler diversos artigos de comentário, de relançamento, de algum modo de resposta às solicitações do pontífice [1].

É preciso ampliar os espaços, diz Francisco, "para uma presença feminina mais incisiva na Igreja". Vozes de diversos posicionamentos eclesiais concordam; ou, melhor, aumentam a dose trazendo exemplos marcantes e lembrando como essa marginalidade ou ausência total, que se encontra principalmente nos lugares em que se tomam as decisões, é injustificável e têm efeitos negativos sobre a "solidez" da capacidade de evangelização e de testemunho da Igreja no mundo.

Convergindo nisso, como se segue em frente? E partindo de quais pressupostos? Porque é evidente que, dependendo do se pensa sobre o masculino e o feminino, mudam o quadro e a qualidade da futura autoridade das mulheres na Igreja.

Falar da mulher ou ouvir as mulheres?

Francisco deseja uma "teologia da mulher", e a resposta chega pronta ou, melhor, chegam duas. Evitemos – dizem diversas interessadas diretas – uma teologia "especial", da qual já tivemos experiência e que, muitas vezes com o apoio de uma mariologia modelada sobre projeções masculinas acerca do feminino, se resolve em uma modelização a-histórica e "guetizante" que achata a nossa existência sobre papéis e funções, e não respeita a sua multiformidade (a esse propósito, acrescentamos, pode-se lembrar a batalha das auditoras no Vaticano II, sempre firmemente contrárias a toda tentativa de indicar "específicos" femininos, talvez envoltos por elogios exagerados).

Ao contrário – é a segunda linha de resposta – tentemos (tentem) levar a sério a teologia feita pelas mulheres, produzida por estudiosas de todas as partes do mundo, há décadas já; aquela que trabalhou com novos paradigmas em diálogo com o desenvolvimento das epistemologias de outros campos do saber e revelou enganos, abriu perspectivas, percorreu caminhos a partir de si mesma pelo bem de todas e de todos.

Mas é justamente essa teologia das mulheres – feminista no sentido mais nobre do termo – que é ignorada pela cultura "oficial" das faculdades teológicas, não é convidada aos congressos, não é estudada nos seminários e muito menos passa na pregação e na catequese.

O papa teme a perda da feminilidade na adequação a modelos masculinos? Na realidade, notam algumas, esse não é um futuro a ser temido, mas sim um presente a ser desmantelado: justamente aquele que, deixando na sombra o patrimônio de experiências, atividades, práticas e elaborações de pensamento das mulheres cristãs, força todos e todas a seguir um único caminho, apresentado como eterno, neutro e universal, mas que na realidade não o é.

O masculino invisível

O verdadeiro ponto crítico, provavelmente é, portanto, justamente o do sujeito masculino. Como em um caso exemplar das realidades trazidas à tona por aqueles men's studies que a cultura católica geralmente demonstra não conhecer, trata-se de um assunto que permanece invisível por ser onipresente. Portanto, não é tratado, nem discutido.

Francisco diz que as mulheres têm pouco espaço, sofre quando vê que, na Igreja, o serviço – que é de homens e mulheres –, no caso das mulheres, "desliza para um papel de servidão". Mas não se diz de quem provém, a quem devem ser atribuídas a marginalização e o não reconhecimento da igual dignidade e autoridade.

Nunca se disse que foram e são os homens da Igreja, em primeiro lugar os ordenados, que fizeram essas escolhas e quiseram essa hierarquia entre pessoas batizadas com base no sexo. Certamente, pode ser difícil aceitar o fato de percorrer novamente a construção do próprio gênero, especialmente quando ele mostra aspectos tão desagradáveis; mas é evidente que nenhum problema nas relações pode ser curado, nenhum mal pequeno ou grande pode ser desfeito, se não se vai ver o quem, o como, o quando, o porquê.

As antropologias assimétricas

Se essa pesquisa sobre o masculino – também o masculino cristão no nosso caso católico – não é posta em ação, corre-se o risco de continuar retratando as mulheres como pobres vítimas de um destino impessoal, e se perpetua o mecanismo pelo qual quem obtém reconhecimento e poder sub-reptício são somente as mulheres que se adaptam ao pensamento masculino e produzem uma cópia dele.

Ao invés, o que realmente é preciso é tentar entender como chegamos a construir e alimentar antropologias assimétricas, exclusões teológicas, subserviências práticas, mesmo tendo o exemplo de um Mestre-Messias que não fazia distinções, e também apesar do testemunho das comunidades das origens, em que se labutava pelo Evangelho sem encastelamentos em papéis de gênero, e as mulheres eram tão "normalmente" importantes que seus nomes foram transmitidos até nós.

Na falta de uma interrogação desse nível, de pouco vale evocar a maior importância da mãe de Jesus com relação aos apóstolos: seja porque o patriarcado cultivou, ao mesmo tempo, sem aparentes sobressaltos de consciência e suspeitas de contradição, o amor e a devoção a Maria, de um lado, e as práticas discriminatórias e violentas contra as mulheres, de outro; seja porque muitas vezes as mulheres não se identificam com Maria, ao menos não no sentido que a antropologia teológica retomada por Francisco (e pensada por homens) leva a entender.

Alguns esquecimentos

A consciência da historicidade e da contextualidade cultural dos modos de ser e de se pensar homens e mulheres, e das relações entre os sexos, porém, é um bem raro nos setores mais oficiais da Igreja. Enquanto as famílias sofrem sem saber, ou combatendo com pouco poder, uma avalanche de mensagens sociais nada equilibradas, paritárias e dignas com relação ao masculino e ao feminino; enquanto as mulheres jovens se deparam com modelos de família (e muitas vezes expectativas masculinas) que nada têm a ver com os seus desejos, com as suas competências e com o desejo de aproveitá-las, e alguns homens jovens aspiram a uma masculinidade não ligada ao poder, para a qual não têm modelos; enquanto persiste a chantagem "se você tiver um filho, você perde o seu emprego"; e enquanto os dados sobre a violência masculina contra as mulheres "por serem mulheres" são um boletim de guerra... Enquanto acontece isso e muito mais, diversos documentos e as realidades mais credenciadas como "católicas" parecem desejar, ao invés, que as mulheres "possam não trabalhar" para cuidar da família e anseiam pelo "retorno do pai", não para que compartilhe realmente os cuidados da casa, da prole e dos idosos, mas para que traga normatividade, senso do sacrifício, capacidade de futuro e de transcendência em um mundo retratado como feminilizado e, como tal, decaído e destinado à implosão.

Consideram com suficiência e esquecimento histórico as abomináveis "reivindicações" das mulheres; se falam da violência de gênero, fazem-no sem pôr em causa os autores e colocando rigorosamente na sombra a realidade da violência doméstica.

O "gênero" faz bem à Igreja

E, acima de tudo, declaram guerra ao que parece ser o novo inimigo número um: a chamada "ideologia de gênero", não raramente divulgada com aproximação e algumas evidentes e talvez nada inocentes ingenuidades. O modo pelo qual é conduzida essa batalha, com a martelante e inarticulada referência à "natureza", corre o risco de obscurecer o fato de que – como se aprende facilmente com a história – a diferença dos sexos é, sim, imprescindível e original, mas não determina a priori características psicológicas, espirituais e de caráter; e que papéis e funções são originados a partir de interpretações socioculturais do dado físico, que têm laços estreitos com o âmbito do poder e a dimensão religiosa.

Trata-se de um "esquecimento" que ameaça voltar-se justamente contra os desejos de renovação de Francisco nesse âmbito: porque, para nos libertar dos desequilíbrios que ele, com outras e outros, denuncia, é necessária uma reformulação do sentido do masculino e do feminino, são necessários homens e mulheres diferentes do passado: é preciso, em uma palavra, que amadureça uma nova construção de gênero.

Se aquilo que vivemos até agora fosse "natureza", seria realmente inútil e estúpido perder tempo sonhando com uma Igreja diferente.

Nota:

1. Vale a pena lê-los diretamente – para captar assonâncias e dissonâncias, e sobretudo para ter uma ideia de pluralidade dos níveis envolvidos por esse assunto – ao menos as intervenções de:




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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz